Meu contato com GUNNM foi em 2003, quando eu estava na oitava série, e precisava juntar cada trocado para conseguir comprar um gibi. Os mangás começavam a despertar a curiosidade dos brasileiros, era um mundo totalmente novo para a maioria, e eu procurava algo que me entusiasmasse tanto quanto as histórias da Marvel e DC. As edições de GUNNM da JBC eram pequenas, finas e baratas, ou seja, cabiam no meu orçamento. Sem falar das belíssimas capas, onde uma garota ciborgue, com traços extremamente sensuais, segurava armas imensas, oferecendo um convite para o excesso de hormônios, que nós, homens, acumulamos nessa idade.

Quando terminei o primeiro volume, minha cabeça pirou. Nunca havia lido nada que me deixasse tão abobado como esse mangá. Os desenhos eram perfeitos; a ação, incessante; os enigmas, instigantes; a personagem, era apaixonante. Ou seja, fiquei hipnotizado na mesma hora, e ansioso para o segundo volume, que comprei no mesmo dia que chegou às bancas. E a experiência se repetiu. E se repetiu, de forma crescente, nos dezesseis volumes seguintes, em um total de dezoito.

GUNNM é, até hoje, passados catorze anos, ao lado de LOBO SOLITÁRIO, que também terá resenha aqui no GRAMATURA ALTA, o melhor mangá que já foi feito. E isso não é exagero meu, como também não é uma opinião exclusiva minha.

Mas, afinal, o que é GUNNM? O título da resenha é BATTLE ANGEL ALITA!

Bem, é que em 2003, quando foi lançado oficialmente pela JBC, o mangá se chamava GUNNM HYPER FUTURE VISION, e a personagem tinha o nome original japonês, Gally. Alita foi o nome adaptado pelo ocidente, e BATTLE ANGEL ALITA o título tornado oficial de forma internacional. Mas, para mim, ela sempre será a Gally, porque é esse o nome que ficou gravado desde a primeira leitura. Mas no restante da resenha, eu vou mer referir a ela como Alita, afinal é assim que vocês a irão conhecer daqui para à frente.

A história se passa, principalmente, em duas cidades simbióticas: Zalém, um local idílico, que flutua entre nuvens; e a Cidade da Sucata, que fica logo abaixo de Zalém, e que a abastece e recebe, em troca, todo o seu lixo. E é no meio do lixo, que Ido, um caçador de recompensas aposentado, encontra o tronco de uma ciborgue. Ele resolve reconstruí-la, e dá-lhe o nome de Alita. Os dois começam uma relação de filha e pai, até que Ido descobre que Alita tem alguns dons ímpares para combate, e ele não sabe de onde. Ao mesmo tempo, Alita descobre o passado de Ido e resolve também se tornar uma caçadora de recompensas.

A partir desse ponto, a trama se desenvolve em três grandes atos, que se dividem entre os dezoito volumes (2003) ou os quatro volumes (2017), dependendo da versão que você tenha. O primeiro arco é, exatamente, sua fase como caçadora. O segundo, quando Gally ingressa em uma competição mortal chamada Motorball. E o último arco, quando ela se torna uma espiã, para a captura de um sujeito chamado Desty Nova, que vive em Zalém, e que pode ser o criador de Gally.

Todos os três arcos são impregnados de ação, mortes, violência, reviravoltas, descobertas e uma constante busca por quem é Alita, como possui tantas habilidades, porque estava abandonada em uma sucata, quem foi seu criador, entre outras perguntas. A história de Alita lembra, em alguns pontos, a de Pinóquio. Alita tem um cérebro e um coração, ou seja, ela se apaixona, ela deseja ter carne e osso, ela quer ser gente e não apenas uma máquina. Essa humanidade e fragilidade, dentro de um corpo mecânico que pode matar com um movimento, cria uma dualidade magnífica de acompanhar.

Sua relação com seu pai adotivo, Ido, que a encontrou e a reconstruiu, é um dos pontos altos da história. Existe um amor paternal verdadeiro, uma amor de família, que, aos poucos, se transforma em admiração, em sacrifício. Alita é uma adolescente em um corpo indestrutível, ela ama e se expressa com a intensidade e a dramaticidade comuns à idade. Alita é complexa e apaixonante. Ela passa por muita coisa, sofre muita coisa, perde muitas pessoas.

Por causa da violência existente no magá, por ser uma obra cyberpunk, eu temi que o final da história fosse tão trágico quando havia sido, até então, a vida da personagem. Felizmente, no último volume, acompanhamos de forma urgente as respostas para as últimas perguntas, e o esperado final da personagem é um dos mais bonitos que já li. Mais que isso: é digno e é a recompensa por tudo o que ela passou. Não tem como não guardar o último volume com um grande sorriso no rosto, mais a saudade de uma Alita magnífica.

Entretanto, o autor modificiou esse final alguns anos mais tarde, para poder escrever uma continuação. Os novos volumes começaram a ser vendidos este mês pela JBC e são fáceis de encontrar em qualquer banca ou nas livrarias virtuais. E, claro, você pode usar os links logo abaixo.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Yukito KISHIRO
TRADUÇÃO: Alnaldo Masato OTA
EDITORA: JBC
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 448


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