Romance de estreia da australiana M. L. Stedman, A luz entre oceanos alcançou as principais listas dos mais vendidos do mundo, incluindo o cobiçado ranking do The New York Times, onde permaneceu por mais de quatro meses. Escrito por uma advogada que aborda os limites da ética e os dilemas morais sob diferentes pontos de vista, o romance conta a história de Tom Sherbourne, faroleiro de uma ilha isolada na costa oeste da Austrália, e sua mulher, Isabel. Impedidos de ter filhos, a vida do casal sofre uma reviravolta quando um barco à deriva aporta na ilha. Publicado em 25 países, A luz entre oceanos é um livro emocionante sobre perdas trágicas e escolhas difíceis, sobre a maternidade e os limites do amor.

Tom é um veterano da Segunda Guerra que aceita trabalhar cuidando de um farol em Janus, uma ilha remota e sem habitantes da costa australiana. Nos primeiros meses, e nas poucas vezes que deixou a ilha para ir ao continente, se apaixonou por Isabel, e esta por ele. Os dois se casam. O local, mesmo isolado, mostra-se o paraíso para o casal. Isso, até Isabel ficar grávida e perder o bebê. E o mesmo acontece numa segunda tentativa. E numa terceira.

O psicológico de Isabel fica comprometido, seu desespero é compreensível e doloroso, mesmo para o leitor. Tom tenta se manter presente, consolar a esposa da forma que é possível, mas existem coisas que apenas uma mulher consegue sentir. Então, no meio desse desespero, aparece uma barco à deriva. Nele, um homem morto e um bebê chorando. Isabel enxerga isso como um presente de Deus, a chance de ser mãe. Tom, com toda a sua honestidade e caráter, é contra o pedido de Isabel: contar para todos que a criança é deles. Mas o amor que ele sente pela esposa é maior que seu caráter, e os dois consolidam a farsa.

Anos mais tarde, com Lucy, a criança que eles encontraram e que todos pensam ser filha deles, com cinco anos de idade, Tom, acidentalmente, descobre quem é a mãe verdadeira, e em como ela, Hannah, sofre todo esse tempo pelo desaparecimento da filha. Então, fica óbvio para o leitor, que lágrimas, muitas lágrimas serão derramadas na conclusão desse livro, porque é impossível existir um final que seja indolor, mesmo que justo.

A LUZ ENTRE OCEANOS compreende diversos tipos de amor: o amor entre um casal, o amor entre filhos e pais, o amor para perdoar, o amor para a sabedoria do que é certo fazer. Mas também é uma história sobre escolhas, certas e erradas, e sobre suas consequências. É sobre caráter, sobre raiva, sobre sacrifício. Acredito que quando cheguei ao fim da leitura, meu coração estava totalmente dilacerado pela quantidade de emoções que senti.

Ao contrário do que eu imaginei no início, Tom é o personagem que tem as escolhas mais difíceis, e é aquele que demonstra conseguir equilibrar amor, responsabilidade, caráter e resignação da forma mais correta possível. Ele sabe que mentir sobre ser pai de uma criança que não é deles, é errado. Mas ele reconhece que Isabel está à beira de um colapso após o terceiro aborto. Ele não mente para ser pai, ele mente para salvar a esposa de enlouquecer.

Quanto Tom descobre quem é a mãe biológica de Lucy, ele acredita que Isabel já está forte o suficiente para conseguir superar o que precisa ser feito. Nesse ponto, Tom usa a honestidade e a compaixão para fazer o que deve. E quando a verdade vem à tona, e com ela as consequências para o que Isabel e ele fizeram, Tom absorve toda a culpa para salvar Isabel de um castigo que deveria ser dos dois. Por toda a história, o amor de Tom por Lucy, por Isabel e pela própria Hannah, é o sentimento mais verdadeiro, mais puro que existe.

Isabel, diante das perdas que sofre, da inabilidade de ser mãe, se apoia em Lucy para se manter lucida e conseguir viver. Ela não consegue enxergar nenhuma outra opção além dessa. Ela não consegue sentir nada mais além do amor que sente por Lucy. Todo o resto, inclusive Tom, são secundários. Em certo ponto da narrativa, eu senti raiva de Isabel e por todo o seu egoísmo. Eu julguei. É um fato que o que ela fez é errado. Mas é um fato, também, e isso só compreendi perto do final da história, que Isabel não é perfeita, que ela quer ser, acima de tudo, uma mãe, uma mulher, que na mente dela, isso não é possível, a não ser pela representação da figura de mãe e pela presença de Lucy. Isabel é alguém que sofre diante de sua impotência biológica. Mas ela, no fundo, ama Tom com todas as suas forças. Esse amor só está ofuscado pela dor que ela sente pela perda de três filhos. Mas ele existe, e ele retorna quando ela se vê diante de um impasse.

Por fim, Hannah é apenas uma vítima, como Lucy. Ela não fez nada, ela só sofre as consequências das escolhas dos outros. Mas ela, da mesma forma que Tom, é uma mulher íntegra, que tem raiva pelo que passou, mas que também reconhece uma gratidão pela forma como sua filha foi amada e educada durante cinco anos. A dúvida que fica, que pesa no coração do leitor, é se Hannah conseguirá enxergar isso antes de Isabel e Tom se perderam diante da justiça.

Como já disse, não tem como A LUZ ENTRE OCEANOS ter um final indolor. Mas é um final justo. E sua parte final, anos mais tarde, quando Lucy já é uma mulher, é impossível de não chorar.

O livro foi adaptado para o cinema e é bastante fiel ao livro. Segue praticamente tudo.



AVALIAÇÃO:


AUTOR: M. L. Stedman
TRADUÇÃO: Geni Hirata
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2013
PÁGINAS: 368