As obras de autoras negras nacionais têm o poder de impactar vidas, abrir mentes e proporcionar uma conexão significativa com as experiências e realidades das jovens negras no Brasil. Além disso, essas autoras têm desempenhado um papel crucial na promoção da representatividade na literatura e na quebra de estereótipos prejudiciais que por muito tempo permearam o cenário literário nacional.

Ler obras de autoras que compartilham sua identidade racial é uma experiência poderosa. Ao se depararem com personagens que se parecem com elas e enfrentam desafios semelhantes, essas jovens encontram uma fonte de identificação e fortalecimento de sua autoestima. Através da literatura, elas percebem que suas vozes e histórias importam e que têm o potencial de se tornarem protagonistas de suas próprias jornadas. Permite que expandam seus horizontes culturais e sociais. Elas têm a oportunidade de conhecer diferentes realidades e perspectivas dentro do Brasil, compreendendo melhor a diversidade do país e a riqueza de sua herança afrodescendente. Isso contribui para uma maior empatia e respeito pela pluralidade cultural presente na sociedade.

Abaixo, uma lista de apenas DEZ obras nacionais de autoras negras. Existem muitas outras mais, então deixe um comentário sobre sua indicação e se já leu algum dos livros desta lista.

 

O CÉU ENTRE MUNDOS: O céu entre mundos é um romance para exercitar a imaginação, formular uma realidade de comunicação por telepatia e naves voando para outros sistemas planetários, mas também para ter notícias de quem veio antes de nós, pessoas cujas existências já eram futuristas no passado, pois pavimentaram estradas para que nós caminhássemos. Pensar por essa perspectiva é escapar da lógica ocidental e encaminhar nossa intelectualidade– espiritualidade, intuição, ori – para África. É na África que está a salvação da protagonista Karima, porque é lá que vive o ancestral com quem ela mantém conexão e diálogo.Conhecemos o planeta Wangari, planeta semelhante à Terra,espaço alternativo para se viver após a ação nociva do ser humano tornar o antigo planeta azul um lugar inabitável. Seus moradoressão negros, caracterizados a partir da nossa diversidade, o que é uma imaginação subversiva dentro de uma sociedade que repete “preto é tudo igual”. Mulheres e homens exercem o poder que lhes cabe e o ato de falar da história escrita por nossos antepassados na Terra aparece tanto como exercício memorialístico, quanto como necessidade política. É importante notar que não se trata de criar a imagem da perfeição. Em Wangari, existem conflitos, existe poder, mágoa e medo, porém a busca por solução para esses problemas é empreendida e protagonizada por pessoas negras que mantêm sua conexão com o continente africano. Uma visão futurista que deve inspirar o momento presente.

 

RETICÊNCIAS: Davi e Joana se conheceram online e, desde que se falaram pela primeira vez, não conseguiram mais parar. Os dois passam madrugadas conversando, assistem a filmes juntos, desabafam sobre o dia a dia e discutem questões existenciais. O único problema é que eles não sabem a verdadeira identidade um do outro. Para Davi, Joana é vidaspretas, a ilustradora incrível com quem entrou em contato para um trabalho. Para Joana, Davi é o caradaprefeitura, que mandou mensagem convidando-a para uma campanha de Dia da Consciência Negra. Tudo o que sabem um sobre o outro (e tudo o que importa) é que se gostam e estabeleceram uma conexão real, possível apenas porque o anonimato da internet permitiu que não tivessem medo de se abrir. O que eles não sabem, no entanto, é que estão muito mais próximos do que imaginam… Publicado pela primeira vez em e-book de forma independente, Reticências é uma história romântica e divertida, perfeita para aquecer o coração. Esta edição conta com novidades na trama, links para as playlists citadas na história e uma entrevista com a autora!

 

FLORES AO MAR: Escrito por quatro jovens escritoras negras que têm se destacado na literatura juvenil, “Flores ao mar” apresenta ao leitor, em contos interligados, as irmãs Rios. Com muito protagonismo e representatividade, o livro conta as aventuras de quatro irmãs negras durante um cruzeiro marítimo e aborda medos, inseguranças, desafios e descobertas comuns à juventude.

