O astro do futebol, Archer Whitethorn, tem tudo: fama, dinheiro e charme de sobra. Ou quase tudo. Após um casamento desastroso e uma descoberta de traição da esposa, ele se vê divorciado e perdido.

É quando seus amigos decidem arrastá-lo para Las Vegas, o antídoto perfeito para corações partidos. Ele só não esperava encontrar Beatrice, a mulher que roubou seu coração dois anos antes de tudo isso acontecer, e que também está na cidade fugindo de um noivado fracassado e de um ex-noivo infiel. Uma noite regada a risadas, provocações e um pouco de whisky termina de forma inimaginável: com ambos acordando com alianças nos dedos e uma certidão de casamento. Entre flashes de paparazzi, brigas hilárias e flertes, Archer e Beatrice precisam decidir se esse casamento falso tem potencial para se tornar algo real — ou se é apenas mais um erro na cidade dos excessos.

Por que subestimamos gêneros literários voltados para mulheres?

Alguns livros têm o poder de transformar um dia comum em algo especial. “Acidentalmente Casados”, da autora Luana Magalhães, é exatamente esse tipo de leitura. Como um filme da Sessão da Tarde, o romance oferece uma experiência leve e divertida, repleta de diálogos rápidos e personagens carismáticos. Se você adora filmes como “Como Perder um Homem em 10 Dias”, “Esposa de Mentirinha”, “A Proposta” ou até mesmo o recente “Todos Menos Você”, “Acidentalmente Casados” é uma escolha certeira. O livro entrega exatamente o que promete: uma comédia romântica, com todos os tropeços e trocadilhos que tornam o gênero tão reconfortante.

A história segue Archer, astro do futebol que, apesar da fama e fortuna, vive à sombra de um divórcio traumático e da traição de sua ex-esposa. No meio dessa bagunça, ele se reencontra com Beatrice, a mulher que já havia roubado sua atenção (ou melhor, seu coração) no passado e que agora, coincidentemente, também está fugindo de um relacionamento fracassado. Uma noite em Las Vegas, cheia de provocações e risadas, termina de forma impensável: eles acordam casados. A partir daí, a trama se desenrola entre discussões engraçadas e flertes carregados de tensão sexual. A química entre Archer e Beatrice é palpável, e o equilíbrio entre momentos cômicos e emocionais mantém o leitor preso à história.

Archer é a típica idealização masculina que reina nos romances — charmoso, apaixonante, emocionalmente disponível (eventualmente) e, claro, dotado de outras qualidades que só existem nos universos literários (ou seja, quase perfeito). E está tudo bem! Não há mal nenhum em personagens construídos para atender às nossas fantasias, certo?

Beatrice, por sua vez, traz algumas nuances mais interessantes. Apesar de seus traços de insegurança e baixa autoestima, ela é uma protagonista forte e independente, capaz de conquistar o leitor com suas vulnerabilidades.

Os personagens secundários também têm espaço de destaque, e Luana, como de costume, faz um ótimo trabalho ao torná-los tão cativantes quanto os protagonistas. No entanto, essa qualidade pode se transformar em um desafio, pois, às vezes, eles roubam um pouco da atenção do casal principal, deixando um gostinho de “quero mais” no desenvolvimento dos protagonistas. Como alguém que já leu outras obras da autora, sinto que esses coadjuvantes acabam ofuscando os holofotes do casal principal, o que pode ser visto tanto como um charme quanto uma fragilidade narrativa.

O ponto alto e grande mérito do livro, para mim, está em sua leveza. A narrativa não tenta ser algo que não é! Luana sabe exatamente o que está entregando: uma história de leitura rápida, feita para entreter e proporcionar boas risadas.

A comédia romântica não vive sem humor, e “Acidentalmente Casados” entrega isso com competência. Desde cenas embaraçosas — que podem até lembrar algumas passagens constrangedoras de Crepúsculo — até diálogos recheados de trocadilhos, o livro consegue manter o leitor sorrindo. É uma leitura despretensiosa, ideal para um dia preguiçoso ou um momento em que você só quer relaxar.

Isso não significa que a obra esteja isenta de críticas. Por exemplo, as cenas envolvendo partidas de futebol, apesar de bem descritas, podem ser difíceis de visualizar para quem não é fã do esporte (como eu). O que, pensando bem, não é exatamente uma crítica, apenas uma deficiência imaginativa minha.

Recentemente, temos visto muitas discussões nas redes sociais sobre a relevância de gêneros literários predominantemente consumidos por mulheres e com classificação +18. É comum encontrar críticas — frequentemente vindas de homens (risadas amargas) — que rotulam essas obras como fúteis ou irrelevantes e, pasmem, chegam até a igualá-las à pornografia. Essa visão não apenas desconsidera o valor literário e emocional desses romances, mas revela um preconceito mais profundo: uma tentativa de deslegitimar preferências femininas e narrativas que exploram a sexualidade e os desejos das mulheres de forma honesta e autônoma.

Afinal, qual o problema em explorar fantasias românticas e narrativas idealizadas? Nenhum. Quando digo nenhum, não estou desconsiderando vícios, a questão é que dar ênfase em casos atípicos apenas para refutar um gênero não é o caminho certo.

Romances eróticos, como “Acidentalmente Casados”, exploram histórias com valor emocional e desenvolvimento de personagens. Reduzi-los ao ato sexual ignora o papel desses livros em proporcionar empoderamento e questionar tabus.

O que é importante de se dizer é que não vemos o mesmo rigor crítico aplicado a gêneros predominantemente masculinos, como livros violentos em que mulheres são constantemente subjugadas ou objetificadas. Isso evidencia um claro duplo padrão de hipocrisia (o que não surpreende ninguém).

Embora “Acidentalmente Casados” não tenha um foco exclusivo em cenas eróticas, ele entrega a dose certa de sensualidade, sem exageros, e reforça que explorar fantasias românticas e idealizações não diminui o valor de uma obra. Na verdade, isso é parte do que torna o gênero tão reconfortante e acessível, permitindo que muitas mulheres se identifiquem e se sintam vistas em suas próprias experiências (mesmo que idealizadas).

Acidentalmente Casados” não tem a pretensão de trazer grandes lições de vida ou desconstruir as complexidades das relações humanas. Ele quer, acima de tudo, divertir. E isso deveria ser mais do que suficiente. Afinal, rir e se sentir confortável em um mundo literário construído para o entretenimento também é uma forma válida — e poderosa — de se conectar com a arte.

Se você procura um romance para rir, relaxar e escapar da realidade por algumas horas, “Acidentalmente Casados” é uma ótima escolha. Valorizar a literatura nacional é, também, aceitar sua diversidade de gêneros e estilos. Nem todo livro precisa ser um clássico, alguns só precisam nos fazer sorrir.


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AUTORA: Luana Magalhães
EDITORA: Independente
PUBLICAÇÃO: 2024
PÁGINAS: 381
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