Se você leu O CHAMADO DO CUCO, a primeira coisa que você poderá notar em O BICHO-DA-SEDA, é a confiança maior de Rowling na composição do mistério que faz a trama andar. Neste segundo volume, Owen Quine é um escritor medíocre que desapareceu sem avisar. Sua esposa, Leonora, procura Cormoran Strike em busca de ajuda para encontrá-lo. A única pista é o manuscrito do que seria o próximo livro de Owen, cujo título é Bombyx Mori, o nome científico do bicho-da-seda. Nele, o escritor faz duras críticas a editores e escritores com quem se relacionou, o que provoca a ira dos envolvidos. Quando Owen aparece morto, assassinado de forma cruel, com suas vísceras à mostra, como em um ritual descrito no manuscrito, as suspeitas caem exatamente sobre quem ele menciona em Bombyx Mori, mas principalmente sobre sua esposa, para quem a maioria das pistas apontam.
Por se tratar do assassinato de um escritor que faz críticas ao meio literário, é natural pensar que Rowling também desejou fazer o mesmo com O BICHO-DA-SEDA. Na verdade, muito do que é mencionado na história é mais ou menos de conhecimento geral, como a inveja que alguns autores sentem de quem faz sucesso; ou de quem lança um livro com uma história muito boa, coisa que Rowling deve ter sentido na pele; ou de editores que preterem este ou aquele autor por receberem ou terem algum ganho adicional; ou mesmo por críticos que são maldosos nas análises que realizam, apenas para chamarem a atenção. E até mesmo de autores que chegam a um patamar de fama que os transforma em pessoas arrogantes, convencidas, com o pensamento de que são superiores.
Embora a principal suspeita da polícia seja Leonora, a esposa de Owen, Strike e Robin não acreditam nisso e desconfiam das pessoas que estão no manuscrito. São muitos os suspeitos, muitas as pistas, e essa diversidade demonstra a maior confiança de Rowling na construção da narrativa e na composição do mistério. Inclusive, a forma como Owen é morto, chega a ser curiosa, porque também pode ser considerada uma crítica de como alguns escritores gostariam de trucidar a concorrência. Pode parecer exagerado, e realmente é, mas para quem está nesse meio, sabe que esse sentimento existe.
Apesar dessa melhor construção do crime, o grande atrativo de O BICHO-DA-SEDA é o relacionamento de Cormoran e Robin. Alguns detalhes do passado de Strike são revelados, mas o passado de Robin continua nebuloso. Sabemos que ela passou por algo terrível e que Matthew ficou a seu lado nesse período. Mas também vemos que Matthew usa isso para manter Robin presa a ele emocionalmente. Ele continua com suas cobranças para que ela arrume um emprego que pague mais, independentemente se ela gosta ou não, e continua com sua implicância contra Cormoran.
O relacionamento abusivo fica mais evidente, principalmente quando a mãe de Matthew morre e ele precisa viajar para o funeral. Robin não o acompanha de início, promete que irá ter com ele mais tarde, a tempo de ajudar. Ela não consegue se desligar do caso, a felicidade que ela sente por fazer parte desse sonho de ser uma detetive é o que torna seus dias completos. Ela não quer perder isso, mas não sabe como agir, ela tem medo de perder Matthew, sem se dar conta de que ele não é quem ela pensa, que ele não se importa com o que ela deseja.
Rowling também sabe bem construir a relação de Cormoran com Robin. O leitor torce, naturalmente, que eles sintam algo, que eles tenham um relacionamento, mas em momento algum da história isso é sequer insinuado, fica apenas no desejo do leitor. Cormoran sente um grande respeito e uma enorme admiração por Robin, ele se preocupa com ela o tempo todo, e fica fácil ver como ele começa a depender dela para conseguir prosseguir na investigação. Isso é demonstrado por Rowling em pequenos gestos, como quando ele tem um pesadelo e disca sem querer para o número do celular de Robin. Ou quando ela fica triste por ele mencionar que tem vontade de contratar mais um detetive para o ajudar, por causa do aumento de clientes, porque ela tinha o desejo de ser ela. Cormoran explica que aquele trabalho é de tempo integral, que ele não quer acabar com o relacionamento de Robin com Matthew, porque sabe que o noivo dela odeia o que ela faz. Isso transmite um respeito enorme que Rowling tem pelos personagens e uma calma britânica na construção de tudo o que ainda está por acontecer.
