Desde pequeno, Theo é fascinado por filmes de terror, mas sabe que eles não são o suficiente para livrá-lo dos pesadelos intensos que o atormentam, imagens tão vívidas que se confundem com a realidade. Junto a Yuri, amigo com quem tem uma relação complicada e por quem nutre uma paixão secreta, ele encontra uma maneira de dar vazão a esse lado obscuro, e assim é criado o Visão Noturna, canal de internet dedicado a crimes reais e eventos misteriosos.
Após desvendarem a morte brutal de uma mulher no interior fluminense, os dois jovens precisam consolidar a súbita fama com um novo projeto. Por isso, a bordo da kombi Rita Lee, eles partem para a região serrana do Rio de Janeiro com o objetivo de filmar uma série documental em Itacira, cidade repleta de lendas urbanas e acontecimentos sinistros desde sua formação. Não demora muito para que Theo e Yuri entendam que os muitos mistérios que rondam a cidade não ficaram no passado, e que seus moradores podem esconder mais segredos do que estão dispostos a revelar.
Entre relatos de desaparecimentos, de assassinatos em série e de rituais macabros, Theo emprega sua intuição aguçada e seu discernimento para investigar o que se esconde por trás da fachada pacata do lugar. Percorrendo um labirinto de ruas, histórias e personagens, seus passos descortinam segredos há muito guardados, desafiam as dinâmicas de poder da cidade e prometem revelar verdades terríveis ― inclusive aquelas que ele esconde de si mesmo.
“Visão Noturna” não chega perto do que promete em sua sinopse. O livro deveria ser cheio de suspense e emoção, mas acaba sendo uma história sem graça, com um mistério fraco e personagens que não cativam o leitor. O romance entre os personagens também não funciona – não dá vontade de torcer pelo casal.
O problema não está na forma como o autor escreve – ele até escreve bem. O problema é que ele parece ter medo de fazer os personagens agirem e reagirem de verdade. Em vez disso, ele enche o livro de descrições que não ajudam a história avançar. Para piorar, o final é decepcionante e acaba estragando ainda mais o livro todo.
Theo e Yuri são jovens adultos, mas se comportam como adolescentes, especialmente Theo. O autor parece querer mostrar Theo como alguém que não sabe lidar com o que sente por Yuri, mas acaba criando um personagem infantil e egoísta. Em vez de conversar com Yuri sobre seus sentimentos, Theo só pensa em si mesmo.
Os personagens não crescem ou mudam durante a história. O livro só mostra Theo pensando nas mesmas coisas várias vezes, o que torna a história chata e faz o leitor perder o interesse no romance.
A história é contada por Theo e por isso só vemos o que ele pensa e sente. Não conhecemos bem os outros personagens, como Yuri ou Nicolas (que perdeu o pai em um assassinato e recebe os dois em Itacira). O mesmo acontece com todos os outros personagens menos importantes da história.
O autor não desenvolveu bem esses personagens, então não nos importamos muito com o que acontece com eles. O livro gasta muito tempo mostrando Theo reclamando sobre seus sentimentos por Yuri e relembrando casos antigos que os deixaram conhecidos, em vez de nos fazer conhecer melhor os outros personagens.
A história começa tentando criar um clima de mistério: a kombi de Theo e Yuri quebra na estrada e eles precisam ficar em um hotel que parece ter fantasmas. Desde essas primeiras páginas, já dá para ver que o romance entre os personagens não vai funcionar bem por causa do jeito que é apresentado. O livro parece prometer uma história interessante no começo, mas logo fica claro que essa promessa não vai se realizar.
A história do hotel assombrado acaba rápido – os dois personagens logo seguem viagem para Itacira, e essa parte do hotel, que poderia ser interessante, é deixada de lado. O que vem depois não é tão bom. O resto do livro mostra algumas pistas sobre os mistérios da cidade: pessoas que desaparecem, o assassinato do pai de Nicolas, o padre que age de forma estranha, e outras coisas misteriosas.
Mas Theo e Yuri não resolvem esses mistérios por serem espertos ou por seguirem as pistas – eles descobrem tudo por acaso, bem no final do livro. Como isso acontece tão perto do fim, não dá tempo de criar suspense ou fazer o leitor ficar ansioso para saber o que vai acontecer.
A maior fraqueza de “Visão Noturna” parece ser que o autor não desenvolveu bem suas ideias, talvez por insegurança ou inexperiência. O romance entre Theo e Yuri não cresce durante a história. E mesmo tendo várias pistas ao longo do livro, o mistério também fica pela metade – em vez de mostrar os personagens investigando, o livro mostra mais Theo reclamando de seus problemas.
Na parte que deveria ser mais emocionante, quando eles encontram os culpados pelos problemas da cidade, Theo e Yuri ficam presos em uma sala conversando sobre seu relacionamento. Quando a polícia os solta, tudo já acabou. Eles não participam da ação, não vemos o que aconteceu – o autor só nos conta que tudo foi resolvido.
“Visão Noturna” não entrega o que promete – nem o romance nem o mistério funcionam, e a história acaba sendo chata. O mais frustrante é que todos os elementos para uma boa história estão lá, mas o autor não os desenvolveu bem. Por isso, o livro não consegue fazer o leitor se envolver com a história ou se importar com os personagens.
Por ser o primeiro livro do autor, dá para perceber que ele ainda não tem experiência para desenvolver bem uma história e seus personagens. Mas isso não pode se tornar uma desculpa para os problemas do livro, ainda mais sendo publicado por uma grande editora. Durante toda a leitura, fiquei esperando que a história melhorasse, que algo mais interessante acontecesse, mas infelizmente isso não aconteceu. Uma pena.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Franklin Teixeira EDITORA: Intrínseca PUBLICAÇÃO: 2023 PÁGINAS: 272 COMPRE: Amazon |