Sabe aquele livro que você reconhece o seu valor para um determinado público, admira a intenção do autor (ou autora), porém algumas coisas não saem exatamente como você acha que deveriam? POSITIVA é um desses livros. Na obra, Simone é uma jovem negra, pansexual, com HIV. Filha de dois pais gays e adotadas, ela é a representatividade necessária nos dias atuais.

Em contraponto, é difícil simpatizar com a sua personalidade em grande parte da história. Egoísta e imatura, algumas de suas atitudes são, minimamente, questionáveis. Reconheço que escrevo esta resenha em um lugar de fala que não é meu. Isso sem falar que é uma obra com uma pegada mais teen. No entanto, é difícil fazer vista grossa para a mocinha. Acredito que sinto isso, justamente, por tudo o que poderia ter sido. Por tudo que ela representa, mas, ainda sim, a autora, Camryn Garret, optou por ir para um lugar comum e sem grandes riscos. Um amor Romeu e Julieta, um vilão sem motivação e várias tramas paralelas que se perdem entre as páginas.

Para você ter uma ideia, ao longo de 279 páginas, falamos sobre racismo, homofobia, marginalização, ISTs, bullying, entre outras temáticas essências. Contudo não houve aprofundamento em nenhuma delas. Nada passa da apresentação inicial, nem mesmo a história da protagonista.

Basicamente, na trama, Simone começa a receber ameaças de um desconhecido. Alguém sabe o seu segredo. E pior, é a primeira vez que ela tem amigas de verdade e está se relacionando com uma pessoa que a respeita. Lado a lado, as mensagens são claras. Ela precisa se afastar de Miles ou todos saberão que ela é positiva.

Como dito anteriormente, a construção da história abre margem para várias discussões importantíssimas. Acredito, inclusive, que é o ponto forte da narrativa: abrir espaço e trazer visibilidade para as minorias. Por outro lado, a tentativa de abraçar o mundo cria uma história rasa e sem novidades.

Até mesmo a revelação do grande vilão deixa a desejar. Falta a ele motivações e um desdobrar realmente interessante. Além de previsível, tudo aconteceu rápido demais e, por vezes, sem emoção. Para ser o arco principal, seria interessante se a escritora aprofundasse mais, desenvolvesse os personagens melhor e criasse diálogos ricos para “dar corpo” a tudo o que foi vivido.

Em síntese, vejo POSITIVA como um livro com muito potencial que se perde no seu próprio desenvolvimento. Mas, mesmo assim, vale a leitura, principalmente por falar sobre ISTs e trazer a vivência de quem convive diariamente com o HIV. Só por isso, já é um ganho enorme para todo leitor.


AUTORA: Camryn GARRET
TRADUÇÃO: Ana GUADALUPE
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 279


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