MATADOURO-CINCO é um clássico da ficção científica, tendo sido escrito em 1969 por Kurt Vonnegut. A obra completou 50 anos recentemente e recebeu essa edição de tirar o fôlego da editora Intrínseca, incluindo capa dura, corte branco, ilustrações e nova tradução com ótima qualidade.
O livro aborda o final da Segunda Guerra Mundial, envolvendo o massacre da cidade de Dresden, um evento pouco conhecido que provocou muitas mortes e total destruição do lugar. A história é contada por um ex-soldado que narra a vida de Billy Pilgrim, prisioneiro de guerra do Matadouro-5 e sobrevivente ao massacre.
A cidade de Dresden foi completamente devastada: o número de mortos é equivalente ao da bomba atômica de Hiroshima, e boa parte das casas e construções da cidade, inclusive a igreja, ficaram em ruínas. No entanto, essas cenas de destruição estão ausentes na literatura alemã…
Ao longa da leitura, descobrimos como era a vida de Billy antes da guerra, sendo um optometrista rico e casado que levava uma vida tranquila, até o momento em que foi para a batalha e se deparou com tanta morte e miséria. Após sofrer um acidente e ter um traumatismo crânio-encefálico, ele começa a fazer viagens no tempo, podendo ver seu próprio futuro ou passado e depois voltar para o presente novamente.
Quando Pilgrim retorna para casa, afirma ter sido abduzido por alienígenas do planeta Tralfamadore e sido mantido em cativeiro por seres estudiosos do espaço-tempo e especialistas em quarta dimensão que ensinaram a ele sobre as quatro dimensões do tempo e sobre a morte.
No entanto, tudo isso ocorre somente na mente do protagonistas, o que pode ser visto como uma válvula de escape encontrada para fugir dos momentos trágicos da guerra que ele era obrigado a vivenciar, provocando um distúrbio de estresse pós-traumático. E, ao longo da narrativa, nos deparamos inúmeras vezes com a frase: “É assim mesmo!“, dita por diferentes pessoas, indicando a forma como os soldados precisam se resignar aos conflitos para se protegerem.
É tão interessante o envolvimento de fatores psicológicos na história, porque nos permite uma visão bastante antagônica da linguagem simplista do autor; a guerra é algo muito mais profundo que afeta o ser humano de forma indescritível. Apesar de tanta indiferença dos envolvidos, há sentimentos muito mais profundos, como a saudade de casa, dos filhos, esposas, pais e mães, medos… Eles supostamente se acomodam a todo tipo de extermínio como mecanismo de defesa para suas mentes fragilizadas.
Rosewater, por exemplo, abateu a tiros um bombeiro de 14 anos por confundi-lo com um soldado alemão. É assim mesmo. E Billy tinha testemunhado o maior massacre da história europeia, o bombardeio incendiário de Dresden. É assim mesmo. Ambos estavam tentando reinventar a si mesmos e ao seu universo.
O livro tem um enredo bastante singular que vai e volta no tempo constantemente, indo ora para o passado, ora para o presente e ora para o futuro. A narrativa não é nada linear, o que pode ser um pouco confuso às vezes, mas evidencia as consequências que a guerra teve na vida de soldados que sobreviveram aos eventos traumáticos sucedidos.
É uma história pesada sobre a grande guerra, em que atrocidades se desenrolam na vida dos personagens, mas eles veem tudo com conformismo por terem se habituado a toda aquela miséria, sempre pensando: “É assim mesmo!”.
Assim, isso permite ao leitor incontáveis interpretações e reflexões sobre essas tragédias.
Apesar dos capítulos longos, a leitura é rápida, sendo dividida em partes que se referem a períodos e lugares diferentes. Não achei confuso, porque o escritor divide bem os espaços aos quais se refere em cada trecho, mas é necessário ter um ritmo bom de leitura a fim de não perder os detalhes lidos anteriormente.
