Assim que dá meia-noite, os atendentes da Central da Morte ligam para as pessoas que irão, inevitavelmente, morrer naquele dia. O toque no celular é diferente, atender ou não atender a ligação, não muda o que acontecerá. Quem recebe a chamada, não sabe como irá morrer e nem em qual momento do dia. A dica deixada pelos atendentes, é que a pessoa aproveite ao máximo as últimas horas.
Mateo tem 18 anos e recebe a ligação. Aliás, é no dia que faz 18 anos que acontece. Mateo perdeu a mãe cedo, e o pai está internado em um hospital, em coma. Lídia é sua única amiga, uma garota que ele ajudou quando ela ficou grávida e precisou cuidar da filha, Penny, sozinha. Agora Mateo precisa se despedir do pai, mesmo que o pai não consiga ter consciência, e de Lídia. Depois, aproveitar o que puder das horas finais. Para isso, ele entra no aplicativo Último Amigo, criado para ajudar as pessoas solitárias a terem uma companhia após receberem a ligação da Central da Morte.
Rufus tem 17 anos e recebe a ligação. E bem no momento em que está socando a cara de Peck, o namorado de sua ex-namorada, Aimee. Rufus é o líder de uma gangue de bairro, órfão após um acidente de carro que matou os pais e a irmã mais velha. Após bater em Peck, Rufus precisa se despedir dos amigos, da ex-namorada, que ainda gosta dele, e de tentar encontrar algum significado na curta vida que teve. Só que os amigos são presos por causa da agressão contra Peck, e a Rufus, só resta fugir. Para não passar as últimas horas sozinhos, Rufus entra no aplicativo Último Amigo.
Mateo e Rufus se conhecem pelo aplicativo. Trocam mensagens, combinam um encontro presencial. Como não se conhecem, começam de forma desconfiada. Rufus acompanha Mateo ao hospital para se despedir do pai. Também o acompanha à casa de Lídia. Mateo faz o mesmo quando Rufus procura os amigos, agora não mais presos. Bem como a ex-namorada. Aos poucos, conforme os dois vão se abrindo, visitando as pessoas que amam pela última vez, compartilhando seus traumas, suas frustrações, seus sonhos perdidos, compreendem o quanto vale uma vida bem aproveitada, e se apaixonam.
OS DOIS MORREM NO FINAL seria um livro pesado, caso o leitor não soubesse, desde antes de virar a primeira página, que os dois personagens principais irão morrer no final da história. E eles morrem, não se iludam. Como o próprio autor faz questão de escrever nas notas finais, seria desonesto da parte dele, criar alguma artimanha para salvar os personagens. Seria desonesto com a proposta e com a trajetória que eles constroem.
Atente que o livro não é sobre a morte. É sobre a vida. Tudo o que Mateo e Rufus vivem nessas últimas horas, é sobre como aproveitar a vida, como é ter relações de qualidade, como ver o mundo de uma maneira que te deixa feliz, independentemente dos problemas e dificuldades, como dar valor ao que realmente importa, e como é importante a pessoa amar, de verdade, fielmente, mesmo que seja por apenas algumas poucas horas.
O último dia de Mateo e Rufus superou toda a vida que tiveram antes, mas não a apagou. É como o resultado de um conjunto de experiências, difíceis experiências, que os preparou para aquele momento. E eles aprendem que são o resultado de tudo o que passou, mas também são pessoas que podem evoluir muito em um espaço curto de tempo, e podem fazer a diferença para os amigos que ficam.
OS DOIS MORREM NO FINAL já seria uma leitura incrível com essa relação, mas a narrativa escolhida pelo autor, torna a experiência muito superior. Existem diversos personagens secundários, muitos presentes apenas em um capítulo curto de duas ou três páginas, que são fundamentais para a trama e que deixam sua marca. Como a moça que vai entrevistar uma personalidade que recebeu o telefonema da Central da Morte, ou a funcionária da lanchonete onde Mateo e Rufus comem, ou o garoto que Mateo ajudou no passado, ou a mulher que criou o aplicativo do Último Amigo, e vários outros. Todos eles, em algum momento, terão seu significado revelado, irão afetar o rumo da vida de Mateo e Rufus, além da vida deles próprios.
E quando chegam as últimas páginas, quando acontece o momento fatídico, ele acontece sem aviso, sem preparação, sem drama, de uma maneira tão orgânica, tão inserida dentro daquele dia, que pode te deixar sem chão por alguns momentos. Apenas pelo tempo que você leva para se lembrar de como foi bonita e cheia de amor a jornada dos dois personagens, de como Mateo e Rufus se apaixonaram e souberam aproveitar os últimos momentos, como foram verdadeiros, como compreenderam o real significado do que é viver. Aí você se sente feliz.
OS DOIS MORREM NO FINAL é o melhor livro que eu li este ano, sem qualquer dúvida. É uma experiência de aprendizado, uma lição de vida, uma leitura única. Não perca essa leitura.
AUTOR: Adam SILVERA
TRADUÇÃO: Vitor MARTINS
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 384
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