Lucy Houston e Mickey Chandler não deveriam se apaixonar. Os dois sofrem de doenças genéticas: Lucy tem um histórico familiar de câncer de mama muito agressivo e Mickey, um grave transtorno bipolar. No entanto, quando seus caminhos se cruzam, é impossível negar a atração entre eles. Contrariando toda a lógica que indicava que sua história não teria futuro, eles se casam e firmam – por escrito – um compromisso para fazer o relacionamento dar certo. Mickey promete tomar os remédios. Lucy promete não culpá-lo pelas coisas que ele não pode controlar. Mickey será sempre honesto. Lucy será paciente. Como em qualquer relação, eles têm dias bons e dias ruins – alguns terríveis.
Depois que Lucy quase perde uma batalha contra o câncer, eles criam mais uma regra: nunca terão filhos, para não passar adiante sua herança genética. Porém, em seu 11° aniversário de casamento, durante uma consulta de rotina, Lucy é surpreendida com uma notícia extraordinária, quase um milagre, que vai mudar tudo o que ela e Mickey haviam planejado.
Esta foi uma das leituras mais difíceis que tive na minha vida. A história de DANÇANDO SOBRE CACOS DE VIDRO é capaz de abater pela quantidade de fatos tristes que relata. Seria uma leitura depressiva, se não mostrasse como os personagens, mesmo com tantas tragédias e problemas, conseguiram superar e seguir em frente.
Devido a um histórico de câncer de mama na família, as três irmãs, Lucy, Lily e Priscilla, precisam fazer exames regulares de prevenção. Lucy, inclusive, já teve um câncer e conseguiu superar por ter sido descoberto cedo. Já Lily, perdeu dois filhos e qualquer sonho de ser mãe. Quando tentou adotar uma criança, quando já estava com ela em casa, a mãe natural mudou de ideia e a levou embora. Enquanto Priscilla afoga seus medos e traumas em trabalho e em atitudes duras, que a afastam um pouco das irmãs. Apesar de tudo, as três irmãs sabem que dependem uma da outra, uma vez que o pai e a mãe já não estão entre elas. Lucy é o tipo de mulher que não se deixa abater, que bate de frente, que persegue seus sonhos e quem ela deseja. E é isso que a diferencia das duas irmãs e que a torna a mais forte do elo.
Mickey tem transtorno bipolar severo, que faz com que tenha momentos de total lucidez, e momentos de puro descontrole e loucura, quando precisa ser internado por vários dias, até conseguir se recuperar. Em uma festa de aniversário, ele conhece Lucy, se apaixonam, fazem várias promessas, sendo uma delas de nunca terem filhos, uma vez que ambas as doenças que enfrentam são hereditárias, se casam e vivem felizes, entre momentos difíceis, devido a seus problemas de saúde, por onze anos. Então, um dia, mesmo Lucy tendo ligado as trompas, ela descobre que está grávida. Nesse mesmo dia, ela também descobre algo mais.
Bem, DANÇANDO SOBRE CACOS DE VIDRO é um livro para você chorar. Chorar muito, por todas as páginas. Não apenas pelos momentos tristes, mas pelos momentos em que os personagens levantam a cabeça e persistem em viver, em lutar para serem felizes, em enfrentar o que aparecer pela frente. Lucy, Lily, Priscilla, Mickey, os médios que acompanham todos há décadas, os amigos que ficam ao lado em todos os momentos, enfim, todos os personagens têm uma função de passar ao leitor que a vida é feita de tragédias, algumas menores, algumas maiores, que não somos imortais, que somos máquinas imperfeitas, que todos nós, sem exceção, estamos fadados a ficarmos doentes, a superamos as doenças, ou a sucumbirmos diante delas, mas sempre com a responsabilidade de concretizarmos nossos sonhos, de fazermos os outros, e a nós mesmos, felizes, independentemente do quanto isso seja difícil, do quanto seja doloroso.
Ao mesmo tempo que DANÇANDO SOBRE CACOS DE VIDRO explica a inevitabilidade da morte, ele explica que ela faz parte da vida, que nossa missão não é viver para sempre, nem da forma mais tranquila, mas, sim, de criar vida, não apenas pelo nascimento de um filho, mas do planejamento da felicidade de quem gostamos, para que quem fica, apesar das saudades, terá condições de continuar em frente, conseguirá ser, dentro do possível, feliz.
Óbvio que isso não é fácil de compreender e nem de aceitar. Nunca é e nunca será. Mas é um fato incontestável, algo que por mais que você negue ou tenha medo, um dia terá que enfrentar, e, por isso, que seja consciente do que precisará fazer para que sua vida tenha algum significado, não apenas para você, mas para aqueles que você ama e que amam você.
Tudo isso está nas páginas de DANÇANDO SOBRE CACOS DE VIDRO, às vezes de forma alegre, às vezes de forma bela, às vezes de forma triste. Ao fim da leitura, seu coração estará dilacerado, você terá chorado muito, mas você terá um pouco mais de sabedoria para conseguir enfrentar o que poderá aparecer na sua vida. E mais, saberá, através dos personagens e de suas atitudes, como é belo e nobre fazer o que é certo, mesmo que isso custe caro, muito caro, porque apesar do preço elevado, no fim, naquele momento em que sobra apenas você e o que existe depois da vida, você estará livre de pesos, estará feliz por saber que quem fica para trás, tem chances de continuar o que você começou.
AVALIAÇÃO:
AUTORA: Ka Hancock
EDITORA: Arqueiro
PUBLICAÇÃO: 2013
PÁGINAS:
COMPRAR: Amazon