Um dos filmes mais aguardados de 2019 finalmente chegou, IT: CAPÍTULO 2 vem para encerrar o ciclo do “clube dos otários“. Vinte e sete anos depois dos eventos do primeiro filme, o grupo retorna para a cidade para dar um fim ao estranho palhaço que voltou a atormentar a todos. Será que o filme supera o anterior? Vamos descobrir!

O palhaço Pennywise está de volta atormentando Darry, a macabra cidade no interior dos Estados Unidos. Todos os membros do “clube dos otários” foram embora, menos Mike, que permaneceu em uma contínua vigia aguardando a volta do palhaço. Diferente de todos os outros, Mike nunca esqueceu do que eles viveram na infância, quando enfrentaram o palhaço pela primeira vez. Agora que os assassinatos voltaram a acontecer, Mike precisa reunir todo o grupo na cidade de Darry para cumprirem a promessa de que se o palhaço retornasse, eles voltariam também. E com muita relutância, todos aceitam voltar, e agora precisam ir em busca de artefatos antigos da infância, cada integrante do grupo precisa encontrar mais uma vez a sua ligação perdida com a cidade, ao mesmo tempo em que precisam relembrar tudo o que viveram no passado, para poder dar um fim nesse palhaço maldito.

O filme é uma adaptação da obra de Stephen King e sobre as semelhanças, eu não posso opinar, porque não li o livro original, porém o roteiro aqui apresentado está longe de ser o melhor que eles poderiam ter feito. Começando pelo fato de que o grupo de amigos agora está disperso, cada um foi para um lado diferente e perderam contato. Aí o filme precisa de mais ou menos uma hora para juntar todos mais uma vez e como o filme faz isso? Praticamente seguindo uma fórmula. Mostrar como cada personagem está, suas profissões, onde moram e qual foi o desfecho de cada um. É uma sequência de cenas praticamente iguais para cada personagem, a gente não vê no filme nenhuma criatividade no ato de apresentar cada um deles. E quando eles retornam, temos aquela mesma dinâmica de amigos que se reencontram, tudo muito básico. As coisas melhoram um pouco quando percebemos que eles realmente não se lembram das coisas que viveram na cidade, que esse esquecimento foi realmente algo sobrenatural. O filme ganha muita força quando aborda os personagens redescobrindo o que viveram. Ao mesmo tempo em que as cenas são deliciosas para os fãs, o filme faz uma bonita homenagem ao capítulo anterior.

Quando os personagens voltam para a cidade, eles precisam ir à caça de relíquias, algo que foi importante durante a saga que culminou na amizade deles na luta contra o palhaço Pennywise, e nisso, novamente, temos uma incômoda repetição de sequências absolutamente iguais. O personagem X volta num lugar que está cheio de memorias, ele acha algo e ao mesmo tempo é atacado por alguma coisa. Literalmente isso se repete para cada um deles, cada um tendo o seu momento e no final fica muito enjoativo, o público já sabe o que vai acontecer, a surpresa passa longe. Aliás, surpresas realmente não temos, todos os sustos são a base de intensos “jumpscares” que são usados numa frequência tão grande, que depois dos 15 sustos, os outros 95 quase se tornam comédia.

A comédia acaba se tornando um problema também graças ao excesso de piadas que quebram a tensão do filme. As cenas de arrepiar ficaram no primeiro filme, pois aqui a necessidade de fazer piada com as coisas mais bobas possíveis parece ser mais importante. E não podemos esquecer que esse filme é o último da saga, logo precisamos de explicações, de um desfecho. Temos tudo, porém prepare-se para coisas bem bizarras. A mitologia envolvendo o palhaço, esse demônio que cerca a cidade, é muito mirabolante e facilmente confunde o espectador, nada fica muito claro, e essa extensa explicação sobre a origem de Pennywise, caminha para chegar a lugar nenhum. Facilmente as informações mais esquecíveis e imemoráveis do filme. E não deveria ser assim, né! Deveria ser o ápice do filme, mas aqui eles ficam devendo.

