Nemesis foi criada e aprimorada apenas com um propósito: proteger seu dono. Ela é uma Diabólica, um ser vivo com capacidades físicas muito além das humanas. Força, velocidade, agilidade, sentidos, tudo aumentado para ser uma arma capaz de matar qualquer um. Nemesis foi comprada por um senador para a filha, Sidonia. A partir desse momento, Nemesis foi condicionada a amar Sidonia acima de qualquer coisa, e a protegê-la acima de sua vida. Nemesis vive para proteger Sidonia.
Sidonia e Nemesis crescem juntas até a adolescência. Nesses anos, os Diabólicos começam a ser considerados uma arma incontrolável, uma vez que alguns cometem assassinatos pelas menores ameaças a seus donos. O imperador emite uma ordem para que todos os Diabólicos sejam destruídos. Mas Sidonia também ama Nemesis e se recusa a deixar que a matem. Entretanto, por divergências políticas, o imperador ameaça a família do senador e exige que ele envie sua filha para viver na capital do império, assim conseguirá manter o senador sob controle, com a constante ameaça de ter Sidonia como uma espécie de refém.
Como Sidonia nunca foi vista pelo imperador ou qualquer pessoa da capital do império, o senador decide mandar Nemesis no lugar da filha, elas têm a mesma idade, e Nemesis fará todo o esforço para se passar por Sidonia, porque só assim conseguirá mantê-la a salvo. O plano, no início, dá certo, mas, aos poucos, Nemesis começa a ganhar consciência de si, a sentir sentimentos e emoções que estavam trancados, e a tomar decisões arriscadas para conseguir se manter viva e manter o imperador longe da verdade, do senador e de Sidonia. Até que uma tragédia acontece, Nemesis fica livre de suas amarras e começa uma escalada de morte e destruição para acabar com o império.
O universo criado por S. J. Kincaid é bastante curioso e desperta algumas discussões. A Terra não existe mais e os humanos ficaram espalhados pelo universo em planetas habitáveis ou aglomerados de naves e estações espaciais. A tecnologia foi abandonada, com a justificativa de ser perigosa demais. A religião toma conta de quem governa e qualquer estudo, qualquer tentativa de conhecimento, é repreendida com a morte. As naves que existem, bem como todas as máquinas, devem funcionar apenas pelo bem das pessoas, e a manutenção é mantida por outras máquinas. Não há mais a autorização para evoluir, apenas para persistir na existência.
As pessoas se voltam apenas para as futilidades e para as aparências. Todos devem ser bonitos, devem se vestir bem, devem comer e viver da melhor forma. Menos os grupos considerados inferiores, que são usados como mão-de-obra, como fonte da obtenção de comida e serviços para que os mais favorecidos possam viver dentro de seu luxo. O imperador rege de forma cruel e impiedosa, com medo que o modo de vida vigente seja destituído. Assim, ele manda executar qualquer pessoa ou grupo que tente ganhar conhecimento ou vá contra suas vontades.
Nemesis é uma personagem que é construída, desconstruída e novamente construída no decorrer da história. Ela começa sem conhecer nada a seu redor, com exceção de Sidonia, e termina o livro como um ser pensante, livre, dona de si. É recompensador ler seu desenvolvimento, a forma como aprende a diferenciar sua programação da sua vontade, a identificar seus sentimentos e a conseguir ter pensamentos independentes daqueles que lhe foram induzidos. Acima de tudo, ela é forte, corajosa, capaz de enfrentar qualquer coisa ou qualquer um. Mesmo que isso signifique sua morte.
Sidonia poderia ser uma personagem egoísta, mas não é. Pelo contrário. Ela realmente ama Nemesis, e não apenas como uma amiga ou uma irmã. Ela ama de paixão. Mas Sidonia é uma garota normal, com todas as fraquezas e fragilidades de um ser humano. Mesmo assim, ela decide que precisa ajudar Nemesis, principalmente depois da tal tragédia, e aceita sua posição secundária diante de alguém que deveria ser sua e não o contrário. Essa entrega e o abandono do ego, é que demonstra o amor que as duas garotas sentem uma pela outra.
Tem uma terceira personagem feminina extremamente importante e igualmente forte, Cygna, a mãe do imperador. Ela é uma senhora já de idade, mas dona de uma mente privilegiada, não apenas pela inteligência, mas também pela capacidade de criar planos que movem toda a trama. O leitor fica sempre indeciso e surpreso com suas ações, e só tem plena certeza de sua verdadeira índole no fim da história.
O personagem masculino se chama Tyrus. Ele é o filho do imperador, um jovem louco, aparentemente mais cruel que o próprio pai. Digo aparentemente, porque suas ações parecem uma coisa, mas se o leitor for atento, perceberá que nem tudo o que parece, realmente é. Tyrus é uma boa surpresa, e a autora não o coloca naquele posição óbvia de ser o interesse romântico, o mocinho mau que se torna bom no decorrer da trama. Tyrus não evolui na história, ele se revela. E da mesma forma que a avó, Cygna, o leitor fica na dúvida sobre quem ele realmente é, até chegar, literalmente, na última página.
A DIABÓLICA é uma ficção-científica criativa, diferente, que apresenta um universo rico de conspirações, rebeliões, batalhas, composto por personagens bem trabalhados e apaixonantes. Existem reviravoltas, surpresas, e um final que compensa todos os sustos, mas que não deixa pontas soltas e nem ganchos, apesar de se tratar de uma trilogia. Várias partes apertam o coração, outras fazem sorrir. Leitura deliciosa para quem gosta de uma boa ficção com um leve, bem leve, toque de romance e superação.
AUTORA: S. J. KINCAID
TRADUÇÃO: Viviane DINIZ
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 400
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Não me lembro de ter visto esse livro pelo mundo literário. Mas admito que ficção científica nunca foi meu forte rs
Talvez seja por isso que não me recordo dele. Mas parece ser um universo muito interessante e fiquei curiosa com isso da segregação(o que não deixa de ser) mas também com as reviravoltas!!!
Com certeza se puder, quero ler!!
Beijo
Foi um lançamento da Rocco no meio da pandemia do ano passado, acabou passando despercebido. Mas é bem legal, vale muito a leitura.