Don Vito Corleone é o chefe de uma da maiores famílias de mafiosos de Nova York. Ele tem quatro filhos, três deles, legítimos. Santino “Sonny” Corleone é o mais velho e o braço direito do pai. Temperamental, violento, mulherengo, ele, como o pai, tem a família e os negócios em primeiro lugar. Frederico “Fredo” Corleone é o segundo filho e é o oposto de Sonny. Introvertido, medroso, pouco inteligente. Michael Corleone é o caçula e o preferido do pai. Ele não se interessa pelos negócios da família, contrariou o pai quando decidiu se alistar no exército, frequentou uma universidade e se mantém afastado. Por fim, tem Thomas “Tom” Hagen, o filho que foi adotado por Don Corleone ainda criança e passou a ser seu “consigliere”, um conselheiro e advogado para qualquer negócio da família.
Don Corleone está velho e preocupado com seu sucessor. Sonny é impulsivo demais; Fredo é burro demais; Tom seria perfeito, mas não é italiano, então nunca poderia ser um Don. Sobra Michael, mas ele não demonstra qualquer vontade de participar. Quando surge um impasse entre as cinco famílias de Nova York, que causa uma desavença, Don Corleone sofre um atentado e quase morre. No hospital, Michael consegue evitar que aconteça uma segunda tentativa de assassinato do pai. Como resposta, Michael, o filho menos suspeito, marca uma reunião com os responsáveis pelos atentados e, após isso, ele precisa fugir dos EUA, passa a viver escondido na Sicília. Don Corleone se recupera e reassume os negócios, com o plano de estabilizar as relações das famílias, enquanto prepara uma forma de trazer Michael de volta. Mas, mesmo assim, uma guerra sangrenta e mortal está desenhada.
Eu assisti à adaptação para o cinema do romance de Mario Puzo, O PODEROSO CHEFÃO, inúmeras vezes. Na verdade, eu assisto todos os anos, à vezes, mais de uma vez. O filme é considerado o melhor e o mais bem dirigido filme de todos os tempos. Nos EUA, na faculdade de Cinema, existem matérias dedicadas exclusivamente a estudar todos os aspectos da obra. Os atores que interpretaram os principais personagens, entregaram performances que entraram para a história do cinema. Marlon Brando, como Don Corleone; Al Pacino, como Michael; James Caan, como Sonny. É um filme perfeito.
Embora minha admiração pelo filme, eu nunca cheguei a ler o romance. Sempre tive curiosidade para conferir se a adaptação tinha sido fiel à obra original, e também se a mesma era tão boa quanto o filme. Quanto à fidelidade, sim, o filme é quase totalmente fiel, mesmo porque o roteiro é assinado pelo próprio autor, Mario Puzo, ao lado do diretor Francis Ford Coppola. Existem partes do filme que são transições perfeitas das páginas, inclusive os diálogos. As diferenças são sutis e praticamente insignificantes. Como a morte de uma guarda-costas, ou a supressão de trechos de alguns personagens secundários, que realmente não possuem qualquer importância. De resto, o livro está totalmente representado.
Entretanto, embora seja uma narrativa muito direta, de fácil leitura, muito instigante, pouquíssimo descritiva, com cortes que incentivam a leitura, não chega sequer perto da obra-prima que é o filme. E isso é complicado de explicar, uma vez que, como disse, livro e filme contam exatamente a mesma história. Acredito que a diferença esteja na emoção que o filme transmite com as atuações e a visualização de toda a violência e de como os personagens, principalmente Michael, são corrompidos e modificados ao longo dos acontecimentos. Eu não senti a mesma emoção na leitura, não me cativei pelos personagens da mesma forma, e isso pode ser resultado da narrativa ser rápida e imparcial demais.
