Durante o verão de 1937, Simone Sauvelle fica de repente viúva e abandona Paris junto com os filhos, Irene e Dorian. Eles se mudam para uma cidadezinha no litoral da Normandia, e Simone começa a trabalhar como governanta para Lazarus Jann, um fabricante de brinquedos que mora na mansão Cravenmoore com a esposa doente. Lazarus demonstra ser um homem agradável, trata com consideração Simone e os filhos, a quem mostra os estranhos seres mecânicos que criou: objetos tão bem-feitos que parecem poder se mover por conta própria. Já Irene, fica encantada com a beleza do lugar e por Ismael, o pescador primo de Hannah, cozinheira da casa. Todos estão animados com a nova vida quando acontecimentos macabros e estranhas aparições perturbam a harmonia de Cravenmoore: uma sombra misteriosa toma conta da propriedade. Juntos, Irene e Ismael desvendam o segredo da espetacular mansão repleta de seres mecânicos e sombras do passado, enfrentam o medo e investigam as estranhas luzes que brilham através da névoa em torno do farol de uma ilha.

Da mesma forma que pintores, alguns escritores conseguem transmitir em suas obras um sentimento que vai além da história dos personagens. E Zafón é um deles. Suas frases tem um quê de melódico, algo que emociona pela forma como ele coloca cada palavra. Assim, seus livros devem ser apreciados linha a linha, como se você bebericasse um bom vinho, sem pressa, sentindo cada momento com intensidade.

AS LUZES DE SETEMBRO é seu terceiro livro e juntamente com O PRÍNCIPE DA NÉVOA e O PALÁCIO DA MEIA-NOITE, comprovam o amadurecimento de sua narrativa, que culminará na sua obra mais famosa: A SOMBRA DO VENTO. Fino, com poucas páginas, mas descritivo no essencial, é uma leitura rápida, emocionante e indispensável.

Quem leu O PRÍNCIPE DA NÉVOA (resenha aqui), vai encontrar grandes semelhanças na história de AS LUZES DE SETEMBRO, no local onde ela ocorre e nos personagens. O próprio autor confessa, em uma nota no início do livro, que era essa sua intenção, uma vez que ele não ficou totalmente satisfeito com seu primeiro livro e queria corrigir algumas coisas. Isso não é um problema, uma vez que essas semelhanças são súteis e não atrapalham em nada a leitura. Pelo contrário.

O livro se inicia com uma carta de Ismael para Irene e termina com uma carta de resposta enviada 10 anos depois. O motivo é explicado – embora eu não goste ou concorde – , e você não precisa ficar se remoendo por achar que o casal principal não vai ficar junto, que vai morrer, ou sei lá… Calminha, vou adiantar o motivo desses 10 anos para que não fique me xingando.

O motivo é o mesmo que permeia a maioria dos livros de Zafón. Uma sombra, um medo que fica sempre ao redor e que nunca interfere diretamente nas histórias de seus livros, mas que Zafón faz questão de deixar claro que ele existia, que era terrível e que era a razão da constante tristeza que permeava as entrelinhas de cada parágrafo: a Segunda Guerra Mundial. Essa é a verdadeira sombra que ele nunca deixa de mencionar e o motivo de seus finais melancólicos.

Voltando à história, Irene e Ismael têm química, e o romance dos dois convence. A descrição dos momentos em que estão juntos, na confiança que um conquista do outro, na forma como se salvam de um perigo de morte e depois enfrentam o inimigo dentro da mansão, é muito bem narrada e dentro da realizada do que dois jovens poderiam fazer.

Lazarus é misterioso, inteligente, elegante, cordial e triste, tudo na mesma dose. Ele carrega o peso de um passado doloroso e de um arrependimento maior. E Simone, a mãe de Irene, se encaixa perfeitamente no espaço vago para sua recuperação. Devido a isso, o inimigo resolve aparecer e reclamar seu lugar.

Memórias marcadas por escolhas erradas, um casal sem chance de se amar, o homem misterioso detentor de poderes, um mostro negro, autômatos que ganham vida, uma mansão gigantesca e cheia de sombras…

Uma dica: não leia a sinopse deste livro. Lá no primeiro parágrafo, onde eu coloquei essa sinopse, apaguei algumas informações que são spoilers enormes. Por isso, por favor, quando comprar o livro (e você vai, né?), ignore a sinopse, nem chegue perto, arranque se possível (brincadeira, não estrague seu livro. Só não leia mesmo!).


AUTOR: Carlos Ruiz ZÁFON
TRADUÇÃO: Eliana AGUIAR
EDITORA: Suma
PUBLICAÇÃO: 2014
PÁGINAS: 232


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