Confesso que tinha altas expectativas para MATADOURO-CINCO, no entanto foi uma grande decepção me deparar com trechos tão desconexos e aleatórios em algumas partes; além disso, o protagonista Billy Pilgrim não me agradou nem um pouco. Por outro lado, fiquei encantada com a inclusão de aspectos psicológicos ao longo da narrativa e a exposição de momentos tão chocantes da Segunda Guerra. É importante que quem se sentir interessado vivencie essa experiência de leitura e construa sua própria opinião acerca do texto.
AVALIAÇAO:
AUTOR: Kurt VONNEGUT JR. foi um escritor estadunidense de ascendência germânica. Concluída a formação em Química, alistou-se no exército e combateu na Segunda Guerra Mundial. Feito prisioneiro, presenciou o bombardeamento de Dresden. Após a Guerra, formou-se em Antropologia. É autor de vários romances, ensaios e peças de teatro. Sua última obra foi Look at the Birdie de 2009, livro póstumo com uma coleção de contos e ensaios. Vonnegut morreu em 11 de abril de 2007, semanas após uma queda em sua casa em Manhattan que resultou em graves complicações cerebrais.
TRADUÇAO: Daniel PELLIZZARI
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 288
COMPRAR: Amazon
Eu acho incrível como a segunda guerra continua, por mais que o tempo passe, nos ensinando tanto os limites da humanidade. Estou lendo Anne Frank e… Nossa… Como deixaram as coisas chegarem àquele ponto… Tenho medo que a humanidade não tenha aprendido com aquele erro e o repita…
De todo modo, uma pena que o livro criou expectativas que não cumpriu. O personagem principal é primordial para causar uma conexão com o todo, é bem ruim quando a gente não se apega a ele.
Oi, Dandara. Com certeza essa guerra tem impactos ainda hoje, infelizmente, o ser humano ainda tem essa maldade em si. Ainda não li “O diário de Anne Frank”, mas está na minha (infinita) lista de livros para ler hahaha. Beijos.
Matadouro Cinco é bem diferente e fora da curva não é?
Fala sobre a Segunda Guerra e ao mesmo tempo não fala.
É chocante de embrulhar o estômago porém possui uma realidade cruel.
Confesso que ficção científica mais Segunda Guerra não são minha primeira escolha.
Oi, Michelle. Com certeza! Eu nunca esperava ler o que li nele… Mas é bem interessante. Beijos.
Sara!
Uma pena o protagonista não ser tão envolvente e alguns trechos sejam esconexos…
Ainda assim, ver um relato, ou mais um relato sobre a guerra, é sempre uma leitura de aprendizado e conhecimento. Acredito que irei dar uma chance para leitura.
cheirinhos
Rudy
Oi, Rudynalva. É um livro interessante, espero que curta a leitura. Beijos.
Acredito que haja livros sobre a Segunda Guerra que acabam nos detonando por dentro. Mas há livros que parecem que não são sobre a Segunda Guerra, apesar de usarem o tema.. Sei lá,é meio confuso. Pois não vi ou li muito sobre o tema de verdade aí acima.
E vou admitir que não senti aquela vontade de conferir não…apesar deste diferencial em trazer um enredo totalmente diferente dos convencionais.
Beijo
Oi, Angela. Esse livro é o tipo que fala da guerra, mas não parece hahaha É uma obra diferente do comum, mas bem interessante. Beijos.
Olá! O que mais chamou minha atenção em relação ao livro foi o fato de falar um pouco sobre os horrores da guerra. Não é o tipo de leitura que eu normalmente faço, pelo contrário em se tratando de ficção cientifica, costumo passar longe, mas essas idas e vindas do passado/futuro não deixam de ser bem interessante, sem falar nessa edição que está realmente linda.
Oi, Elizete. É um livro bem interessante mesmo por fugir da “normalidade”. A edição está divina né? hahaha Beijos.
Oi, Sara!!
Não conhecia esse clássico da ficção científica, gênero no qual até gosto muito apesar de não ter lido nada recentemente sobre esse gênero. Achei interessante o protagonista viajar no tempo tanto no passado, presente e futuro. Sem dúvida é um livro que chama a atenção tanto para história como também pela edição maravilhosa!!
Bjs
Oi, Marta. Você que curte ficção científica, provavelmente vai adorar. Beijos.