Puzo colocou nas páginas muito de sua experiência com a máfia. Ele não se preocupou em apresentar personagens que conquistassem o leitor, mas em personagens que demonstrassem o declínio e a ascensão de uma família no meio de uma guerra entre mafiosos. Ele narra cada acontecimento, cada ação, como alguém totalmente afastado, desprovido de emoções, e isso é excelente na credibilidade do que conta. Entretanto, em comparação com o filme, os personagens passam pelo mesmo, mas conseguem dar uma dimensão que conquista quem assiste, e quem assiste, passa a se importar com o que acontece com eles. No livro, eu não consegui ter essa preocupação.
Meu julgamento pode estar afetado pelo fato de ser apaixonado pelo filme? Pode, claro! E por isso, eu quero deixar claro que o livro é excelente, a história é excelente, é a melhor história já contada sobre a máfia e sobre como alguém pode ser corrompido pelo poder. A leitura é obrigatória, indispensável. Ainda mais quando nos atemos à verdadeira essência da história: a corrupção moral.
Embora não exista um personagem principal, mas vários, uma vez que a narrativa é dividida em partes, que são divididas em capítulos, e cada parte tem um personagem diferente, são Don Corleone e Michael quem movem a história, quem iniciam e finalizam. Sobre o patriarca, existem alguns capítulos que resumem sua juventude, sua chegada à américa, a formação de sua família e sua ascensão como Don. Isso não é contado no primeiro filme, apenas no segundo, quando Robert De Niro interpreta o jovem Vito Corleone, em paralelo com as ações de Michael que transformam a família Corleone na maior organização criminosa do país.
Mas, no fundo, o grande protagonista do romance e dos três filmes, é Michael Corleone. Ele começa a história como o filho mais novo que abomina os negócios escusos da família, embora nutra um amor e um respeito incondicional pelo pai. Esse sentimento surge quando o pai quase morre. Ele precisa agir para evitar que o pior aconteça. E assim ele se vê no meio de algo que não desejava. Quando isso acontece, ele assume com total dedicação, com extrema inteligência e de forma implacável. Ele se torna calculista, desprovido de emoções, dono de uma segurança e uma frieza que são indispensáveis para os planos que elabora e que desencadeiam o fim da guerra entre as famílias. Michael se torna muito mais do que o pai alguma vez sonhou. Ele eleva a família Corleone a um patamar nunca pensado. E no processo, ele perde a alma. É incrível!
Se você nunca viu os filmes, eu aconselho que comece lendo O PODEROSO CHEFÃO. Acredite, você vai gostar. Depois, logo em seguida, assista ao filme. É uma experiência única que você terá. E se você já assistiu aos filmes e nunca leu o livro, faça isso agora. É algo que você precisa para completar a experiência e compreender como é possível criar uma adaptação perfeita, que suplanta o original, mas sem desrespeitar e sem deixar de ser fiel em tudo. E para isso, eu recomendo a nova edição da editora Record. Ela é em capa dura, de luxo, belíssima, uma perfeição que faz juz ao conteúdo. E mantenha sempre em destaque na sua estante.
AUTOR: Mario PUZO
TRADUÇÃO: Denise BOTTMANN
EDITORA: Record
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 496
COMPRAR: Amazon
Acho que este livro tem uma das capas mais lindas nesse ano. Eu vi o filme há muito tempo e se minha péssima memória não estiver pior, era em duas fitas VHS na época da locadora(sim,eu sou uma múmia)
Por isso, achei linda essa edição da Record e por tudo que li acima, está belíssima e sim, fazendo jus ao filme.
Agora lá vai eu querer ver o filme rs
Beijo
Também achei a capa maravilhosa. E o resto da edição, segue o mesmo capricho!
Engraçado como é nossa memória afetiva. Você, Carl, tem essa experiência com O Poderoso Chefão, onde o filme tem um lugar especial, até mais que o livro…. e eu com outro livro que foi adaptado, mas no meu caso, não tenho coragem de assistir.
Voltando aos Corleones… um filme genial baseado em uma obra prima da literária, com atuações primorosas e uma excelente direção, óbvio que se tornaria um dos filmes mais cultuados de todos os tempos