 

O MISTÉRIO DA SALA SECRETA: Júlia e Gabriel estão no 7º ano e são amigos desde muito pequenos, quando formaram a dupla de espiões Juliel. Agora, a dupla tem que voltar à ativa para encontrar um jeito de desvendar um grande mistério, antes que a prefeitura feche a Escola Municipal Maria Quitéria de Jesus, onde estudam. Em meio a planos e feiras de História, Júlia e Gabriel descobrem a lenda da Sala Secreta, e que ela pode não ser pura invenção dos alunos. Quem já viu o que há por trás da porta vermelha? E mais: o que Maria Quitéria, a heroína da Independência, tem a ver com a lenda?

 

ENTRE 3 MUNDOS: Há décadas, o Brasil vive intensos conflitos entre pessoas comuns e pessoas com dons extraordinários. Visando estabelecer a paz, as autoridades dividiram o país em dois territórios – o do Norte e o do Sul – e assinaram um contrato proibindo a migração de uma região para a outra. Alisa, ou Lisa, como prefere ser chamada, é de uma família do Norte, mas foi identificada como pertencente ao Sul. Agora, além de quebrar o contrato toda semana para visitar seus pais, ela precisa esconder a verdade de ambos os mundos. A garota também enfrenta problemas comuns da adolescência: acha o próprio nome bizarro, gosta do cara errado e é a única pessoa que não percebe o quanto seu melhor amigo é apaixonado por ela. E muitas mudanças ainda estão por vir. Após um grande acontecimento no colégio, a vida de Lisa se transforma completamente, e ela se vê diante de um desafio que envolve a descoberta do amor e de sua verdadeira identidade.

 

ÀS MARGENS DO TEMPO: Uma lavadeira que sonha em ser marceneira acaba abrigando uma moça que sonha em ser professora. Uma escritora sofrendo de um bloqueio literário se refugia no meio do nada, e é inspirada por uma fonte bastante inusitada. Uma mãe à beira do esgotamento precisa lidar com a aparição de uma menina idêntica à sua filha. Uma jovem entra em trabalho de parto em meio à maior enchente das últimas décadas. Uma jornalista vai atrás de suas origens e descobre mais do que esperava. E uma menina vinda do rio precisa desafiar aqueles que ameaçam sua família. Com essas seis histórias, que na verdade são uma só, acompanhamos várias gerações da mesma família e uma certa viajante do tempo, sempre na mesma casa, sob a copa da mesma quaresmeira, cercadas pelo mesmo rio. Separadas em décadas diferentes, há algo além do laço sanguíneo que conecta nossas protagonistas: suas vivências, cheias de celebrações e dificuldades, amparadas por uma protetora que sabe a hora exata de ajudá-las, ainda que por linhas tortas. Mas, conforme o tempo passa, a magia que as acompanhou ao longo de toda a vida se depara com uma inevitabilidade: a de que o fim é apenas o começo.

 

ENTERRE SEUS MORTOS: Uma habilidosa mescla de novela policial, faroeste de horror e romance filosófico, escrito por uma das vozes mais originais da literatura brasileira contemporânea. Edgar Wilson é “um homem simples que executa tarefas”. Trabalha no órgão responsável por recolher animais mortos em estradas e levá-los para um depósito onde são triturados num grande moedor. Seu colega de profissão, Tomás, é um ex-padre excomungado pela Igreja Católica que distribui extrema unção aos moribundos vítimas de acidentes fatais que cruzam seu caminho. A rotina de Edgar Wilson, absurda em sua pacatez, é alterada quando ele se depara com o corpo de uma mulher enforcada dentro da mata. Quando descobre que a polícia não possui recursos para recolhê-lo ― o rabecão está quebrado ―, o funcionário é incapaz de deixá-lo à mercê dos abutres e decide rebocar o cadáver clandestinamente até o depósito, onde o guarda num velho freezer, à espera de um policial que, quando chega, não pode resolver a situação. Nos próximos dias, o improvisado esquife receberá ainda outro achado de Wilson, o lacônico herói deste desolador romance kafkiano: desta vez o corpo de um homem. Habituados a conviver com a brutalidade, Edgar e Tomás não se abalam diante da morte, mas conhecem a fronteira, pela qual transitam diariamente, entre o bem e o mal, o homem e o animal. Enquanto Tomás se empenha em salvar a alma, Edgar se preocupa com a carcaça daqueles que cruzam seu caminho. Por isso, os dois decidem dar um fim digno àqueles infelizes cadáveres. Em sua tentativa de devolvê-los ao curso da normalidade, palavra fugidia no universo que Ana Paula Maia constrói magistralmente, os dois removedores de animais mortos conhecerão o insalubre destino de seus semelhantes. Com uma linguagem seca, que mimetiza as estradas pelas quais o romance se desenrola, a autora faz brotar questões existenciais de difícil resolução. O resultado é uma inusitada mescla de romance filosófico e faroeste que revela o poderoso projeto literário de Maia.

