A cada cem anos, a ilha mágica de Lightlark aparece por apenas cem dias para sediar um jogo mortal em que os governantes de seis reinos lutam para quebrar as maldições que assolam suas terras e ganhar poder inigualável. Todos os governantes têm um segredo a esconder. Cada maldição é especialmente perversa. Para acabar com elas e salvar seus reinos, um dos governantes precisa morrer. Para sobreviver, Isla Crown terá que mentir, enganar e trair. Mesmo que o amor surja para complicar tudo…
Existem seis povos nesse mundo: selvagens, estelares, lunares, etéreos, solares e umbros. Cada um deles possui uma maldição. Isla é uma selvagem e sua maldição é matar aquele por quem se apaixona. Ou seria, uma vez que Isla não possui qualquer dos poderes dos selvagens, então não está presa a nenhuma maldição. Mas isso é seu maior segredo, uma vez que na ilha de Lighlark, onde acontecerá o jogo mortal, se seu segredo for revelado, ela será o alvo de todos os governantes.
Celeste, a governante Estelar, é a amiga mais próxima e fiel de Isla. As duas criaram um plano para quebrar a maldição de seus reinos. Caso tenham sucesso no intento, não precisarão participar dos jogos, poderão fugir de Lightlark, e salvar seus povos. Mas a tarefa é difícil, uma vez que o componente que precisam está escondido, muito bem escondido, em uma das bibliotecas da ilha.
Grim é o governante de Umbra que detém o poder sobre as trevas. Oro é o rei Solar, regente da ilha de Lighlark, e o governante que administra o jogo mortal. Ambos são imortais, e ambos não conseguem desviar os olhos de Isla. Eles não sabem se devido ao poder dos selvagens, ou se realmente estão se apaixonando pelo inimigo. Grim detém um segredo obscuro, enquanto Oro descobre uma maneira de terminar com os jogos definitivamente, sem precisar matar outro governante, mas para isso, precisa da ajuda de Isla.
Nesse jogo de poder e sedução, ainda existem dois outros peões, Cleo dos lunares e Azul dos Etéreos. Cleo é inimiga confessa de Isla e aparenta desejar matá-la assim que tiver uma oportunidade. Azul tem alguma ligação secreta com Oro, algo que parece estar conectado com a ilha e com os jogos. Isso pode ser um perigo para todos.
LIGHTLARK é o primeiro livro da autora, de apenas 27 anos, e nota-se claramente as inspirações que teve de outros livros famosos de fantasia. Uma personagem feminina em perigo, mas altamente capaz de se defender, embora seja salva repetidamente por homens. Dois homens que a desejam, um deles envolto por características obscuras, pertencentes às trevas, e outro rude, mas envolto pela luz e com aspirações sinceras e benevolentes. Ela está dividida entre eles. Inimigos diferentes, ameaças constantes, e uma reviravolta no final sobre quem é quem de verdade. Isso praticamente descreve os livros mais lidos de fantasia do gênero Young Adult, como CORTE DE ESPINHOS E ROSAS, O PRÍNCIPE CRUEL, SOMBRA E OSSOS, TRONO DE VIDRO, entre outros.
Apesar dessas semelhanças na construção dos personagens e do enredo, LIGHTLARK se afasta dos problemas existentes nessas outras fantasias. Problemas de relacionamentos tóxicos, onde a garota se apaixona por quem matou a família e queimou sua casa; onde a garota romantiza com o homem que a tortura com constantes ataques de bullying; onde a toxicidade e a agressão são características do amor incondicional de uma mulher por um homem. Pelo menos nisso, LIGHTLARK não teve inspiração.
Entretanto não quer dizer que a história não traz problemas. Isla tem pouco menos de 20 anos de idade. Grim e Oro são seres com mais de 500 anos de idade. Penso que seria um enorme problema caso essa diferença de idade não fosse relativizada em muitas fantasias, como Crepúsculo, por exemplo. Quantas pessoas suspiraram pelo romance entre Bella, de 17 anos de idade, e Edward, um vampiro com mais de 100 anos de idade? Por conta dessa normalização, penso que nem posso criticar muito, apenas destacar.
Uma outra questão é a relação entre Isla e Celeste. Existem três ou quatro trechos onde acontece uma química romântica entre as personagens, mas em todos eles, a autora faz questão de frisar que elas são apenas amigas, amigas próximas, confidentes, mas amigas. Achei estranho, afinal para quê criar essa insinuação sexual entre elas se não pretendia criar nenhum romance sáfico? Faltou coragem? Ou usou essas partes apenas para tentar flertar com o público LGBTQIA+? Ficou estranho.
Apesar desses pontos e da história seguir um roteiro pré-definido, sem qualquer surpresa, até mesmo no final e na reviravolta que apresenta, ela entretém. É divertido acompanhar as artimanhas de Isla e seus romances com Grim e Oro; de seguir a busca pelos dois segredos da ilha, um deles com Celeste e outro com Oro. Os trechos de luta convencem, não são descritivos demais, nem extensos, na medida certa. Os diálogos não trazem inspiração, mas também não atrapalham. Isla, como personagem, conseguiu me conquistar.
Penso que ao final, é um livro para passar o tempo, que não deixará nenhuma lembrança mais permanente, mas, pelo menos, também não enaltece o abuso e a violência. Penso que isso já faz valer muito a leitura, porque comprova como é possível construir uma fantasia YA sem apelar para a toxicidade como meio de prender a atenção do leitor.
Ah, LIGHTLARK já teve os direitos de adaptação para o cinema comprados pela Universal.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: Alex Aster TRADUÇÃO: Carol Christo EDITORA: Rocco PUBLICAÇÃO: 2023 PÁGINAS: 384 |
Carlos, devo admitir que inicialmente a capa desse livro não me chamou muito a atenção. No entanto, após vê-lo várias vezes na minha TL (e após sua resenha), decidi dar uma nova chance.
Ps. Ótima resenha (como sempre)!