O que faz um livro ser bom? Seria uma trama totalmente criativa ou personagens cativantes? A resposta para esse dilema seriam as duas coisas ou talvez nenhuma delas. O que vai contar no final será a força da escrita e se ela consegue se expandir com extrema eficácia. Felizmente tudo isso está presente em UMA CHAMA ENTRE AS CINZAS. Um livro que não é o mais original do mundo, mas mesmo assim consegue ser um dos melhores títulos do seu gênero. Já conhece essa maravilha? Chega mais!

O livro é uma distopia e se passa num mundo fictício onde um povo chamado Marcias dominaram toda uma grande região à base da força. O povo subjugado foram os Eruditos, um povo que prezava, acima de tudo, o conhecimento e os estudos, com pouca habilidade em armas. Os anos se passaram e os Eruditos ainda sofrem todos os dias nas mãos dos Marcias que são implacáveis e até mesmo escravizam grande parte da população do reino. Não existem liberdades pessoais, críticas ao governo também são proibidas e a qualquer momento uma pessoa pode ser presa ou castigada por qualquer motivo ou motivo nenhum.

É nessa atmosfera que o livro se desenvolve acompanhando Laia, uma jovem Erudita humilde e trabalhadora, e Elias, um Marcial que está treinando para ser um agente de segurança do império. Laia está no pior momento da sua vida, sua família foi morta e seu irmão foi preso, ela acaba procurando a resistência, grupo de Eruditos que luta pela libertação do seu povo. Um acordo é feito, Laia precisa se infiltrar na academia de treinamento de agentes de segurança para espionar uma comandante e tirar dela informações importantes para a resistência. Esse é o preço que Laia precisa aceitar, ser uma espiã, para assim a resistência salvar o seu irmão da morte na cadeia. Mas o que Laia não sabia é que ela vai espionar uma das mulheres mais violentas e sanguinárias que existe, uma pessoa extremamente ruim que adora massacrar seus escravos.

Do outro lado do livro temos Elias, um jovem Marcial, um adolescente forte e privilegiado que está a um passo de fugir dessa vida. Ele vive na escola de agentes e, em segredo, odeia o império e tudo o que ele faz com os povos conquistados. Ele não pode fazer nada para mudar isso, então decide fugir e tentar saber o que é essa tão falada e sonhada liberdade. Mas seus planos vão por água abaixo quando ele recebe a visita de um vidente que lhe alerta que o melhor caminho para si não é a fuga, ele precisa ficar e que assim vai descobrir o que é a verdadeira liberdade de corpo e alma.

Esses são os dois pontos de vistas que temos presente na leitura e cada capitulo é único. Um Marcial e uma Erudita, são duas realidades que vão colidir e que o leitor nem anseia para que isso aconteça com rapidez, pois cada ponto de vista contextualiza esse mundo para o leitor. Conhecemos as regras, as dificuldades de se viver perante esse governo e a perspectiva para o futuro. O problema é que essa perspectiva é a pior possível e as coisas boas de se viver nesse mundo não existem. Alguma coisa precisa ser mudada, mas estamos acompanhando o ponto de vista de uma menina que perdeu tudo e de um garoto que, mesmo sendo do lado poderoso da história, é um personagem extremamente pequeno e que aparentemente não terá relevância. O que temos então?

O evento central do livro será a Eliminatória, que é basicamente um concurso onde os Marciais vão escolher quem será o novo imperador e que iniciará uma nova dinastia, já que o imperador atual não tem herdeiros. Serão quatro candidatos dentre os alunos da academia de agentes, Elias é um deles. Laia está espionando a comandante que é mãe de Elias e todos os eventos vão acontecer dentro da academia e, enquanto isso, a resistência tenta desestabilizar o governo. E também temos o imperador atual que está se preparando para atacar a academia e encerrar essa escolha do novo governante, já que ele não quer ser destituído. É uma confusão enorme em rota de colisão. Pode ter certeza que UMA CHAMA ENTRE AS CINZAS pode ser tudo, menos parado.

A narrativa é uma distopia adolescente, mas ela traz uma maturidade bem inesperada. Os eventos descritos nas páginas são extremante gráficos e violentos. É uma realidade horrível para se viver e durante essa jornada, só vamos encontrar dor e sofrimento. A leitura é interessante e importante, mas não é leve e muito menos boba. Ela exemplifica com perfeição uma sociedade cruel e ruim, que nunca vai parar de ser ruim, ela precisa ser erradicada.

A trama é tecida com perfeição e constrói um caminho enorme que vai precisar ser trilhado. O início do livro já vem com eventos horríveis e importantes e suas páginas finais são a mesma coisa. Não existem pausas, são eventos atrás de eventos. Importância em cima de importância. E nada fica confuso, jogado ou gratuito, palmas para a autora!

Nossos narradores são personagens cativantes e cheios de esperança, mesmo estando em lados oposto do jogo, eles pensam de maneira parecida. Aprendemos muito com eles e todos os outros personagens também são desenvolvidos com perfeição. São 430 páginas extremamente bem usadas. No final a gente conhece todo mundo e temos nossos favoritos e aqueles onde depositamos a nossa repulsa.

Esse é o primeiro volume de uma serie que já teve três livros publicados, porém com apenas dois volumes no Brasil, por enquanto, e também já teve seus direitos vendidos para o cinema. É realmente uma história eletrizante que precisa ser descoberta. Temos ação, suspense, drama e até mesmo fantasia. Personagens incrivelmente desenvolvidos que chega ao ponto que nós mesmo sentimos a dor por eles. É muito difícil não se emocionar. UMA CHAMA ENTRE AS CINZAS é uma joia que precisa ser descoberta e apreciada, pode ter certeza que você não vai perder tempo.


AUTORA: Sabaa TAHIR
TRADUÇÃO: Jorge RITTER
EDITORA: Verus
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 430


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