O livro MARY POPPINS é sem dúvidas um clássico da literatura infantil. Publicado originalmente nos anos 30, se tornou um sucesso imediato e depois de uma longa batalha, foi adaptado para os cinemas pelas mãos do próprio Walt Disney. O filme também é um clássico imortal ganhador de cinco Oscar e, segundo essa pessoa aqui que está escrevendo este texto, o longa é muito melhor que o livro em que se inspirou. Bora entender isso melhor?

A trama é simples, a família Banks precisa de uma babá para os seus quatro filhos, Jane, Michael e os dois gêmeos bebês. E durante uma seleção de candidatas, surge voando nos céus segurando um guarda-chuva, Mary Poppins, uma babá mágica pra lá de peculiar. Dona de uma personalidade forte, Mary é firme e decidida, não só com as crianças, mas com todos ao seu redor. Ela já chega impondo suas condições para os patrões, precisa ter suas folgas reservadas com antecedência, não gosta de dar referências e irá embora assim que os ventos mudarem. Sua interação com as crianças é no mínimo curiosa, já que os métodos de Mary são diferentes, ela é magica e consegue impressionar as crianças a todo o momento. Mas ela faz a magia acontecer e não quer ter que se explicar nada e nem quer ser interrompida.

As crianças são tratadas com mão de ferro e até mesmo com rispidez, pois Mary não aceita ser contrariada e distribui patadas em qualquer um e por qualquer motivo. As crianças não entendem muito bem porque sua babá é tão estranha, mas como não se maravilhar com as coisas lindas e divertidas que eles estão vivendo?

O livro segue uma estrutura de contos, cada capítulo tem a sua pequena aventura e quase sempre elas se encerram ali. A narrativa é muito bem desenvolvida com ponto de vista para o todos, o leitor sempre consegue ter uma visão privilegiada dos fatos. As palavras são ágeis, divertidas e com descrições limpas e nada cansativas. Tudo é possível e nada é forçado. As crianças passeiam, brincam e se divertem, porém elas são levadas e com a chegada de Mary, a rotina muda, pois a babá constantemente está com as crianças em aventuras magicas. De longe as partes mágicas são as mais divertidas do livro, coisas simples como Mary voando com um guarda-chuva, Mary ouvindo os latidos de um cachorro e entendendo tudo o que ele tem pra dizer. Mary levando as crianças para dar a volta ao mundo com uma bússola magica ou Mary contando a história de uma vaca que ficou com uma estrela presa nos chifres. São passagens extremamente inspiradas e visualmente lindas, alias o visual é palpável porque vai além de simplesmente o leitor imaginar tudo, o livro contém diversas ilustrações belíssimas e delicadas que só complementam a narrativa.

Mary é a protagonista do livro e ela é uma mulher muito peculiar. Rígida e às vezes até mesmo grossa, muito vaidosa e autoritária. É difícil saber se ela é amorosa, já que parece fazer tudo obrigada. O livro não tenta desenvolver essa personagem, não sabemos a sua origem e muito menos o porquê de sua personalidade ser assim. As vezes um livro não precisa nem explicar essas coisas, mas então pelo menos ele tem que nos dar um propósito, algo para o leitor absorver e não achar que ela é grossa gratuitamente. Sobre Mary ou você acha a personagem engraçada ou você a detesta, eu fico com esse último sentimento. Pra mim foi extremamente incômodo ter que seguir o pensamento de uma pessoa tão chata, antipática e grossa, tudo isso gratuitamente, qualquer ai que alguém fale com ela, pode ser o motivo da mesma responder com grosseria. Isso acontece muito com as crianças e mesmo que elas sejam pequenas e levadas, a ignorância pra mim não se justifica.

Conforme o livro avança, o leitor fica com esse sentimento de que a situação onde os fatos ocorrem é mágica e deslumbrante, mas como forma de pedágio para tudo isso, temos que seguir  essa mulher desagradável e reclamona. A dinâmica familiar é muito pouco explorada, mas temos personagens coadjuvantes que sempre roubam a cena quando aparecem. Destaque para Bert, um rapaz que aparentemente é namorado de Mary Poppins e que trabalha nas ruas. Logo na entrevista de emprego, Mary já deixa claro que irá sair com Bert, a mulher mal chegou para trabalhar e já quer folga e sair para bater pernas, realmente é uma mulher bastante peculiar e bizarra.

