Constantinopla, século XV, a maior e a mais rica cidade da europa, que já havia sido a capital do Império Romano (330–395), do Império Bizantino (ou Império Romano do Oriente) (395–1204 e 1261–1453), do Império Latino (1204–1261), sofre o ataque dos turcos, que eventualmente irão conseguir passar pelos gigantescos muros da cidade. Anna é uma órfã de treze anos que mora em Constantinopla e trabalha em uma casa de mulheres que ganham a vida bordando trajes eclesiásticos.
Anna tem uma irmã mais velha, Maria, de quem nutre enorme afeição. Inquieta e de uma curiosidade insaciável, ela aprende a ler com um velho mestre, mesmo sendo algo proibido para mulheres. Junto com Himério, um garoto pouco mais velho do que ela, invade a torre de um convento, onde fica uma biblioteca esquecida pelo tempo, e rouba rolos de pergaminhos para vender a homens misteriosos. Numa dessas incursões, encontra um livro intitulado Cuconuvolândia, de Antônio Diógenes, escrito no século II, que narra a história de Éton, um rapaz que deseja ser transformado em pássaro e voar até um paraíso utópico no céu. Após uma situação que deixa Maria muito doente, Anna usa a leitura do livro de Diógenes para entreter as noites da irmã e diminuir seu sofrimento. Até que Constantinopla é invadida pelos Turcos e o destino de Anna é dramaticamente decidido.
Omeir nasceu a trezentos quilômetros de Constantinopla. Nasceu com um defeito: no lado esquerdo de sua boca, uma fenda divide o lábio superior da gengiva até a base do nariz. Na época, o prenúncio de uma maldição. Mesmo assim, divide sua vida com o avô, com quem aprende a cuidar de animais, e com a mãe e irmãs. Quando os turcos chegam para invadir Constantinopla, Omeir é convocado à força, bem como os animais de quem cuida, que servirão para o transporte de mantimentos das tropas e, futuramente, de alimento. Até que os turcos conseguem vencer a resistência da cidade, e Omeir tem a chance de fugir. Mas ele se depara com alguém que irá mudar sua vida completamente.
Em 2020, Zeno é um homem já de idade, que conseguiu sobreviver aos horrores da guerra, e trabalha em uma biblioteca escolar de uma pequena cidade dos Estados Unidos. Durante a época em que foi prisioneiro dos nazistas, Zeno aprendeu grego, um conhecimento que se demonstrou útil quando chegou às suas mãos os fragmentos de um livro muito antigo, Cuconuvolândia, de Antônio Diógenes. Fascinado, durante décadas, Zeno se dedicou à tradução das páginas incompletas. Essa paixão, Zeno divide com cinco crianças da escola, e agora ensaiam uma peça de teatro que irá contar as aventuras do personagem Éton. Até que são interrompidos por um rapaz que planeja plantar uma bomba e destruir a escola.
Seymour é um adolescente problemático. Nasceu com uma condição que torna todos os seus sentidos extremamente fortes. Precisa usar abafadores nos ouvidos para conseguir se concentrar. Ainda criança, ficou fascinado por uma coruja que tinha um ninho na floresta ao lado de sua casa. Até que uma construtora resolveu construir um condomínio, o que causou a morte de muitos animais, inclusive da coruja. Revoltado, Seymour começa uma jornada rumo a atos violentos de vingança, que culminam no plano de explodir o escritório da construtora, que fica ao lado da biblioteca de um colégio. Ele invade a biblioteca com uma mochila cheia de explosivos, mas algo acontece que inicia uma sequência de eventos que irão mudar a sua vida e a de muitas outras pessoas no futuro.
Missão ano 65, a milhões de quilômetros da Terra. Nesse futuro, Konstance é uma garota de catorze anos que nasceu na nave Argos, junto com dezenas de outras pessoas. Eles rumam para um planeta que será o novo lar da humanidade. Durante a viagem, ela e os outros jovens estudam em um ambiente virtual, uma gigantesca biblioteca que contém todas as informações do planeta, todos os livros publicados, uma enciclopédia completa de todo o conhecimento possível, bem como um mapeamento preciso de cada canto da Terra. A viagem acontece de forma tranquila, até que uma criança adoece misteriosamente. É algo contagioso que se espalha rapidamente. Konstance é isolada em um quarto pela inteligência artificial da nave, e passa meses presa sem saber o que acontece fora de seu quarto. Durante esse tempo, ela inicia uma investigação da missão em que está, usando o espaço virtual, até que encontra estranhos sinais, pistas espalhadas por vários locais do planeta, que a levam a uma biblioteca escolar do século 21, onde está um livro em destaque, Cuconuvolândia, de Antônio Diógenes. E isso desencadeia uma série de descobertas que levarão Konstance para um destino muito diferente daquele que ela pensou que teria.
