No quarto livro da série sobre o famoso jovem bruxo, a trama se desenrola em torno do emocionante e perigoso Torneio Tribruxo, que reúne estudantes de três escolas de magia: Hogwarts, Beauxbatons e Durmstrang. De maneira totalmente inesperada e um tanto misteriosa, Harry Potter acaba sendo escolhido pelo Cálice de Fogo para competir, mesmo sendo mais novo do que o normalmente permitido. O torneio é cheio de desafios que põem à prova a coragem, a inteligência e as habilidades mágicas dos competidores. E, como se isso não fosse suficiente, ainda tem a crescente preocupação com o possível retorno de Lord Voldemort ao poder.
O Torneio Tribruxo é uma competição bem intensa que escolhe três campeões, cada um representando uma das escolas de magia envolvidas. Os participantes são selecionados pelo Cálice de Fogo, que é tipo um juiz mágico que escolhe um representante de cada escola para o Torneio Tribruxo. Ele avalia os candidatos baseando-se em coisas como habilidade mágica e coragem, e talvez até em outras qualidades mais difíceis de medir.
O Cálice é famoso por ser super justo e imparcial, fazendo suas escolhas sem levar em conta influências externas ou preferências pessoais. A história do Cálice é meio nebulosa; a gente só sabe que é um objeto bem antigo, mas não tem detalhes sobre quem o fez ou como foi feito. Ele tem um quê de místico, com suas chamas que mudam de azul para vermelho quando escolhe um campeão, e a habilidade de avaliar quem se inscreve.
Por ser um torneio cheio de riscos, só quem tem pelo menos 17 anos pode entrar na disputa. Para garantir que só os alunos mais velhos pudessem participar, foram colocadas medidas de segurança no Cálice, um Encantamento de Idade, que impede os mais novos de tentarem enganar o feitiço e entrar na competição.
O torneio é dividido em três tarefas diferentes, cada uma desenhada para testar um aspecto diferente dos competidores. Ninguém sabe quais são essas tarefas até pouco tempo antes delas acontecerem, e elas mudam a cada torneio. Os campeões são julgados e recebem notas de um grupo de juízes, que normalmente inclui os diretores das escolas e outras pessoas importantes do mundo da magia. O grande prêmio para o vencedor do Torneio Tribruxo é o Troféu Tribruxo e uma grande soma em dinheiro.
E aí temos o Harry Potter, que de repente e meio que do nada, é escolhido pelo Cálice para competir, mesmo sendo mais novo do que o permitido e com Hogwarts já tendo um campeão, o Cedric Diggory.
Como sempre acontece, em HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO, o leitor encontra um novo professor de Defesa Contra as Artes das Trevas, e dessa vez é o Alastor “Olho-Tonto” Moody. Ele é um ex-auror, tipo um policial que caça bruxos do mal, e é famoso pela sua dedicação total em combater as Artes das Trevas. Moody tem um olho mágico que gira 360 graus e consegue ver através de paredes, portas e até capas de invisibilidade, o que explica o apelido “Olho-Tonto”. Além disso, ele tem uma perna de madeira e várias cicatrizes, que são como troféus das muitas batalhas que ele travou contra os bruxos das trevas.
Moody é conhecido por ser super paranóico, o que faz todo sentido, considerando a carreira dele enfrentando esses bruxos perigosos. Ele tá sempre com a sua garrafinha, porque tem medo de ser envenenado. Apesar de ter uma aparência meio assustadora e uns jeitos intimidadores, ele é totalmente dedicado a lutar contra o mal e é muito respeitado por isso. Durante o ano letivo, o Moody acaba sendo uma espécie de mentor para o Harry, especialmente em relação ao Torneio Tribruxo, oferecendo conselhos e encorajamento.
HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO nos apresenta duas outras escolas de magia. Primeiro, tem a Beauxbatons, uma escola que fica em algum lugar do sul da França. Ela é toda associada com elegância e beleza, tanto no lugar em si quanto nos alunos. Os estudantes de Beauxbatons são conhecidos por serem elegantes, refinados e, muitas vezes, bem bonitos. Eles também são vistos como educados e orgulhosos, além de serem talentosos na magia. A diretora de lá é a Madame Olympe Maxime, que é uma mulher imponente, alta e marcante.
A segunda escola é a Durmstrang, que fica no norte da Europa, talvez na Escandinávia ou na Europa Oriental. Durmstrang é famosa por dar uma atenção especial às artes das trevas, mas não de um jeito ruim. A escola é conhecida por ser mais séria e austera do que Hogwarts ou Beauxbatons. Os alunos de Durmstrang são famosos pela força, coragem e habilidade em magia, principalmente nas áreas mais práticas e físicas. Eles têm fama de serem duros e às vezes até intimidadores. O diretor é o Igor Karkaroff, um ex-Comensal da Morte que virou diretor depois de sair de Azkaban. O Karkaroff é ambicioso e parece se preocupar mais com a própria segurança e status do que com os alunos.
