Um dos melhores filmes de 2018 foi sem dúvidas UM LUGAR SILENCIOSO, que trouxe uma trama interessante casada com uma tensão de arrepiar. A saga de uma família sobrevivendo de criaturas que atacam no menor dos barulhos foi um mega sucesso e cá estamos com a sua sequência. Teve a estreia atrasada em mais de um ano devido a pandemia, mas finalmente temos ela aqui e a espera valeu a pena!

O texto pode conter spoilers do filme anterior, então caso você não tenha visto e não quer saber de nada, só voltar aqui depois!

A trama que se passa exatamente onde o anterior parou, seguimos agora a mãe, seu bebê de colo e seus dois filhos adolescentes na fuga de seu antigo lar que está em chamas. Tudo está perecendo e agora eles precisam achar um novo esconderijo, ao mesmo tempo em que eles encontraram uma legitima defesa contra essas feras demoníacas, eles perderam o pai e essa perda vai moldar todos os personagens que precisam se provar ainda mais se quiserem sobreviver. Olhando os mapas deixados pelo pai, um possível refúgio próximo se apresenta como possibilidade de novo esconderijo, mas chegar até lá reserva dificuldades inimagináveis. Para a filha, que é a única da família que de fato é surda, resta pensar adiante, qual o próximo passo? Se apresenta para ela a possibilidade de um refúgio definitivo, um lugar onde não existem monstros. Porém ela precisa ir antes e ver se essa opção é viável, mas fazer essa jornada sozinha vai ser mais complicado do que ela imagina. Coragem e determinação ela tem de sobra, mas isso não será o suficiente.

O meu maior receio com essa continuação era sentir que o filme forçou a trama ao seu limite máximo, o medo real era o filme ser extremamente desnecessário. Mas felizmente isso não acontece, pois o gancho deixado é muito sólido e passível a expansão. De fato o esconderijo antigo não serve mais, seguir em frente é apenas o que resta, mas o trauma da luta passada e da perda de um ente querido, enfraquece os personagens ao mesmo tempo em que novos perigos horríveis se revelam. Todos seguem machucados e vulneráveis, é impossível não se importar com ninguém e mesmo se você realmente não sentir nada por eles, pelo menos pelo bebê recém-nascido que precisa ficar dentro de uma caixa para não fazer barulho, vai derreter o seu coração.

Pausa para aclamar a cena de abertura que é nada mais, nada menos que um prólogo desse apocalipse. O espectador é jogado no fatídico dia onde tudo se iniciou, como era a vida antes desse pesadelo? Como foi esse primeiro contato? É cinema puro na forma bruta, a emoção, a sensação, sem explicações e diálogos, é o que estamos vendo e sentindo. Dava para ter feito outro filme só com essa sequência e provavelmente farão no futuro, afinal essa franquia já é um sucesso visto apenas algumas vezes nos últimos anos.

A atmosfera continua incrível, o roteiro é bacana e os personagens seguem com seu desenvolvimento. Infelizmente nem tudo são flores e o filme acaba extrapolando algumas vezes a barreira do possível e o crível. O espectador acaba sentindo ainda mais aquela sensação de que aquilo foi forçado ou que aquilo ali não é possível. Às vezes, o filme recorre a soluções muito esquisitas e gratuitas, coisa que ele não fazia. Estávamos acostumados a ver todos os passos várias vezes pensado e cronometrado, claro que a situação é nova, mas o sentimento que fica era que apostaram nisso pra fazer cenas legais e grandiosas, não aquelas cenas que eram realmente necessária para a narrativa no momento.

Esse novo refugio apresentado no filme não tem desenvolvimento algum é acaba sendo extremamente fantasioso. Toda a proteção pregada e a preparação cai por terra muito facilmente, frustrando bastante o espectador, porque algo é dito, mas não é visto. Claro que nada disso estraga a experiência que a produção passa, mas um maior aperfeiçoamento do roteiro cairia muito bem nessa sequência, pois a história é excelente, faltou apenas um polimento.

O elenco segue sensacional com os grandiosos desempenhos de Emily Blunt e da jovem atriz Milicent Simmonds, que tem maior destaque e tempo de tela e a mesma usa isso com um talento nato. A novidade no elenco está com a presença de Cilian Murphy, estrela de Peaky Blinders, encarna aqui um personagem traumatizado e com aparentemente pouco a oferecer para o avanço dos personagens e da trama. Acompanhar o crescimento do personagem é uma das melhores coisas da produção, uma adição de elenco que não poderia ser melhor.

Novamente temos um filme pequeno em sua duração, mas extremamente angustiante do seu minuto inicial até os créditos. O mesmo se encerra com praticamente o mesmo gancho deixado no filme anterior, dessa vez maior e com possibilidade de sucesso extremamente mais ampla. Uma sequência não é esperada, é necessitada. Uma baita experiência e um dos melhores filmes lançados recentemente. Não pode perder esse hein!


DIREÇÃO: John KRASINSKI
DISTRIBUIÇÃO: Paramount
DURAÇÃO: 1 hora e 37 minutos