Namorar aquele grande amigo da adolescência já deve ter passado pela sua cabeça. Depois de pensar por algum tempo, você acabou desistindo, porque teve medo de colocar a amizade em risco. O seu amigo começou a namorar outra garota, você também conheceu alguém… E as circunstâncias empurraram vocês dois para longe um do outro. É assim que começa a história de Rosie e Alex. Todo mundo tinha certeza de que eles formariam um casal, mas, distraidamente, eles foram adiando a aproximação. Até que o destino se encarregou de colocar um ponto-final na história, mandando Alex para outro continente. Ele se tornou um cirurgião renomado… Ela continua correndo atrás do sonho de trabalhar em um hotel luxuoso. Mesmo sofrendo com a distância, os dois aprenderam a viver um sem o outro. Só que o destino gosta de se divertir, e já mostrou que a história deles não termina assim, de maneira tão simples.

Rosie e Alex, o casal principal, são personagens carismáticos, imperfeitos, inconsequentes dentro da idade em que estão. A história começa com os dois aos 7 anos de idade, e vamos acompanhando a construção da amizade deles através dos anos. O que aprontam e o que erram corresponde ao que nós fazemos na mesma idade. A identificação do leitor com os dois é quase instantânea. Achei curioso que existe uma inversão de papeis com relação a um preconceito sobre gêneros que ainda existe muito na sociedade. As atitudes e pensamentos de Alex condizem mais com aquilo que as pessoas conservadoras esperam de uma mulher. E as de Rosie, com as de um homem. Por exemplo: Rosie gosta de beber, fumar, é inconsequente nas travessuras, fala palavrão, não pensa no futuro, só quer se divertir. Alex é mais romântico, tem um plano definido para sua carreira, é mais responsável nas atitudes. Isso contraria o estereotipo que estamos habituados, quebra regras que não têm mais razão de existir. Aliás, nunca tiveram, mas as pessoas insistiam em manter.

A história de SIMPLESMENTE ACONTECE é toda contada através de cartas, e-mails, mensagens e conversas pelo celular. Particularmente, eu não sou fã desse tipo de narrativa. No entanto, conformia lia, constatei que não me estava incomodando em nada. Os eventos aconteciam numa sequência fácil de entender e a linguagem corriqueira, que usamos hoje em dia para nos comunicar, causou familiaridade. Então me acostumei e a leitura aconteceu sem problemas. Entretanto, a construção dos personagens não me agradou totalmente. Acompanhamos a vida dos dois seguindo uma linha do tempo contínua por quase 50 anos. No início, eram engraçadas as situações que ocorriam e que acabavam levando os dois em direções opostas. Tudo corriqueiro e crível. Mas as situações continuaram ocorrendo com o passar dos anos. Sempre que os dois chegavam perto de formar um casal, acontecia algo que os separava. E essas situações corriqueiras passaram a parecer forçadas pela quantidade.

Depois da metade do livro, de engraçadas passaram a ser irritantes, e depois perderam a credibilidade. Muitas delas poderiam ser resolvidas com apenas uma conversa. Inclusive, as trocas de mensagens, às vezes, estavam separadas umas das outras por vários anos. E quando eles voltavam a se falar era como se apenas tivessem passados dias. Acabou atrapalhando um pouco o prazer da leitura.

Nos últimos capítulos, já fica claro como será o final, mas ficamos com a expectativa de que esse final seja apresentado com a mesma tranquilidade e falta de pressa que toda a história até ali, mas não, ocorre o contrário: o final simplesmente resolve tudo com uma carta, que poderia ter sido enviada várias e várias vezes nos anos que se passaram, e depois dessa carta tudo fica resolvido. Foi um final de duas páginas que joga para o alto toda a dificuldade que eles tiveram até aquele momento. Ficou estranho, artificial.

Entretanto, existem aquelas partes que, embora se tornem maçantes, conseguem manter o bom humor e o leitor acaba rindo, principalmente com Katie, a filha de Rosie. Ela é a versão jovem da mãe, com os mesmos medos e imperfeições, mas com as qualidades melhoradas, e as decisões também. Ela repete diversas situações que Rosie também experimentou, mas se sai melhor que ela. E as trocas de cartas e as atitudes que Katie tem com a esposa de Alex, são fantásticas.

O livro teve uma adaptação para o cinema, com Lily Collins como Rosie, e Sam Caflin como Alex. E o filme quebrar aquela regra de que o livro sempre é melhor do que o filme, porque o filme conserta todos os defeitos do livro e é muito, muito melhor. Inclusive, o filme abrange um período bem menor da vida de Rosie e Alex, o que, na minha opinião, também ficou bem melhor e com menos sofrimento, um sofrimento que no livro é desnecessário.

SIMPLESMENTE ACONTECE, livro e filme, se completam. Um conserta o que está de ruim no outro. Mesmo assim recomendo as duas experiências, vale muito a pena.


AUTORA: Cecelia AHERN
TRADUÇÃO: Amanda MOURA e Ivar PANAZZOLO
EDITORA: Novo Conceito
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 448


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