As duas escolas participam do Torneio Tribruxo, com a Fleur Delacour representando Beauxbatons e o Viktor Krum, aquele jogador famoso de Quadribol, representando Durmstrang. Cada escola mostra um pouco da cultura e das tradições mágicas de onde vêm. A relação entre elas é geralmente boa, mas com aquela rivalidade e competição, que fica bem evidente durante o Torneio Tribruxo.
Se você não lembra ou não sabe, os Comensais da Morte são aqueles seguidores leais do Lord Voldemort, famosos pela brutalidade, fanatismo e por acreditarem que os bruxos de sangue puro são superiores. O principal requisito para ser um Comensal da Morte é ter uma lealdade total ao Voldemort. Eles são dedicados à causa dele e não têm problema nenhum em cometer crimes horríveis em nome dessa crença. Os Comensais da Morte são reconhecidos pela Marca Negra nos antebraços, que é um símbolo de uma caveira com uma serpente saindo da boca. O Voldemort usa essa marca para chamar a galera quando precisa.
Quando o Voldemort começou a ganhar poder pela primeira vez, os Comensais da Morte eram tipo os braços direitos dele, espalhando medo tanto entre os bruxos quanto entre os trouxas. Depois que o Voldemort caiu da primeira vez, muitos Comensais foram presos ou se mandaram para se esconder. Mas os Comensais da Morte são mais do que simples vilões; eles são a cara das ideias mais escuras e perigosas no mundo do Harry Potter. Eles são um lembrete constante do que pode acontecer quando o preconceito, o ódio e a obsessão pelo poder tomam conta.
Sobre o trio principal, que é o Harry, a Hermione e o Ron, a amizade deles passa por uns desafios bem sérios. Eles têm uma amizade forte, mas enfrentam problemas, tipo quando rola uma tensão entre o Ron e o Harry. Isso acontece porque o Harry é escolhido pelo Cálice de Fogo para o Torneio Tribruxo, e o Ron fica meio chateado, achando que o Harry trapaceou para entrar no torneio, e se afasta dele por um tempo. Essa é uma das primeiras vezes que a gente vê um conflito grande entre o Harry e o Ron na série.
Durante essa briga, a Hermione faz o papel de mediadora. Ela acredita no Harry e tenta fazer o Ron entender a situação, mostrando que ela é leal e compreensiva com os dois. A posição dela como a voz da razão e o coração emocional do grupo fica ainda mais forte. Ao longo da história, os três mostram que estão crescendo e amadurecendo, lidando com coisas mais complexas como atração romântica (que fica bem claro no Baile de Inverno) e questões morais mais profundas do mundo mágico.
Mesmo com as tensões, quando chega a hora de enfrentar desafios, especialmente os do Torneio Tribruxo, eles se juntam para apoiar o Harry. A Hermione ajuda o Harry a se preparar para as tarefas do torneio, e o Ron, depois de resolver as diferenças com o Harry, também dá seu apoio. A história também dá uma olhada mais aprofundada em cada um deles. O Ron lida com sentimentos de se sentir menos que os outros, a Hermione começa a se afirmar mais como uma jovem mulher e ativista (como a gente vê na campanha dela pelos direitos dos elfos domésticos), e o Harry enfrenta desafios que testam a coragem e o caráter dele.
Nesse livro, pela primeira vez, a autora aborda o problema dos elfos domésticos. A Hermione começa a se ligar nas condições de vida deles quando ela visita a cozinha de Hogwarts e descobre que os elfos trabalham sem ganhar nada. Ela fica bem chocada e indignada ao ver que os elfos são tratados como seres inferiores e têm que servir aos bruxos sem receber nada em troca, nem reconhecimento dos seus direitos. Ela tenta abrir os olhos dos outros estudantes sobre a situação dos elfos, mas muitas vezes se depara com indiferença ou falta de interesse.
Então, Hermione tem a ideia de tricotar roupas e esconder pela escola, porque pela tradição dos elfos, se eles pegarem alguma peça de roupa deixada pelos seus mestres, eles são libertados. Mas essa tática não dá muito certo, porque os elfos se sentem ofendidos e evitam as roupas, com a exceção do Dobby. Ela até tenta organizar reuniões e criar petições para ajudar a causa, mas não consegue muito apoio dos colegas.
