Publicado pela primeira vez em 1719, ROBINSON CRUSOÉ é mais que um clássico. Por seu apelo universal, a história do náufrago solitário, isolado por quase três décadas numa ilha deserta, tornou-se um dos símbolos da modernidade, que coloca o indivíduo no centro de sua própria existência.
Com uma prosa aparentemente despretensiosa mas repleta de nuances, o autor narra a vida atribulada de Crusoé a partir da intempestiva decisão de abandonar um destino trivial no interior da Inglaterra para se tornar marinheiro. Após várias desventuras e uma crucial estada no Brasil, seu barco naufraga em meio a uma tempestade violenta, a tripulação morre e ele vai parar numa ilha deserta tendo apenas um facão, um cachimbo e um pouco de tabaco, além de um formidável instinto de sobrevivência. Com disciplina, Crusoé aprende não apenas a construir uma canoa, fazer uma panela e assar pão, mas também a enfrentar seus medos, dúvidas e a solidão absoluta. Até que, depois de 24 anos excruciantes, ele descobre uma pegada humana na areia.
A narrativa em primeira pessoa torna a leitura mais íntima de desesperadora conforme o tempo na ilha passa e Robinson não consegue uma salvação. Há pensamentos de como ele deixou o conforto de sua vida de classe média para viver no mar, longe do conforto e segurança. Suas aventuras não se limitam ao tempo na ilha. Antes disso, ele quase morre, é capturado por piratas, vendido como escravo, adquire uma plantação no Brasil, onde acontece uma passagem típica da época de homens brancos, quando Robinson faz um acordo com mercadores e outros fazendeiros para navegar até a Guiné, comprar escravos e voltar com eles para o Brasil. É justamente nessa viagem que ele vai parar na ilha.
Também requer discussão como quando Robinson resgata Sexta-Feira e inicia sua conversão para um cristão de língua inglesa, um paralelo a um passado que o Brasil conhece bem sobre extermínio da cultura original do povo indígena. E a história termina de forma emblemática, quando anos após conseguir sair da ilha, Robinson retorna para ver como o lugar ficou com a conquista dos espanhóis.
No final, ROBINSON CRUSOÉ é para ser lido e discutido, adaptado e compreendido sobre a época em que foi escrito e a época atual. Uma leitura rica e que pode suscitar horas e horas de conversa. Mas, talvez, sua maior importância, além de literária, seja como demonstra a capacidade do ser humano em passar por adversidades, como o instinto de sobrevivência está inerente à nossa espécie, e como, por isso mesmo, somos capazes de fazer qualquer coisa para manter a vida e a esperança, mesmo que improvável.
A edição da Zahar está magnífica, capa dura, muito luxo. Contém um texto de apresentação bem explicativo da época e como se deu a construção do livro, um prefácio e uma cronologia da vida do autor. Indispensável na sua estante!
AUTOR: Daniel DEFOE
TRADUÇÃO: José Roberto O’SHEA
EDITORA: Zahar
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 352
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