NAUSICAÄ DO VALE DO VENTO – POLÍTICA, RELIGIÃO E MEIO-AMBIENTE

Na história de “Nausicaä do Vale do Vento”, o mundo que conhecemos acabou há mil anos, depois de uma grande destruição que aos poucos vai sendo revelada. Agora, a Terra está bem diferente: grandes florestas venenosas cobrem boa parte do planeta. Nessas florestas vivem insetos enormes, perigosos e mortais. A história acompanha Nausicaä, uma princesa que vive no tranquilo Vale do Vento. Ela passa seus dias explorando esse mundo perigoso, tentando entender como ele funciona e procurando uma maneira de fazer humanos e natureza viverem em paz.

Antes de ficar famoso fazendo filmes animados no Studio Ghibli, Hayao Miyazaki começou sua carreira fazendo mangás. Quando criou “Nausicaä do Vale do Vento”, ele fez tudo sozinho: escreveu a história e fez todos os desenhos, colocando muitos detalhes em cada cena, personagem e criatura. Nesta história, ele já mostrava seus temas preferidos: a importância de cuidar da natureza, evitar guerras e pensar sobre problemas da sociedade. Por isso, Nausicaä é considerada uma obra muito importante na carreira de Miyazaki.

“Nausicaä do Vale do Vento” foi publicado na revista Animage de 1982 até 1994. Nessa época, os mangás estavam mudando: os autores começaram a criar histórias mais sérias, que não eram só para crianças e adolescentes. Ao mesmo tempo, no Japão, as pessoas estavam cada vez mais preocupadas com problemas do meio ambiente, como a poluição das fábricas e os problemas com petróleo que aconteceram nos anos 1970. Essas preocupações aparecem claramente na história que Miyazaki criou.

Naquela época, o mundo vivia a Guerra Fria, e ninguém sabia ao certo o que poderia acontecer. Na história de Nausicaä, podemos ver essas preocupações nos conflitos entre diferentes reinos e na forma como a tecnologia e as armas são usadas para destruir. Mesmo mostrando esses problemas, a história traz uma mensagem positiva: ela nos faz pensar em como as pessoas podem trabalhar juntas para construir um mundo melhor.

Quando foi lançado, o mangá alcançou grande reconhecimento tanto da crítica quanto do público. Foi especialmente elogiado pela profundidade de seus temas, pela riqueza de detalhes em seu universo ficcional e pela qualidade artística dos desenhos. Algumas pessoas notaram que a história pode ser complexa de acompanhar, principalmente por suas elaboradas tramas políticas e religiosas. Ainda assim, “Nausicaä do Vale do Vento” estabeleceu-se como uma obra clássica, representando um momento importante na carreira de Hayao Miyazaki e servindo de inspiração para várias gerações de artistas.

A natureza é o tema principal da história. A floresta venenosa não é mostrada simplesmente como algo ruim, mas vai se revelando como uma reação do planeta aos danos causados pelos seres humanos. Nausicaä se diferencia dos outros personagens porque tenta compreender como essa floresta funciona. Ao fazer isso, ela descobre que o Mar da Corrupção (as florestas venenosas) tem uma função importante: limpa o solo e o ar contaminados, em um esforço para restaurar o equilíbrio da natureza.

A mensagem sobre a natureza que Miyazaki apresenta vai além de mostrar os danos que o planeta sofreu. Ela também nos faz pensar sobre como é importante que as pessoas e a natureza se respeitem. Nausicaä, com sua capacidade de entender os outros e sua dedicação em estudar o ambiente ao seu redor, nos ensina que a verdadeira força não está em usar violência ou tentar controlar tudo, mas sim em entender como a vida funciona e em aprender a viver em harmonia com outros seres.