O BICHO-DA-SEDA tem um crime mais elaborado, ao mesmo tempo que critica de forma direta a convivência de autores e editores dentro do mercado de livros, mas sem minimizar ou relegar para segundo plano o relacionamento dos dois personagens principais. Ao contrário, há um desenvolvimento maior e o vislumbre de como as coisas poderão piorar para Robin nos próximos livros. E isso só faz o leitor se apaixonar ainda mais por ela e por Strike.
AVALIAÇAO:
AUTORA: Robert GALBRAITH é o pseudônimo da escritora J.K. Rowling, autora de Morte súbita, O Chamado do Cuco e da série Harry Potter. A escritora britânica nasceu na cidade de Yate, nas proximidades de Bristol, na Inglaterra, em 31 de julho de 1965. Ela se tornaria célebre pela criação do bruxinho Harry Potter, que lhe renderia sete volumes de uma série premiada e aceita quase unanimemente pela crítica e pelo público.
TRADUÇAO: Ryta VINAGRE
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇAO: 2014
PÁGINAS: 464
COMPRAR: Amazon
Realmente ouve uma evolução na dinâmica desse livro em relação a O Chamado do Cuco, se este poderia ser considerado clichê, em Bicho da Seda, temos um crime bárbaro, com uma rede intricada de suspeitos e motivações.
Além disso, é muito bom saber que apesar de tudo, Robin está conseguindo se descobrir como detetive, apesar de sua vida pessoal estar um completo caos
Acredito que esta série seja a série do momento! Tem se falado muito a respeito destes livros, ainda mais sobre o último livro lançado e pelo que ando lendo por aí, muitos leitores que não curtiam o gênero, estão se jogando e saindo bem animadinhos.
Tenho comigo que isso tem muito a ver com o nome da autora, mesmo neste pseudônimo. Ela é querida demais e pinta esta curiosidade em saber se ela é boa em outras vertentes da literatura e sim, ela é!
Mesmo sem ter lido o primeiro livro, dá para perceber nitidamente que a autora criou algo mais bem elaborado. Talvez o “medo” do que iriam pensar sobre o primeiro livro tenha diminuído e com isso, ela se aventurou mais em todos os personagens.
A evolução não somente do enredo, do crime em si, mas neste desvendar o passado pouco a pouco.
Com certeza, quero demais conhecer este lado da autora!
Beijo
Nunca li nada da Rowling, nem HP, e o que me conquistou nestes livros, foram os personagens.
Fiquei mais curiosa com essa trama do que com O CHAMADO DE CUCO, pelo suspense policial e a investigação do crime, mas claro que os personagens ainda me chamaram mais atenção.
Lendo as resenhas também pensei num relacionamento entre Robin e Cormoran, mas fico grata por isso não ser de verdade e acabar na mesma história de sempre: um casal inusitado que se conheceram pelo acaso. A preocupação e o cuidado que Cormoran tem por Robin parece ser lindo!
Felizmente, eles não têm nenhum relacionamento, além da amizade
Olá! Deu para perceber que a história só melhora, o que é ótimo para nós leitores. Normalmente quando eu começo um livro, não tem como não “shippar” aquele casal que eu gostei tanto, mesmo sendo quase nulas as chances (sempre há aquela esperança, ainda mais para nós românticas incuráveis #culpada), voltando a história, vai ser interessante acompanhar esse desenrolar e mesmo sabendo que se trata de uma ficção, é quase impossível não comparar com o que acontece ao nosso redor na vida real.
Verdade, tem muito do nosso real na história.
Oi, Carl
Em toda profissão sempre tem aqueles que chega ao sucesso e os outros que crítica e sente inveja, querem estar no patamar mais alto sempre.
Claro que Rowling sentiu na pele e passou esse sentimento nesse livro.
Nossa que maneira bizarra de morrer igual esta no manuscrito do autor, deve ser uma leitura emocionante.
Quem nunca torceu para seus personagens preferidos virar um casal.
Estou mega curiosa para ler, beijos.
Eu não torço para eles virarem um casal, acho que funcionam melhor como amigos.