Emira tem 25 anos e trabalha algumas horas por semana como a babá da pequena Briar, filha de Alix, uma mulher bem-sucedida, dona de uma marca envolvida na luta pelo empoderamento feminino. Certa noite, após um incidente desagradável, e apesar do horário tardio, Alix telefona para Emira e pede para que ela busque Briar e saia com a menina por algumas horas, apenas o tempo necessário para que Alix consiga resolver o tal incidente.
Era a noite de diversão com as amigas e Emira, apesar disso, aceita e busca Briar. Para passar o tempo, Emira leva a menina a um pequeno supermercado perto, onde brincam e conversam sobre bobagens de crianças. Mas Emira é abordada pelo segurança, alertado por uma cliente que dizia achar estranho uma mulher negra estar tão tarde com uma menina branca no meio de uma loja. O segurança pergunta quem é Emira, de quem é a criança, e suspeita de que Emira sequestrou Briar. Nisso se inicia uma confusão e um outro homem, revoltado pelo racismo, filma tudo com o celular. A coisa se resolve, quando Emira liga para Alix e o pai de Briar corre até o supermercado.
O homem que filmou tudo se chama Kelley e tenta convencer Emira a postar o vídeo na Internet e processar o supermercado. Mas Emira quer apenas esquecer o que aconteceu e tocar sua vida. O que faz, deixando Kelley para trás, com a promessa de que ele irá apagar o vídeo. Entretanto, Alix se sente inconformada, pega para si a obrigação de justiça sobre o que Emira passou, e começa a realizar pequenas e constantes ações para compensar Emira de alguma maneira.
Passado algum tempo, Emira esbarra com Kelley no metrô e os dois iniciam uma amizade que se transforma em um relacionamento. Isso até que Emira é convidada para um jantar na casa de Alix, leva Kelley como companhia, e um evento do passado retorna com força para mudar completamente a vida de Emira.
NA CORDA BAMBA é uma história escrita por quem sente na pele os diversos tipos de racismo presentes na sociedade. O racismo do segurança e da mulher no supermercado, que avalia a honestidade e o caráter de uma pessoa apenas pela cor da pele. O racismo de Alix, que cria lutas pela igualdade, sem perceber que ela cria um enorme nível de desigualdade sobre quem ela acha que defende. O racismo de Kelley, que se esforça para rodear de amigos e namoradas negras, para reforçar que não é racista.
Alix e Kelley são as representações do racismo velado, daquele que está mais presente, porque se disfarça sobre falsas ações e representações, além de dar ao seu portador a equivocada justificativa de que não é racista. É aquela famosa máxima: “eu tenho amigos negros, então não sou racista”. Ou aquela outra: “eu tenho uma empregada negra, ou melhor, uma auxiliar negra, uma amiga, uma pessoa quase da família, logo não sou racista”. Esse pode não ser o pior racismo, mas é o que dá motivo para os iguais afirmarem que a luta contra o preconceito é feita de exageros e de vitimismo.
Emira é uma personagem construída da forma mais imparcial possível. Seria fácil esperar que ela se comportasse como uma vítima e depois como uma heroína, mas ela apenas se comporta como uma mulher, uma jovem mulher, que ainda procura descobrir seu lugar no mundo e uma profissão que possa lhe dar algum conforto e realização. Ela não procura lutas, ela não procura defesas, procura apenas paz e levar sua vida da melhor forma possível. Essa foi uma decisão sábia da autora, na minha opinião, porque assim fica ainda mais evidente o quanto os outros personagens se sentem incomodados, não levados pelas injustiças, mas pela culpa embutida do próprio racismo.
Mas NA CORDA BAMBA não se limita ao racismo e flerta com outros temas importantes, como desigualdade de classes, onde o mais frágil é visto com pena, como incapaz, que precisa da bondade dos superiores para conseguir algo melhor. Sobre indiferença familiar, quando demonstra como Alix ignora sua filha menor, Briar, e relega a educação e o carinho a Emira, sendo que Briar demonstra aquela necessidade de ser vista pela mãe. E também passa por como muitas entidades, que se dizem em prol de alguma causa, apenas o são pelo dinheiro e pelas aparências.
NA CORDA BAMBA passa por assuntos importantes, deixa para o leitor as conclusões, não levanta bandeiras, apenas expõe as coisas como elas são, por mais que muitos tenham a intenção de ignorar ou acobertar. E finaliza com um pensamento de Emira sobre Briar, que é duro de ler, triste, aperta o coração, mas é a mais pura verdade.
AUTORA: Kiley REID
TRADUÇÃO: Roberta CLAPP
EDITORA: Arqueiro
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 320
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A gente fala ( e isso se estende a todo mundo) de racismo sempre com uma justificativa antes, como se isso fosse nos isentar de sermos racistas ou não.
Isso do ter amigos negros, a ajudante, a senhorinha do pão. Por isso, achei lindo o diferencial desse livro em apresentar o racismo sim, mas as atitudes veladas também.
Onde está o certo e o errado?
Mesmo a capa remetendo a uma simples comédia, o buraco é mais embaixo
Quero muito ler!!
Beijo
É bem bom, leia sem medo. Vai gostar!