A iniciativa da Hermione é recebida com opiniões divididas. O Harry e o Ron dão apoio moral, mas eles e muitos outros estudantes não têm o mesmo entusiasmo ou não entendem a seriedade do problema. Muitos elfos, que estão acostumados e até se orgulham da posição de servidão, não apoiam o movimento da Hermione. Isso mostra como a questão é complexa e como é difícil mudar uma cultura que já está enraizada há tanto tempo.
O jeito como HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO trata a questão da escravidão dos elfos domésticos é um dos vários pontos complicados da história. A campanha da Hermione para libertar os elfos é vista como algo nobre, mas a aceitação geral da escravidão pela sociedade bruxa e a falta de vontade dos elfos em buscar liberdade é uma parte meio problemática que a autora colocou na história.
A situação dos elfos domésticos pode ser vista como uma comparação direta com a escravidão de pessoas africanas e afrodescendentes. Essa interpretação pode passar a ideia errada de que a escravidão poderia ser algo aceitável ou até desejado pelas vítimas, o que é uma noção historicamente e eticamente errada e ofensiva. Através da Hermione e sua luta para libertar os elfos, parece que a Rowling está criticando a aceitação sem questionamento de sistemas injustos e a importância de desafiar as normas sociais. A relutância dos elfos em buscar liberdade pode ser vista como uma crítica à maneira como a opressão pode ser internalizada.
A representação dos elfos e a situação deles também pode ser uma tentativa de discutir temas complexos como liberdade, escolha e condicionamento social. Mas a forma como esses temas são tratados pode ser vista como insuficiente ou problemática, principalmente se não forem bem explicados no contexto. Os autores têm responsabilidade sobre os mundos e personagens que criam, e é importante que eles estejam cientes das possíveis interpretações e implicações do que escrevem. Mesmo que a intenção possa ter sido explorar temas de injustiça e opressão, a maneira como isso foi feito e as implicações disso podem ser vistas como problemáticas, especialmente quando olhamos pelo ponto de vista da história real da escravidão humana.
Outro problema do livro é o quanto a autora estendeu a história. Os primeiros três volumes tinham menos do que 300 páginas. Já este quarto volume tem quase 500 páginas. Quase nada acontece até quase metade da história. Toda essa metade inicial é preenchida com diálogos sem interesse, descrições tediantes, uma trivialidade que cansa. Com certeza, ele poderia ter sido mais conciso e melhor editado. Penso que a autora, na época, devido ao sucesso, ganhou liberdade para escrever se cortes. Ao invés de aproveitar para criar situações de perigo ou aventura, se limitou a encher páginas com nada que acrescentasse algo à história.
Neste volume, a gente percebe uma mudança para um clima mais sombrio e temas mais sérios. Mas esses temas são tratados de um jeito que mostra as limitações da autora em desenvolvê-los de forma responsável. O livro não parece tão adequado para crianças como os anteriores. Ele traz a primeira morte explícita de um personagem e a ressurreição de outro, que são temas bem intensos. Essa mudança é brusca, principalmente se a gente pensar que os três primeiros livros, apesar de terem seus momentos sérios, eram mais leves e voltados para as aventuras de crianças e adolescentes.
A introdução de temas pesados como morte, tortura e dilemas morais complexos talvez devesse ter sido feita de forma mais gradual nos livros anteriores. Alguns aspectos desses temas nesse livro poderiam ter sido explorados com mais profundidade e sensibilidade. Por exemplo, a forma como o luto e o trauma são mostrados depois de eventos traumáticos poderia ter sido tratada com mais cuidado e atenção.
Nas duas escolas que aparecem no livro, a Beauxbatons e a Durmstrang, a gente vê que elas não são muito desenvolvidas e acabam sendo mostradas através de estereótipos. A Beauxbatons, que fica na França, é sempre ligada à elegância, beleza e refinamento, que são vistos como estereótipos franceses. Além disso, a escola parece ser só para meninas, o que pode reforçar estereótipos de gênero, tipo associar delicadeza e graça só às mulheres. A Fleur Delacour, que representa Beauxbatons no Torneio Tribruxo, é mostrada como bonita, mas meio arrogante e superficial, o que pode ser visto como um jeito de reforçar estereótipos sobre mulheres bonitas e francesas.
Já a Durmstrang, que parece ser do norte da Europa, é descrita como uma escola que valoriza força, dureza e artes das trevas. Isso pode ser visto como um estereótipo do Leste Europeu, associando a região com severidade e uma tendência para o lado mais sombrio. Durmstrang também é apresentada, aparentemente, como uma escola só para meninos, o que pode reforçar estereótipos de masculinidade ligados à força bruta e agressividade. O Viktor Krum, campeão de Durmstrang, é um jogador de Quadribol conhecido pela força física e habilidade, mas no começo ele é pouco desenvolvido em termos de personalidade, o que pode ser visto como a continuação do estereótipo do atleta masculino forte, mas de poucas palavras.