O livro é pequeno, tem menos de 250 paginas na sua edição de bolso, contando com as ilustrações. O lado magico eterniza essa trama que de fato tem tudo para encantar a qualquer um que se aventure nessas páginas. O único ponto negativo pra mim é a falta de desenvolvimento para com a própria personagem principal. Fica difícil amar um livro quando a gente detesta o protagonista, né? Ainda assim é uma leitura que vale a pena ser redescoberta.

A adaptação para os cinemas de MARY POPPINS foi lançada em 1964 e segue a mesma trama base. Uma família que precisa urgentemente de uma babá para seus dois filhos, Jane e Michael, os bebês não existem no filme. Diferentemente do livro, o longa finca raízes de o porquê Mary Poppins decide ir até essa família. As crianças escrevem uma carta com todas as qualificações que uma babá para eles precisa ter, ser animada, ser bonita, ser divertida e etc. O pai das crianças joga essa carta fora, mas Mary aparece para a entrevista, voando em seu guarda chuva com essa carta em mãos. Logo já deu pra perceber que ela era peculiar.

No filme, Mary continua sendo uma mulher peculiar, porém apenas firme e um pouco cínica. No longa ela não é grossa gratuitamente e nem parece estar ali obrigada, ela sorri e se preocupa com as crianças. Claro que ela ainda não explica quase nada e faz aquilo o que quer, mas junto com a magia, as crianças tem uma babá amorosa que está tentando mesmo ajudar, não apenas a serem educadas, como também terem um relacionamento maior com seus pais.

O pai de família é o Sr.Banks, um importante e ocupado banqueiro que vê muito pouco seus filhos. A Sra.Banks é uma mulher ocupada, pois está lutando com suas companheiras para o direito ao voto feminino ser oficializado, logo ela fica muito pouco tempo em casa. As crianças acabam ficando muito tempo sozinhas, porém agora estão com Mary que leva sempre os pequenos para passeios incríveis. Talvez o mais sensacional do filme é o passeio no parque, onde as crianças encontram Bert, um limpador de chaminés e pintor de rua, que convida Mary e as crianças para entrarem literalmente dentro de um dos seus quadros. Uma pintura de um belíssimo espaço rural inglês, com direito a um parque de diversões. Essa sequência existe no livro, porém apenas com Mary e Bert, no filme existe um cuidado de sempre inserir as crianças em tudo, jamais são deixadas de lado.

A produção é um musical, um dos maiores clássicos do seu gênero, e as canções contam a história de maneira lúdica e divertida. São diversas canções eternas que são incríveis, tanto na sua versão em inglês, como também em português. Tecnicamente o filme continua deslumbrante, foi um avanço na sua época de lançamento e hoje permanece como charmoso e único. As cores são vivas, os figurinos rebuscados e os cenários maravilhosos. As sequências que misturam atores de carne e osso com animações são eternas e graciosas, envelheceram extremamente bem.

Julie Andrews vive Mary Poppins, a mesma que estrelou outro clássico A NOVIÇA REBELDE. Ela encanta ao viver uma personagem enigmática. Ela é magica, mas não é. É vaidosa, firme e companheira. Amorosa e carinhosa. Um desempenho que entrou para a história do cinema e foi honrado justamente com um Oscar de melhor atriz. Todo o elenco é sensacional, as crianças, os pais, os empregados da casa e as pessoas onde eles se cruzam nas ruas. Porém, depois de Mary, o personagem mais incrível do filme se chama Bert, o rapaz das chaminés. Diferentemente do livro, onde ele aparece apenas uma vez, no filme ele está presente a todo o momento e a sua ampliação de tempo em tela deixa o filme ainda mais perfeito. Vivido por Dick Van Dyke, o personagem é engraçado até o seu ultimo fio de cabelo, amoroso, divertido, companheiro e agitado. Ele se mete em todas e em nenhuma ele não se destaca. Outro desempenho sensacional que também merecia um Oscar.

O filme pega com perfeição tudo o que tinha de bom no livro e eleva sua potência. Nós temos um propósito para Mary ser assim, temos um caminho a seguir e principalmente temos um desfecho com uma mensagem que faz tudo valer a pena. Uma belíssima fábula sobre a importância da família e o poder da diversão. Um filme que em faz tudo o que se propõe e marca época.


AUTORA: P. L. TRAVERS
TRADUÇÃO: Joca Reiners TERRON
EDITORA: Zahar
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 192


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DIREÇÃO: Robert STEVENSON
DISTRIBUIÇÃO: Disney
DURAÇÃO: 2 horas e 22 minutos
ELENCO: Julie ANDREWS, Dick Van DYKE