 

ASSIM NA TERRA COMO EMBAIXO DA TERRA: Com uma linguagem direta e sem rodeios, Assim na terra como embaixo da terra prende a atenção do leitor logo nas primeiras páginas. Este eletrizante e premiado romance de Ana Paula Maia narra o cotidiano de uma colônia penal isolada em vias de desativação. Construída em um terreno com histórico tenebroso de tortura de escravos e assassinato, a instituição foi criada para ser um modelo de detenção do qual preso algum jamais fugiria. Com o tempo, o objetivo inicial de socializar os detentos para reinserção na vida em comunidade foi sendo deturpado. Na prática, a colônia se transformou em algo muito diferente: uma espécie de campo de extermínio. Nos últimos dias de funcionamento, o clima no local, que conta então com poucos apenados, é de aparente calma. No entanto, pouco a pouco os horrores vividos ali vão sendo revelados. O agente superior Melquíades é a maior autoridade por trás daqueles muros, e também o algoz dos presos. Nas noites de lua cheia, o chefe libera alguns condenados da tornozeleira e ordena que corram. Ele, então, inicia um sinistro jogo, caçando os homens com seu rifle como se fossem animais selvagens, apenas por satisfação pessoal. Os presos, cada qual com sua história, estão sempre planejando a própria fuga, sem saber se vão acabar mortos pelos guardas ou pelo que os espera do lado de fora da Colônia. Fruto da sensibilidade e do talento de Ana Paula Maia, Assim na terra como embaixo da terra surge em um momento de discussão sobre a situação do sistema penitenciário no Brasil, com a ascensão de um discurso extremista e violento oposto às políticas de defesa dos direitos humanos. Um livro impactante e necessário, que nos leva a olhar para aqueles indivíduos a quem restam somente o trabalho que ninguém quer fazer e o desprezo da sociedade.

 

CANÇÃO PARA NINAR MENINO GRANDE: Trata-se de um mosaico afetuoso de experiências negras, um canto amoroso e dolorido. Na figura do personagem Fio Jasmim, Conceição discute com maestria as contradições e complexidades em torno da masculinidade de homens negros e os efeitos nas relações com as mulheres negras. O livro é um mergulho na poética da escrevivência e ao mesmo tempo um tributo ao amor sob uma ótica poucas vezes vista na literatura brasileira.

 

OLHOS DE AZEVICHE: Dez escritoras negras brasileiras em vinte contos soma grandes forças ao exercício de renovação da literatura brasileira. Renovar: palavra precisa para pontuar essa desejada circulação de ares: uma renovação sustentada em “passos que vem de longe”. Textualidades que articulam gênero e raça como lugar de enunciação têm a pujança de renovar a literatura nacional, justamente porque inscrevem o olhar que não espelha o mesmo ovo chocando sob o mesmo sol dos colonizadores de outrora.Este livro percorre as vias de um mundo cheio de curvas, nuances, problemas, banzos, correntezas, pensamentos. Olhos de azeviche: dez autoras negras brasileiras em vinte contos, vias de afeto. Novos olhares. O que este olhar diz de seus espelhos? O que diz de nós? Do tempo que vivemos? Lava, lacrimeja os olhos. Dilata as pupilas. Amplia as miras.