MADAME BOVARY é uma obra singular do Realismo francês, de 1857, que tornou-se uma das mais importantes da literatura mundial e precursora do Realismo europeu. Nela, somos apresentados a uma sociedade provinciana e moralista, a qual o autor, Gustave Flaubert, faz críticas por meio de ironias. É dividida em três partes, que são demarcadas por acontecimentos na vida dos protagonistas.
PRIMEIRA PARTE: Inicialmente, conhecemos Charles Bovary, um jovem que, após se tornar médico, casa-se com uma viúva de posses, Héloïse Dubuc, uma mulher extremamente ciumenta e controladora, com a qual ele não é feliz. Em uma das visitas médicas que Charles faz, ele conhece Emma Bertaux, filha de seu paciente, uma moça bonita e encantadora que rouba seu coração. Passado algum tempo, a esposa do médico falece e, então, ele se casa com Emma, a qual se torna a Madame Bovary. Emma fica extasiada em seu casamento, acreditando que havia encontrado seu “príncipe encantado”, com o qual seria feliz para sempre. No entanto, com a convivência do matrimônio, nossa protagonista perde o encanto pelo marido e passa a vê-lo como medíocre, um médico sem futuro promissor e sem graça, suas carícias não lhe agradam mais e suas conversas tornam-se monótonas (assim como a convivência). Deste modo, a rotina do casal se passa com Emma mandando em tudo e Charles acatando suas decisões.
SEGUNDA PARTE: Emma engravida quando o casal se muda para Yonville, e eles tem uma filha, Berthe. No entanto, Emma permanece infeliz com a mediocridade da vida doméstica, a falta de riquezas da família e com o marido apático. Após perceber como é infeliz com sua vida, ela se mostra egoísta e fútil, querendo tudo de seu jeito. Charles, apaixonado pela esposa, faz de tudo por ela, a fim de vê-la feliz, tornando-se extremamente passivo diante de tudo que ela diz e faz. Esses comportamentos dos personagens me irritaram bastante durante a leitura, pois Emma se torna intragável (com suas atitudes fúteis e inconsequentes), e seu marido é bastante displicente.
TERCEIRA PARTE: Emma começa a procurar em outros homens o fogo da paixão e o amor avassalador, que não existem em seu casamento, vivendo romances adúlteros que movem a obra. E dentre essas traições, muitos outros conflitos se desenrolam, seguindo para um final dramático.
Em 1857, Gustave Flaubert respondia na justiça por afronta à moral religiosa e aos bons costumes, devido à publicação de MADAME BOVARY. Inicialmente, era pulicado em capítulos de jornal e depois fez sucesso extremo. O livro causou grandes escândalos na época, por trazer uma mulher como protagonista, que vivia à frente de seu tempo e realizava suas próprias aventuras, principalmente por se tratar de uma adúltera que não era submissa aos homens (e sim, manipulava-os de acordo com suas vontades). Emma é sonhadora e não quer aceitar a realidade ordinária em que vive. Dessa forma, passa a buscar satisfazer suas vontades e viver belas histórias de amor a seu modo. Madame Bovary vai contra as ideias de que as pessoas da época pregavam, ela dá início ao direito de escolha das mulheres.
Gustave Flaubert trabalhou arduamente na construção de seus personagens, desde os protagonistas aos secundários, dando-lhes personalidades e características próprias, explorando o psicológico de cada um, expondo seus pensamentos mais íntimos e suas reflexões, mostrando que todos têm suas crises emocionais e problemas. O autor discorre muito sobre a infelicidade que acomete o ser humano, a forma como criamos expectativas, que, quando não alcançadas, geram tristeza e indignação. Emma é o maior exemplo disso na narrativa: é sonhadora, quer viver aventuras de amor e encontrar o homem ideal para si. No entanto, após se casar, vê que Charles não é como imaginava e que a vida que ela sonhara para si, não se tornaria realidade. Assim, ela passa a viver afundada em suas frustrações e desolada constantemente.
A obra é bastante descritiva e carregada de ironias, tem uma carga de informações muito grande, possui muitas críticas do autor à sociedade da época e ao Romantismo e requer mais dedicação do leitor no entendimento. Os capítulos são relativamente longos, e algumas partes da narrativa são bem arrastadas, o que pode dificultar a leitura. Por ser uma obra muito rica, acho de grande importância o leitor ter um embasamento histórico do período em que Madame Bovary foi escrito, pois isso ajuda na compreensão de muitas críticas e do contexto abordado. Confesso que, por não ter tido esse conhecimento prévio, me senti perdida em algumas partes, e acredito que não apreendi tudo que o autor tem a passar para nós com a história (que é bastante complexa).
Para os fãs de clássicos cheios de críticas e ideias à frente de seu tempo, esse livro é super indicado. Espero que apreciem a leitura.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Gustave FLAUBERT foi um dos autores mais importantes do Realismo, movimento estético de reação ao Romantismo europeu no século 19, influenciado pelas teorias científicas, a Revolução industrial e a linha filosófica de Augusto Comte (o Positivismo). Ele levou à perfeição o ideal do romance realista de harmonizar a arte e a realidade. Sua obra se caracteriza pelo cuidado na sintaxe, na escolha do vocabulário e na estrutura do enredo. Em 1866, recebeu a Legião de Honra do governo francês. Pouco antes de sua morte, vendeu propriedades para evitar a falência do marido de sua sobrinha. Passou a viver de um salário como conservador da Biblioteca Mazarine. O romance “Bouvard et Pécuchet” foi publicado inacabado, postumamente.
TRADUÇÃO: Herculano VILLA-BOAS
EDITORA: Martin Claret
PUBLICAÇÃO: 2014
PÁGINAS: 400
COMPRAR: Amazon