A história de “Nausicaä do Vale do Vento” é complexa e tem grandes objetivos: mistura aventuras grandiosas com pensamentos sobre filosofia e política. A história se desenvolve mais devagar que outros mangás, mas isso permite que Miyazaki crie um mundo cheio de detalhes e dá tempo para o leitor pensar sobre questões importantes, como moral, meio ambiente e espiritualidade. Algumas pessoas gostam muito dessa forma mais profunda de contar a história, enquanto outras podem achar difícil de acompanhar por não ser uma história mais direta e rápida.

Miyazaki tem um jeito especial de juntar diferentes elementos na história: momentos de ação, momentos calmos e conflitos se misturam de forma natural, como em um filme. Em algumas partes, temos cenas agitadas de batalha e, logo depois, momentos mais quietos em que os personagens pensam sobre a vida ou conversam sobre assuntos importantes. Essa mistura de momentos diferentes mostra que as lutas não acontecem só nas batalhas, mas também dentro de cada personagem, quando eles precisam lidar com seus sentimentos de culpa, com coisas que se arrependem de ter feito e com a esperança de um futuro melhor.

Nausicaä é diferente dos outros líderes de sua época. Ela tem sonhos de um mundo melhor, mas também entende como as coisas realmente são. Ela mostra sua coragem ao explorar lugares perigosos e tenta de verdade ajudar povos diferentes a pararem de brigar entre si. Por passar tanto tempo perto dos insetos gigantes, ela consegue ver melhor que ninguém os perigos das guerras que os reinos vizinhos fazem uns contra os outros.

Kushana é uma princesa e líder militar do reino de Tormekia. Ela é mais dura e prática que Nausicaä, e suas ações são motivadas tanto pela vontade de conquistar outros reinos quanto por coisas ruins que aconteceram em seu passado. No começo da história, ela parece ser a vilã, mas aos poucos vemos que ela é uma pessoa mais complexa, que começa a pensar sobre os problemas que as guerras que ela comanda estão causando. Por ter tantas camadas diferentes, ela se torna uma das personagens mais interessantes da história.

O Mestre Yupa é um guerreiro sábio que viaja pelo mundo, e junto com outros personagens, como os padres do Império Dorok e soldados de diferentes lugares, ajuda a formar a rede de relações da história. Cada personagem tem seus próprios motivos para agir: alguns querem apenas sobreviver, outros seguem suas crenças religiosas, há aqueles que querem poder, e também os que buscam consertar erros do passado. Essa variedade de pessoas diferentes e seus motivos faz a história parecer mais real, mostrando como pessoas com ideias e experiências diferentes entram em conflito.

O jeito que Miyazaki desenha no mangá é bem característico: ele faz traços finos e cheios de detalhes, que servem tanto para mostrar pequenas mudanças nas expressões dos personagens quanto para desenhar máquinas e lugares com precisão técnica. Em cada página, ele toma muito cuidado em fazer o leitor se sentir dentro da história, seja quando mostra imagens grandes da floresta venenosa ou quando faz desenhos mais próximos de momentos tensos, como quando personagens se encontram de surpresa.

Os desenhos das cenas de luta e batalha são bem claros e fáceis de entender, mas ainda assim passam a sensação de movimento e perigo. Já nos momentos mais calmos, Miyazaki usa diferentes tipos de sombras e linhas para mostrar como esse mundo destruído é grande e misterioso. O jeito como ele mistura desenhos bonitos com detalhes técnicos faz com que a arte não seja só uma forma de mostrar o que está acontecendo na história, mas se torne uma parte importante de como entendemos e sentimos a história.

“Nausicaä do Vale do Vento” é um mangá diferente e especial: mistura história de ficção com fantasia e nos faz pensar sobre política, religião e meio ambiente. Tem uma heroína que serve de exemplo e criou um mundo que continua encantando pessoas de todas as idades, mesmo depois de tanto tempo. A história continua importante hoje, não só por ter sido um momento marcante na carreira de Hayao Miyazaki, mas também porque nos lembra que precisamos desenvolver nossa tecnologia sem destruir a natureza e sem deixar de respeitar uns aos outros.

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