Em 1977, a população da pequena cidade mineira de Blyton Hills ficou apreensiva devido a uma série de acontecimentos bizarros na Mansão Deboën, que envolvem estranhas criaturas e possíveis fantasmas. Andy e Kerri, duas garotas, e Nate e Peter, dois garotos, mais Sean, o esperto cachorro de Kerri, são conhecidos como o Clube dos Detetives de Blyton, devido a pequenos casos que resolvem com a colaboração do xerife, e resolvem ir até a pequena ilha no meio do lago nos arredores da cidade, onde fica a mansão Deboën, para descobrir o que está acontecendo. E conseguem, uma vez que prendem um criminoso fantasiado de monstro. Os quatro ficam ainda mais famosos na cidade, aparecem até na primeira página do jornal, mas suas vidas começa a mudar depois disso.

Treze anos depois, Peter, que havia se tornado um ator de Hollywood, está morto devido a uma overdose; Andy é uma ex-fuzileira, ex-presidiária, que não consegue se ajustar a lugar nenhum; Kerri é uma bióloga que se afunda nas bebidas; e Nate se interna voluntariamente em clínicas psiquiátricas, porque passa os dias conversando com o fantasma de Peter. Tudo isso porque eles nunca conseguiram deixar para trás o que realmente aconteceu na mansão Deboën. Apesar de terem prendido o criminoso fantasiado, naquele dia, na ilha, eles ouviram, viram e foram perseguidos por outras coisas, coisas que não poderiam existir e que, apesar de terem ficado para trás, ainda estavam na mansão, apenas esperando a volta dos quatro. Assim, como uma última tentativa de salvar a si mesma e aos amigos, Andy resolve reunir a turma, para retornar a Blyton Hills, para a mansão Deboën, para enfrentarem seus medos e descobrirem o que realmente reside naquela ilha.

Andy é uma mulher latina, forte de físico e de personalidade, que sempre teve uma paixão reprimida por Kerri. Ela é atrevida, valente, fiel, mas sempre ficou na dúvida sobre o que aconteceu naquele dia, treze anos atrás, quando ficou escondida com Kerri em uma parte da mansão, enquanto algo as perseguia e arranhava as paredes e as portas, tentando encontrá-las. Ela sabe que a única forma de vencer o trauma é voltar, mas também vê nisso uma oportunidade de se declarar para Kerri e assumir sua paixão.

Kerri é sensível, uma bióloga acostumada com provas científicas, e não reconhece as estranhezas que presenciou com Andy na mansão. Essa insistência em negar o que viu, algo que não poderia existir, não a deixa dormir, a mantém sempre com medo, e é na bebida que ela encontra um alento. Sua única companhia é Tim, seu cachorro, descendente de Sean. Isso até Andy voltar e a convencer a procurar por Nate, para poderem finalmente encerrar o passado.

Nate não aceita que o fantasma de Peter é real. Ele tenta se convencer de que é uma forma de sua psique resolver os sentimentos de culpa que ele sente pelo que aconteceu treze anos atrás e pelo que realmente causou a morte de Peter. Nate nunca revelou a Andy e Kerri, mas naquele dia, na mansão, quando eles se separaram, Nate teve acesso a um determinado livro, na biblioteca, e abriu esse livro, e leu uma parte desse livro em voz alta, e quando ele fez isso, algo aconteceu, algo passou a fazer parte da realidade. E ele se culpa por ter sido tão idiota. Assim, quando Andy, Kerri e Tim aparecem no hospital onde ele se internou, para que voltem à mansão Deboën, ele aceita, porque quer se ver livre do fantasma e que se redimir de seus erros.

Andy, Kerri, Nate, Peter e Tim são personagens simpáticos, apaixonantes, que me conquistaram rapidamente. Principalmente porque eles parecem reais, porque são imperfeitos, todos têm suas culpas, seus defeitos, não são heróis perfeitos que enfrentam o perigo sem pensar duas vezes. Eles se comportam da mesma forma que pessoas reais se comportam, com insegurança, com medo, com incertezas sobre o que devem ou não fazer, se estão certos ou não por voltarem à cidade, à mansão.

Os três discutem (apenas Nate vê Peter, e as meninas não sabem de sua existência, e Tim só late mesmo), discordam dos planos, mas sempre conseguem chegar a um consenso, mesmo que alguém fique contrariado, e firmam o tratado de nunca voltar a se separarem dentro da mansão, não importa o que aconteça, sempre devem ficar juntos. Essa dinâmica rende ótimos momentos, diálogos excelentes, e momentos de grande tensão. Aliás, toda a história é recheada de momentos de tensão, com perseguições e surpresas que obrigaram a uma leitura contínua dos capítulos.

Um destaque é o relacionamento de Andy e Kerri. Kerri é heterossexual, então fica difícil para ela saber responder ao que Andy sente por ela. Mesmo assim, a amizade das duas é trabalhada com respeito, sem estereótipos ou clichês, e é muito prazeroso acompanhar os pequenos gestos e atitudes de Andy para conquistas Kerri. As duas são excelentes, apaixonantes, e as conversas que Nate mantém com Peter sobre elas são muito espirituosas e engraçadas.

O CASO DA MANSÃO DEBOËN é uma aventura deliciosa que mistura monstros, fantasmas, necromantes, zumbis, criminosos, tudo muito bem dosado, inserido na trama de forma natural, para que o leitor compre a trama sem questionar. Na sinopse existe a menção à turma do Scooby-Doo, por serem jovens na companhia de um cachorro à caça de fantasmas e monstros, mas a semelhança fica nessa descrição. Andy, Kerri, Nate, Peter e Tim são totalmente diferentes da gangue Scooby, com problemas atuais, dificuldades de relacionamentos, inseguranças emocionais e sentimentais, representatividade, entre muitas outras características que os transformam em personagens únicos e muito criativos.

Espero, sinceramente, que Edgar Cantero lance outras histórias do Clube dos Detetives de Blyton Hills.


AVALIAÇAO:


AUTOR: Edgar CANTERO é escritor e cartunista. Seu estilo literário une humor certeiro a cenas de ação, casas mal-assombradas e diversas referências pop. O caso da Mansão Deboën é seu primeiro título lançado no Brasil.
TRADUÇAO: Giu ALONSO
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 352


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