Jai tem nove anos e é fã de séries policiais. Quando um garoto da escola desaparece, ele e seus amigos Pari e Faiz resolvem fazer as vezes de detetives e desbravar alguns dos lugares mais perigosos da cidade indiana onde vivem em busca de pistas. Mas o que começou como uma simples brincadeira ganha contornos sinistros à medida que mais crianças somem sem explicação. Para desvendar o mistério, o trio terá que enfrentar ameaças desconhecidas, pais apavorados e uma polícia negligente ― enquanto põem à prova os limites de sua própria ingenuidade.
A autora leva o leitor para uma jornada tocante e realista pelos becos e vielas da favela de Annawadi, onde a vida é difícil, brutal, e muitas vezes injusta. Acompanhamos a trajetória de três crianças amigas: Jai, Pari e Faiz. Elas se unem para desvendar o mistério do desaparecimento de Bahadur, um adolescente que frequentava a mesma escola, enfrentando os desafios e perigos de uma investigação perigosa em uma comunidade onde a polícia é corrupta e a pobreza é opressiva.
Jai é o narrador da maioria dos capítulos, mas não de todos. Alguns são em terceira pessoa. Ele é um menino de nove anos com uma curiosidade inesgotável. Pari, amiga de Jai, é uma menina valente, cheia de inteligência e determinação. E Faiz, o melhor amigo de Jai, é um garoto com deficiência física, mas sua mente afiada compensa qualquer limitação. As três crianças são apresentadas de maneira cativante e carregam o peso emocional da história, cada um com suas próprias motivações e ambições.
Ao longo da narrativa, a autora apresenta uma ampla gama de personagens secundários, cada um com suas histórias e desejos, que se interligam de alguma forma com as crianças e com o desaparecimento do adolescente. Desde a mãe de Bahadur, com sua dor esmagadora e esperança frágil, até a policial de coração endurecido, que luta contra seus próprios demônios internos. Cada personagem secundário é habilmente construído e contribui para a textura e profundidade do enredo.
Mas o principal destaque é que Anappara dá voz às crianças, revelando sua resiliência diante da adversidade, sua inocência roubada e sua busca por justiça. Muitos diálogos e descrições de Jai são feitas de maneira ingênua, ficando para o leitor interpretar e compreender o verdadeiro significado do que a criança está vivenciando. Todos os personagens são complexos, autênticos e evoluem ao longo da história, enfrentando suas próprias falhas e desafios, com as nuances emocionais e os dilemas éticos enfrentados individualmente.
A amizade entre Jai, Pari e Faiz é o fio condutor que une suas perspectivas únicas e os incentiva a explorar as profundezas da investigação. Cada uma das crianças contribui com sua visão de mundo e habilidades individuais, complementando-se para desvendar a verdade por trás do desaparecimento do amigo.
OS DETETIVES DA LINHA PÚRPURA é uma obra de ficção envolvente que oferece uma perspectiva impactante sobre a realidade das crianças que vivem em favelas urbanas. Deepa Anappara mergulha fundo nas vidas dos personagens e apresenta suas lutas e triunfos com uma empatia visceral. A história mantém o leitor preso, com um enredo bem construído e uma narrativa que combina tensão, esperança e desespero. Ainda lança luz sobre as injustiças sociais e a resiliência das crianças diante da adversidade.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: Deepa Anappara TRADUÇÃO: Odorico Leal EDITORA: Companhia das Letras PUBLICAÇÃO: 2023 PÁGINAS: 376 |
Suspense não é exatamente o meu gênero favorito, porém, devo confessar que estou adorando suas últimas resenhas. No momento, estou lendo As aventuras de Tom Sawyer, mas assim que concluir esse, pretendo encaixar “Os Detetives da Linha Púrpura” na minha lista. Sua resenha foi ótima, como sempre.