Sobre os personagens, infelizmente também temos problemas, o desenvolvimento de quase todos é bem limitado, o que é de se estranhar, afinal o filme tem três horas de duração, e até agora eu me pergunto em que usaram esse tempo na projeção, tanta coisa para fazer e eles não fazem. É explicitamente o oposto do Capítulo 1, onde todos os personagens eram desenvolvidos com empenho, a tensão era grande e o mistério maior ainda. Desta vez, o filme se sustenta na nostalgia, quando a produção traz o elenco infantil de novo, tudo fica perfeito e o público é elevado aos céus. As interações do elenco jovem são uma maravilha e todos estão mais entrosados do que nunca, carisma explodindo.

O mesmo não pode ser dito do elenco adulto, que é todo composto de excelentes artistas, porém seguindo um roteiro que não tem forças para sustentar o talento de todos. O único que é exceção é o ator Bill Hader, que vive a versão adulta de Richie, a sua versão jovem é vivida pelo ator Finn Wolfhard, aquele de STRANGER THINGS, lembra? Bill transforma a versão adulta desse personagem em algo inimaginável. O personagem já tinha personalidade forte desde criança, o trabalho aqui é inverso, abrir essa armadura em que o personagem vivia, e ao fazer isso, Bill Hader entrega um desempenho de cair o queixo, hilário do início ao fim, e com um drama interno muito forte. Bate numa tecla muito necessária e isso é um assunto super importante para se abordar num filme como esse, que todos podem ter acesso facilmente. Melhor desempenho e também a melhor coisa de toda a produção, roubou o filme todo para si.

James McAvoy e Jessica Chaistain entregam desempenhos esforçados, porque os atores sozinhos são extraordinários. O roteiro não ajuda ambos e nem quer desenvolver essas versões adultas que estamos vendo. Mike é vivido pelo ator Isaiah Mustafa e no papel ele é o protagonista do filme, aquele que liga novamente todos do grupo, porém novamente o roteiro entrega umas falas péssimas para o ator, que no final entrega um desempenho super chato e apático. James Ransone vive a versão adulta de Eddie, aquele menino que ficava tomando remédios toda a hora, lembra? Então, a semelhança que o ator tem com o ator jovem é de outro mundo, de longe a seleção de elenco mais que perfeita, usando o argumento de semelhança e no desempenho, o ator também se sai muito bem, entregando momentos maravilhosos, focados e carismáticos. Andy Bean vive a versão adulta de Stanley, o menino judeu, e o ator também tem uma semelhança absurda com sua versão criança, mas infelizmente o espaço dele é muito pequeno na trama, mas quando aparece, entrega muita emoção e uma pesada carga dramática no filme. E por último temos Jay Ryan, que vive a versão adulta do Ben, o menino estudioso, e aqui no filme ele entrega um desempenho que condiz muito com o que o ator jovem fez com perfeição no filme anterior. Ele é muito doce, singelo e dedicado, nunca vira as costas para o perigo.

O capítulo final de IT – A COISA é inferior em absolutamente tudo se comparado com o filme anterior, lançado em 2017. A fotografia é bem básica, a direção perdida e o roteiro extremamente mal estruturado. O desfecho propriamente dito é bem capenga e só consegue ser impactante porque os atores dão tudo de si, entregando muita emoção, me pegou de surpresa e eu quis chorar muito no final, é uma despedida dolorosa, acabei me apegando demais com esses personagens e é triste porque eles mereciam um final magistral, mas isso eles ficaram devendo pra gente. Poderia ter meia a hora a menos, é desnecessariamente longo, porém não chega a incomodar e é fácil se pegar encantado com os personagens, aí fica fácil a gente passar pano para todas as coisas fracas existentes no filme.

Poderia ser um dos maiores e melhores filmes do ano, mas deixou a oportunidade escapar. Ainda continua sendo um filme bem legal, mas queríamos uma obra perfeita, impecável e maravilhosa, como tivemos no filme anterior.


AVALIAÇAO:


DIREÇAO: Andy MUSCHIETTI
DISTRIBUIÇAO: Warner
DURAÇAO: 2 horas e 55 minutos
ELENCO: Jessica CHASTAIN, James MCAVOY, Bill SKARSGARD, Bill HADER, Isaiah MUSTAFA, James RASONE e Jay RYAN