Depois de enfrentar uma tragédia familiar e de ter seu coração partido, os planos de Adelaide para o verão se resumem a passar os dias no internato, cuidando dos cachorros dos professores. Só que esse verão vai se estender não só através de dias e meses, mas de várias realidades paralelas repletas de possibilidades…
É num desses passeios que Adelaide encontra (ou melhor, reencontra) Jack, um garoto bonito e interessante, que anos atrás tinha escrito um poema para ela, até hoje guardado em sua carteira. Será que com Jack ela vai conseguir se abrir ― para o amor e para a vida?
Já li “Mentirosos” e “Família de Mentirosos” de E. Lockhart e gostei muito de ambos, especialmente do tom melancólico que mostra o sofrimento dos personagens por causa das escolhas ruins que fizeram. Por isso, estava bem animado para ler “De novo, outra vez“. Não fiquei decepcionado e não é um livro ruim, mas não atendeu às minhas expectativas quanto à qualidade.
A história é contada em pequenas variações de eventos que ocorrem em diferentes realidades paralelas, onde cada uma mostra sequências e resultados diferentes. Por exemplo, na realidade principal, a personagem Adelaide faz ou diz algo. Antes de vermos as consequências, o livro apresenta o que poderia ter acontecido em duas ou três outras realidades. Depois, a história volta para a realidade principal e continua de onde parou. Isso nos permite conhecer várias versões de Adelaide e de outros personagens, cada um com suas particularidades, algumas positivas e outras negativas.
A narrativa se mantém clara e fácil de acompanhar porque é possível diferenciar a realidade principal das alternativas pelo estilo da fonte usada. Na realidade principal, usa-se uma fonte mais clássica, enquanto nas alternativas, as letras são mais arredondadas e geralmente em negrito ou alguma variação disso. Apesar de serem realidades diferentes, esse recurso é usado principalmente para mostrar situações onde Adelaide sofre mais do que na realidade principal. Em nenhuma dessas realidades a situação é realmente melhor, e em todas elas, as relações de Adelaide são mais problemáticas do que na principal.
Adelaide quer apenas ser amada e encontrar alguém que retribua o amor que ela está pronta para oferecer. Não precisa ser com a mesma intensidade, mas deve ser um amor recíproco, com respeito e consideração. No entanto, todos os rapazes que ela conhece acabam por decepcioná-la de alguma forma. Mesmo aqueles que inicialmente parecem ser boas pessoas, com o tempo, mostram suas verdadeiras intenções e revelam um comportamento tóxico.
Pela sinopse, achei que a história seria sobre Adelaide e Jack, mostrando seu amor com encontros e desencontros e como isso acontece em diferentes realidades. No entanto, o livro trata mais de como Adelaide é frequentemente traída e ignorada pelos homens com quem se relaciona, que não valorizam quem ela é nem seus sentimentos. A história segue Adelaide enquanto ela aprende a lidar com essas rejeições. Com o tempo, ela percebe que o mais importante é se conhecer e valorizar a si mesma, descobrindo que não precisa do amor de um homem para se sentir completa e feliz.
A história começa com Jack parecendo ser um cara interessante, que traz consigo um histórico de sofrimentos e traumas e parece disposto a se abrir para um relacionamento que possa ajudá-lo a superar isso. No entanto, logo nas primeiras páginas, percebemos que Jack é egoísta e usa Adelaide apenas para conseguir o que quer, descartando-a após uma noite de sexo. Esse padrão se repete nos relacionamentos de Adelaide e, infelizmente, também em outras realidades descritas no livro.
“De novo, outra vez” conta a história de uma garota que se sente perdida em seus sentimentos, indecisa sobre o que escolher, e com baixa autoestima. Ela tenta encontrar a felicidade nos relacionamentos, mas sem sucesso. Porém, a forma como a autora desenvolveu a personagem não me cativou, especialmente pelo final da história. Na última parte, a trama deixa de lado a realidade principal após mais uma desilusão amorosa de Adelaide. Os capítulos finais ocorrem em uma realidade alternativa onde Adelaide se envolve com outro personagem secundário. Mas, como antes, o relacionamento não dá certo, até que Adelaide finalmente aceita sua situação.
Essa decisão da história não me agradou nem me convenceu, assim como os trechos que descrevem as realidades alternativas. Essas partes são, na maioria, breves e trazem variações previsíveis que não são muito criativas. Elas também não acrescentam muito à narrativa, principalmente porque os personagens nessas realidades acabam se mostrando tão desagradáveis quanto na realidade principal.
“De novo, outra vez” não é um livro ruim, mas não é o tipo de leitura que marca o leitor por muito tempo. Deixa a impressão de que poderia ter sido melhor se a autora tivesse investido mais em criatividade e cuidado ao desenvolver as situações. Faltou um personagem que realmente combinasse com Adelaide, ou então uma abordagem mais forte na narrativa para transmitir a mensagem de que é possível ser feliz sozinho.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: E. Lockhart TRADUÇÃO: Flávia Souto Maior EDITORA: Seguinte PUBLICAÇÃO: 2024 PÁGINAS: 304 COMPRE: Amazon |