Irene Nogueira é a enigmática Iraúna, aquela que consegue se comunicar com espíritos, deuses e demônios. Usando de seus dons, ela adentra o sombrio e oculto, registrando tudo por conta do seu ofício de escritora e jornalista. Mas, ao mesmo tempo, Iraúna busca se livrar de uma maldição imposta por uma figura terrível, enfrentando criaturas bizarras – como lobisomens e entidades vingativas – com a ajuda de seus leais cães demoníacos e ao som de muito rock’n’roll.
O estilo artístico de Gabriel Pieri combina elementos de mangá tradicional com influências ocidentais. Os traços são dinâmicos, variando entre linhas finas e delicadas para detalhes, e linhas mais espessas para criar contrastes e destacar elementos de maior impacto visual, como as expressões faciais e os momentos de ação intensa. O uso de hachuras e sombras é eficaz em criar profundidade, reforçando o clima sombrio e o tom dramático das cenas.
A composição visual das páginas é altamente dinâmica, com paineis de tamanhos variados que conduzem o olhar do leitor de forma fluida através da narrativa. As cenas de ação são intensificadas por ângulos dramáticos e perspectivas exageradas, conferindo movimento e energia às imagens. Os detalhes nos cenários e personagens mostram um cuidado meticuloso, enquanto os fundos muitas vezes simples ou ausentes nas cenas de maior tensão ajudam a manter o foco na ação principal.
Além disso, a presença de onomatopeias grandes e estilizadas reforça a intensidade dos momentos, sendo integradas ao design das páginas de forma harmoniosa. A utilização do preto e branco é bem explorada, com contrastes bem definidos que amplificam o clima de mistério e tensão nas cenas. A variação entre close-ups e planos abertos também contribui para uma narrativa visual rica e equilibrada, alternando momentos de introspecção com explosões de ação.
O jeito engraçado como a personagem fala, junto com os desenhos, faz a história ficar divertida. Como são histórias curtas, muitas delas sem conexão uma com a outra, fica fácil ler sem precisar se dedicar muito. Só no final é que entendemos melhor o passado da personagem e descobrimos mais sobre o inimigo que ela procura faz tempo, por causa de coisas que aconteceram antes e mudaram sua vida.
“Iraúna do Olhar Âmbar” começou como um projeto independente, com histórias sendo publicadas de vez em quando na Internet. Por isso as histórias são curtas e nem sempre têm ligação entre si. Também dá para perceber que a história não foi planejada desde o começo, mas foi crescendo enquanto era publicada. O mesmo acontece com a personagem Iraúna: vamos conhecendo mais sobre ela de repente, sem muito aviso. A única parte que é diferente é o final, como já falei antes, mas ele acaba no meio, sem terminar a história, deixando para continuar depois.
A forma como a história e os personagens são desenvolvidos demonstra que o autor ainda está amadurecendo sua escrita, porque mesmo sendo legal acompanhar as aventuras diferentes de Iraúna, a história não tem muito conteúdo e, às vezes, as coisas parecem muito rasas, com histórias muito simples e finais também simples. As cenas de ação têm o mesmo problema, especialmente quando situações aparecem e são resolvidas muito rapidamente, sem explicar direito como ou por que as coisas aconteceram. Mesmo assim, confesso que a personagem me conquistou e fiquei com vontade de continuar a acompanhar suas aventuras.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Gabriel Pieri ILUSTRADOR: Gabriel Pieri EDITORA: JBC PUBLICAÇÃO: 2024 PÁGINAS: 168 COMPRE: Amazon |