Samuel Beckett disse: “…um dia nascemos, um dia morremos, o mesmo dia, o mesmo segundo, será que isso não lhe basta? (…) O nascimento ocorre com um pé na cova, a luz brilha um instante, e depois surge novamente a noite.”, e é essa frase que inicia o prefácio de O DIA DE JULIO, um dos quadrinhos mais pesados que eu li em toda a minha vida. A história se inicia com o nascimento de Julio, e por exatas cem páginas, iremos acompanhar sua vida até sua morte, aos cem anos de idade. E para que seja possível a total compreensão de tudo o que acontece, logo após o prefácio, a edição traz uma página, que reproduzo abaixo, com todos os personagens em suas versões temporais, ou seja, conforme eles eram na infância, até chegarem na velhice. E durante a leitura, isso se mostrou indispensável, porque em muitas páginas, acontece uma passagem de tempo de anos, décadas, apenas de uma quadrinho para o outro, e todos os personagens mudam fisicamente.

Aliás, essa capacidade narrativa de avanço no tempo entre quadrinhos é excepcional, ao mesmo tempo em que cria no leitor um enorme sentimento de pesar, de conscientização de que o tempo realmente é efêmero, que a vida passa rápido demais, e que só damos conta disso, quando ela está para terminar. E junto dessa conscientização, vem um outro sentimento, o de perda. Não apenas pelas pessoas que ficam pelo caminho, mas pelo desperdício de chances, por decisões erradas, pela covardia de não tomar atitudes e decisões que poderiam trazer felicidade, ou por atitudes e decisões que trouxeram infelicidades e tragédias, que poderiam ter sido evitadas.

Mas o peso da obra de Gilbert Hernandez não se detém apenas na crueldade do tempo, mas no que acontece aos muitos personagens que enchem os quadrinhos. É dramático ver, logo nas primeiras páginas, o pai de Julio fazer uma viagem, cair em uma ribanceira, contrair um verme da lama, que faz seus olhos sangrarem, que come seus órgãos internos e o enlouquece até à morte. Ou acompanhar, durante décadas, Juan, o tio de Julio, abusar de crianças da família sem nunca alguém conseguir provar. Ou quando um desmoronamento de terra, causada pelas chuvas, mata vários integrantes da família quando eles tentavam salvar uma criança (não foi dar nomes para não estragar a surpresa). Ou a tristeza de Araceli, uma das amigas de Julio, que presencia todas as guerras dos últimos cem anos ao vivo; Ou mesmo o amor de Sofia, a irmã de Julio, tem por um garoto da casa vizinha, que vai para a Primeira Guerra Mundial e volta sem pernas e braços, desfigurado e louco, mas ela afirma que ele não é a mesma pessoa, que é um engano.

E da mesma forma, é triste perceber que Julio não tem coragem de assumir sua homossexualidade e nem sua paixão por Tommy, seu amigo desde a infância, e seu desespero e choro quando percebe que é tarde demais e que jamais terá a chance de consertar a covardia, é uma das partes mais dolorosas da obra, que torna difícil não soltar algumas lágrimas. Principalmente porque percebemos que nós deixamos muitas coisas sem resolver por covardia, e que só criamos coragem, quando não adianta mais ter coragem.

O DIA DE JULIO é preenchido por momentos desses, por tragédias, por muita tristeza, por cem anos de más decisões para a maioria dos personagens e seus descendentes. Entretanto, não considero a HQ pessimista, ou excessivamente dramática, mas um tapa na cara para fazer despertar, para mostrar que nossa felicidade, muitas vezes, depende apenas da coragem para sermos quem somos, para enfrentarmos nossos medos e tomarmos atitudes, para sermos ativos e não apenas passivos.

Essa leveza no tratamento do drama é um reflexo dos traços dos desenhos e na velocidade em que tudo acontece. Os desenhos são simples, sem cores ou tonalidades, apenas com o necessário para a percepção dos personagens e do local; e a velocidade da ação não deixa o leitor ficar preso a um acontecimento, tudo é muito rápido, tudo avança muito rápido, não dá tempo de ficar preso ao sentimento de um único fato. Quando se chega ao final da leitura, o que se tem é um sentimento amplo do conjunto de tudo o que se leu. Mas admito que fica uma tristeza pela constatação de uma vida de consequências e não de ações.

O DIA DE JULIO é um quadrinho intenso, profundo, dramático, que demonstra como cem anos podem não ser suficientes para se ter uma vida plena, se você não souber aproveitar sua vida e tomar decisões baseadas na covardia de enfrentar seus problemas ou quem cria seus problemas. É uma mensagem para o leitor levantar a cabeça e lutar pelo que deseja, antes que seja tarde demais.

Quer a chance de ler essa pequena obra prima? Então, para ganhar um exemplar de O DIA DE JULIO, basta seguir as regras abaixo!

REGRAS

UM: Preencher o formulário de participaçăo, sendo que existem entradas obrigatórias, que valem um ponto cada uma, entradas opcionais, que valem cinco pontos cada uma, e uma entrada diária opcional, que vale cinco pontos a cada dia que voce a fizer. Quantos mais pontos voce somar, mais chances tem de ser sorteado;

DOIS: Deixar um comentário neste post;

TRĘS: O ganhador precisa ter endereço no Brasil para receber o premio;

QUATRO: Após 13/07/2019, será feito o sorteio pelo formulário de participaçao;

CINCO: O premio será enviado em até 30 dias úteis, após divulgado o resultado. O blog nao se responsabiliza por extravios, danos ou roubos do premio enviado;

SEIS: O ganhador(a) terá 48 horas para responder ao e-mail de solicitaçao do endereço. Caso năo responda nesse prazo, será desclassificado(a) e um novo nome será sorteado;

SETE: O blog GRAMATURA ALTA se reserva o direito de dirimir questoes năo previstas nestas regras.

RESULTADO

Jeová Fernandes (@jeovaf_)


AVALIAÇAO:


AUTOR: Gilbert HERNANDEZ nasceu em Oxnard, California, em 1957. É criador, ao lado dos irmãos Jaime e Mario, da revista Love and Rockets, a mais influente publicação de quadrinhos alternativos da década de 1980, onde publicou originalmente sua série de HQS sobre a idílica cidade latina Palomar. Essas histórias estão reunidas nos livros SOPA DE LÁGRIMAS (Veneta, 2016) e DIASTROFISMO HUMANO (Veneta, 2017).
ILUSTRADOR: Gilbert Hernandez
TRADUÇAO: Jim ANOTSU
EDITORA: Nemo
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 114


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