CIDADE NAS NUVENS conta a história de cinco personagens, Anna, Omeir, Zeno, Seymour e Konstance, cinco histórias separadas por séculos e contadas em capítulos alternados, que em determinado ponto se conectam pela presença de um ponto em comum; o livro Cuconuvolândia, de Antônio Diógenes. A importância e o significado desse livro é diferente de personagem para personagem. Para Anna é a esperança; para Omeir, é um milagre; para Zeno é uma obsessão; para Seymour é a chance de redenção; para Konstance, é a salvação. Mas como um livro pode ter tamanha importância e tantos significados? Como um livro pode mudar a vida desses cinco personagens de maneira tão profunda? Essa é a descoberta que o leitor faz durante a leitura das mais de 700 páginas de CIDADE NAS NUVENS. E quanto ela acontece, é uma experiência única, emocionante. É uma necessidade de parar, de pensar, de analisar a nossa vida e as escolhas que fazemos.
Com cinco personagens e cinco histórias, é natural ter alguma preferência. Eu tive. Os capítulos que narram a vida de Anna, para mim, são magníficos. Ela é uma personagem jovem, determinada, sobrevivendo em um mundo selvagem, cruel, mas com uma sede tão grande de conhecimento, que é apaixonante. Mas o mais empático, é ela ser uma garota imperfeita, com decisões que colocam em risco sua vida e a vida de pessoas que ama. E é muito forte, profundo, triste, como ela precisa lidar com as consequências dessas decisões. Bem como é a parte em que Anna foge de Constantinopla e, em um único capítulo, é narrada toda a sua vida futura ao lado de um outro personagem. É muito lindo!
Minha segunda preferência são os capítulos de Konstance, e eles guardam a maior surpresa da história, principalmente quando descobrimos como o livro de Diógenes consegue chegar até ela e como salva sua vida. Konstance é muito parecida com Anna, na idade, na sede de conhecimento, na determinação. Essa semelhança não é acidental, embora não exista qualquer menção a uma descendência. Fica evidente que a jornada do livro Cuconuvolândia começa e termina na mão de duas personagens que poderiam ser a mesma. Inclusive, após a grande surpresa e reviravolta do final, a vida futura de Konstance é narrada de maneira bem próxima à de Anna, com o mesmo final. É muito emocionante.
Omeir e Zeno possuem histórias compostas por grande sofrimento e uma enorme porção de coragem. Um pela descriminação e solidão impostas pelo defeito facial de nascença. O outro, pela luta durante a guerra. Mas é com Seymour que recebemos uma surpresa que reverbera pelo futuro e será o estopim para que Konstance encontre o livro e tenha sua vida salva. São histórias tão bem construídas, tão bem conectadas, que, sinceramente, me impactou de uma maneira que transformou esse livro em um dos favoritos da vida.
Se puder, leia CIDADE NAS NUVENS, com calma, para conseguir abstrair todas as mensagens e lições, para se apaixonar por Anna, para torcer por Konstance, para perdoar Seymour, para se compadecer por Omeir, para admirar Zeno. Não é apenas uma leitura, é uma experiência única.
Ah, Cuconuvolândia, de Antônio Diógenes, realmente existiu. Antônio Diógenes foi autor, nascido no século II, segundo alguns estudiosos. Seu romance consistia de vinte e quatro livros, escritos na forma de diálogos, mas, como tantos outros textos, se perdeu no tempo. Ele é considerado o primeiro autor de uma ficção-científica da história da humanidade.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Anthony Doerr
TRADUÇÃO: Marcello Lino
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2022
PÁGINAS: 752
COMPRAR: Amazon
Carlos, como eu estava com curiosidade sobre esse calhamaço!
Não li muitas resenhas dele e estava com muitas dúvidas que foram sanadas só aqui.
Sei que mexer com blog anda complicado. O povo some se não tem sorteio. Mas não deixa de vir, ok?
Eu preciso desse conteúdo, preciso ler e preciso viver esses livros.
Já vai para a lista de muito, mas muito desejados!!!!
Beijo e obrigada!!!
Angela Cunha/O Vazio na flor
Oi, Angela!
É um livrão, nos dois sentidos kkkkkk Se puder, leia, com calma, sem pressa. Aproveite cada página.
O blog não parou e nem vai. Só diminuí as postagens, mas sempre vou compartilhar aqui o que penso de alguns dos livros que leio. Não todos mais, mas ainda assim, será regular 😉