Todo ano, nove amigos comemoram o réveillon juntos. Desta vez, apenas oito vão voltar para a casa depois da festa. Programado para acontecer em um cenário idílico, as conhecidas Terras Altas, na Escócia, o réveillon que Miranda, Katie e os outros amigos que conheceram na faculdade passarão juntos este ano promete refeições deliciosas regadas a champanhe, música, jogos e conversas descontraídas. No entanto, as tensões começam já na viagem de trem – o grupo não tem mais nada em comum além de um passado de convivência, feridas jamais cicatrizadas e segredos potencialmente destrutivos.

A narrativa de A ÚLTIMA FESTA é feita por mais de um personagem, cinco na verdade, que narram os eventos que antecederam o assassinato e, depois, suas consequências. Às vezes em primeira pessoa, e outras em terceira pessoa. Miranda, Katie, Julien, Mark, Bo, Samira, Giles, Nick e Emma são amigos, ou pelo menos fazem que são, uma vez que as relações entre eles está abalada por mágoas e ressentimentos do passado. Miranda é casada com Julien, e Mark é casado com Emma. Temos também Heather, que é quem hospeda o grupo na pousada, e Doug, uma espécie de faz tudo.

Todos eles possuem segredos no passado, pequenos e grandes traumas, e todos estão ligados de alguma forma. Quando acontece uma nevasca que prende todos no chalé, sem qualquer chance de poderem sair, as coisas começam a sair do controle. E então, em meio à grande festa da última noite do ano, o fio que os mantém unidos enfim arrebenta. No dia seguinte, alguém está morto e uma forte nevasca impede a vinda do resgate. Ninguém pode entrar. Ninguém pode sair. Nem o assassino.

O ponto de destaque é a constatação de que ninguém é perfeito, que todos possuem algo de tenebroso no passado, e esse algo, um dia volta para cobrar. A diferença é saber lidar com isso. Alguns sabem. Outros preferem fazer algo de terrível. E a autora passa todas as informações necessárias para que o leitor consiga descobrir quem foi o assassina e quais foram suas motivações. Faz de forma cuidadosa, bem discreta, então é necessário um pouco de atenção para conseguir identificar essas pistas.

Além de tentar desvendar o mistério, e talvez essa seja a parte mais difícil, é preciso identificar o que é verdade e o que é mentira nas narrativas. Como são de vários personagens, e sendo todos eles suspeitos, como saber quem é confiável e quem está se protegendo?

Existem algumas particularidades na forma de contar a história, como o fato das narrativas em primeira pessoa serem todas feitas por personagens femininas, e a dos masculinos, em terceira pessoa. Outra diferenciação é não saber quem morreu e quem matou, uma vez que os narradores nunca dão nome à vítima, apenas a referenciam como “o corpo”.

O clímax traz a tão aguardada revelação que, sim, consegue causar uma reviravolta e uma consequente surpresa. Tudo isso transforma A ÚLTIMA FESTA em um thriller competente, no melhor estilo Agatha Christie, como é prometido nas divulgações da obra. A forma criativa de contar a história é um ponto a mais e que causa uma certa ansiedade pela quantidade de desinformações que recebemos. Se você é fã do gênero, não perca. E se não for, é uma ótima opção para sair de sua zona de conforto.


AUTORA: Lucy FOLEY
TRADUÇÃO: Marina VARGAS
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2020
PÁGINAS: 304


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