Mais um problema é a briga entre Ron e Harry, que é a primeira briga séria entre os dois. Tudo começa quando Harry é escolhido de forma misteriosa para o Torneio Tribruxo. Ron fica com ciúmes e dúvidas sobre toda a atenção e sucesso que o Harry sempre tem. Durante a série, Ron é mostrado como alguém que se sente menos perto dos irmãos dele, que são bem-sucedidos. Nesse livro, ele direciona esses sentimentos para Harry. Ron fica com ciúmes e inseguro, achando que Harry queria mais fama e atenção entrando no torneio, mesmo Harry dizendo que não se inscreveu. Ron vê isso como mais uma situação em que Harry é o centro das atenções e ele fica de lado.
Mas essa mudança no comportamento de Ron parece meio forçada ou não combina com como ele foi mostrado antes. Nos primeiros livros, Ron é super leal e, mesmo às vezes se sentindo ofuscado, ele sempre apoia Harry e nunca duvidou da honestidade dele. Seria até ok se tivesse um motivo forte para essa mudança, mas ele simplesmente começa a duvidar do amigo sem razão, só para criar um conflito que não ajuda a desenvolver os personagens e enfraquece a amizade deles. Isso parece meio incompatível com o que foi construído nos três primeiros livros, onde eles passaram por coisas bem mais sérias juntos. Parece que a autora quis criar um drama só para esticar a história, já que esse conflito não acrescenta nada ao enredo ou ao desenvolvimento dos personagens.
Na minha opinião, HARRY POTTER E O CÁLICE DE FOGO é o livro mais fraco da série até agora. Ele é bem longo e trata de temas sérios de uma maneira que não me convenceu, com uma mudança brusca no tom da história que parece sem preparação. Também notei uma alteração no comportamento dos personagens que não pareceu natural, além do uso de estereótipos óbvios e desnecessários. Outro ponto que me incomodou foi a insistência em colocar alguns personagens duvidando de fatos já comprovados, criando conflitos que não acrescentam muito à história. Sei que os próximos livros da série são ainda mais volumosos. Estou na expectativa de que eles tragam uma narrativa mais envolvente e bem desenvolvida.
As resenhas dos setes livros de Harry Potter se devem ao compromisso que tenho com o blog de apresentar obras literárias, sejam elas escritas por quem forem. Há resenhas de livros antigos de autores consagrados, como Mark Twain e Monteiro Lobato, por exemplo, que são carregadas de preconceito, machismo, racismo, homofobia, entre outros profundos problemas. Não penso que seja possível separar a obra do autor, pelo menos a nível de entretenimento. Mas penso que é necessário fazer isso a nível profissional, para estudar o que foi escrito e explicar o que há de errado para os tempos atuais.
J. K. Rowling publicou diversos comentários sobre identidade de gênero e direitos trans. Em vários tweets e um ensaio subsequente, ela expressou preocupações sobre o reconhecimento legal da autodeclaração de gênero e o impacto que isso poderia ter nas mulheres. Suas palavras são trans-excludentes e transfóbicas. Como resultado, Rowling é criticada por muitos fãs, ativistas e até mesmo alguns atores dos filmes de Harry Potter.
Rowling também não soube criar uma representação respeitosa e verídica dos povos indígenas norte-americanos em textos relacionados ao universo de Animais Fantásticos. Ela fez apropriação cultural e retratou incorretamente tradições e crenças indígenas. Aliás, os livros da série de Harry Potter possuem uma enorme falta de diversidade, de personagens LGBTQIA+, e excesso de estereótipos em alguns de seus personagens. Rowling, após o final da série, tentou abrandar as críticas alegando que sempre imaginou Albus Dumbledore como gay, mas qual o motivo de não existir o menor indício disso nos livros? Parece apenas uma tentativa de inclusão retroativa. Além de que não existem personagens negros de real importância na série, apenas alguns secundários que pouco aparecem.
Devido a esses, entre outros problemas, não me sinto confortável em recomendar a leitura dos livros. A presente resenha é o resultado do compromisso em escrever sobre todos os livros. Diante do exposto acima, a escolha de leitura é sua. Minha leitura se fez com a edição em capa dura lançada em 2017.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: J.K. Rowling TRADUÇÃO: Lia Wyler EDITORA: Rocco PUBLICAÇÃO: 2017 (versão capa dura) PÁGINAS: 480 |