Tom Hart é cartunista desde 1995, quando publicou seu primeiro livro, e lançou várias obras que o tornaram conhecido. Em 2009, nasceu a primeira filha de Tom e Leela, Rosalie. Em 2012, Tom publicou uma edição narrando como era ser pai. Poucos meses antes, em novembro de 2011, a pequena Rosalie, com dois anos de idade, faleceu de morte súbita, um processo patológico que a ciência ainda não consegue prever ou explicar. ROSALIE LIGHTNING concorreu ao Prêmio Eisner de 2017 e é uma HQ profundamente intimista, delicada, dolorosa, sobre o antes, o durante e o depois da morte da filha de Tom.
ATENÇÃO: Se você tem depressão ou perdeu alguém recentemente, deixe para ler esta resenha e esta HQ em outro momento, quando tiver superado a doença ou a perda. Não continue a leitura, vá ler outro texto do blog.
Vou ser bem sincero: ROSALIE LIGHTNING é uma história pesada, angustiante, dolorosa, depressiva, onde cada página, ou melhor, onde todas as páginas, transmitem com perfeição a escuridão emocional em que Tom e Leela caíram após a perda da filha. Não há mensagens de superação, não há um final otimista, não há uma explicação para o que aconteceu, apenas a desorientação e a consciência final de que não se supera a perda de um filho, apenas se continua a viver e se aprende a suportar os dias recheados de momentos ruins e momentos menos ruins.
A narrativa é feita entre o passado e o presente, sem uma sequência precisa, sempre indo e voltando para apresentar recordações felizes de quando Rosalie estava viva e o que o dia-a-dia do casal se transformou após seu falecimento. Tom busca por explicações, tenta compreender qual poderia ser o motivo de uma criança de dois anos de idade simplesmente deixar de respirar, sem qualquer motivo, sem qualquer sinal, sem qualquer doença. Ele não consegue encontrar um motivo racional ou espiritual, mas ele precisa ter uma explicação, ele grita através de seus desenhos, muitas vezes de riscos tortos e desfigurados, em páginas todas pintadas de preto, por uma resposta.
É desesperador ver como ele desenha quadros e quadros andando em uma rua, observando um pássaro ou mesmo uma folha caída, tentando encontrar um sinal que o direcione para as respostas que procura. Como as conversas com amigos ou médicos vão sendo engolidas pela tinta, diminuindo o espaço, até virarem um borrão de escuridão. Até mesmo quando desenha alguns dos momentos felizes que teve com Rosalie, ao final, ele liga o momento com a realidade atual de uma forma profundamente triste.
Não é apenas através de desenhos de uma só cor ou páginas pintadas de preto que Tom demonstra o seu estado emocional, mas também como ele desenha a si e à esposa. Em vários quadros, ele desenha a ambos cheios de riscos por cima, como se eles estivessem envoltos por sombras, ou como se a imagem de ambos estivesse pouco nítida, sem uma forma, desaparecendo ou se desfazendo. E é exatamente isso que eles sentem, estão se desfazendo, quebrando em vários pedaços, desmoronando.
Também é angustiante ver quando Tom desenha os momentos em que Leela e ele tentam se agarrar a alguma coisa para conseguirem superar a falta da filha, como quando Leela, do nada, no meio do silêncio em que vivem, diz que quer ter outra filha. Para logo em seguida, voltarem ao silêncio, por perceberem o quanto isso é inútil para conseguirem apagar a dor. É como um grito de socorro que não reverbera em local algum, porque não existe nada e nem ninguém que os possa ajudar.
Mas em sua narrativa, Tom não se limita à perda da filha, ele também explica como era a vida deles antes, durante e após Rosalie, e esse é outro fator que aumenta o sentimento de angústia de quem lê. Eles não passavam por bons momentos financeiros ou profissionais, estavam endividados, quase falidos, não conseguiam vender um apartamento que lhes permitiria pagar as dívidas, um caos sem um horizonte de calmaria. Ou seja, mesmo nas páginas onde Tom não fala sobre a filha, ele fala sobre outros problemas. Não existe um alívio para quem lê. Da mesma forma que não existiu para Leela e Tom.
ROSALIE LIGHTNING é uma história profundamente triste, que me esgotou emocionalmente. Ela não floreia a perda de um filho com a vã esperança de que é possível superar. Não é. Quem perde, vira uma pessoa que nunca irá deixar de sofrer. O que acontece é que com o tempo, a dor passa a ser disfarçada, passa a ser intimista, aparece nos momentos em que está sozinho, aquele olhar perdido no vazio, onde as memórias apertam o coração e as lágrimas caem. Para logo depois, você lavar o rosto e fingir que está tudo bem, se preparando para outro dia.
Vou fazer a resenha premiada de ROSALIE LIGHTNING, mas só participe se você estiver bem para conhecer a pequena Rosalie e se compadecer do sofrimento de Leela e Tom. Do contrário, não participe, tem outras resenhas premiadas no blog.
REGRAS
UM: Preencher o formulário de participação, sendo que existem entradas obrigatórias, que valem um ponto cada uma, entradas opcionais, que valem cinco pontos cada uma, e uma entrada diária opcional, que vale cinco pontos a cada dia que você fizer. Quantos mais pontos você somar, mais chances tem de ser sorteado;
DOIS: Deixar um comentário neste post;
TRÊS: O ganhador precisa ter endereço no Brasil para receber o premio;
QUATRO: Após 10/10/2019, será feito o sorteio pelo formulário de participação;
CINCO: O premio será enviado em até 30 dias úteis, após divulgado o resultado. O blog não se responsabiliza por extravios, danos ou roubos do premio enviado;
SEIS: O ganhador(a) terá 48 horas para responder ao e-mail de solicitação do endereço. Caso não responda nesse prazo, será desclassificado(a) e um novo nome será sorteado;
SETE: O blog GRAMATURA ALTA se reserva o direito de dirimir questões nao previstas nestas regras.
RESULTADO
Rudynalva Soares (@rudynalva)
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Tom HART
ILUSTRADOR: Tom HART
TRADUÇÃO: Érico Assis
EDITORA: Nemo
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 272
COMPRAR: Amazon
Perder alguém que amamos é uma dor insuportável. Em se tratando de uma filha, ainda mais criança, é algo inimaginável.
Os traços de Hart são cheios de dor, dúvida, saudade, medo.
Uma homenagem a Rosalie repleta de amor e lágrimas.
São mesmo, os traços carregam uma dor imensa.
Carl, legal vc ter feito esse alerta de gatilho, certamente a história pode fazer com que muitos se sintam mal. A história parece perturbadora para qualquer um, mas acredito que para quem já passou por essa dor de perder uma filha ou um filho deve reviver sentimentos que essas pessoas não queiram mais vivenciar.
Sim, também acho que só quem passou por algo assim, vai saber o que é… não tem como dimensionar.
A perda é muito difícil, nunca se supera totalmente.
Não me arrisquei na resenha mas tenho interesse pelo livro.
Entendo, mas cuidado quando for ler…
Por este e outros tantos motivos desde que conheci o blog, não saí mais daqui. Esse carinho com o leitor, o aviso, o alerta, o gatilho. Muito lindo da sua parte fazer algo assim e agradeço de todo o meu coração!
Eu vivo dias ruins, dias de extrema dor, dias de alegria intensa. Mas com a medicação correta, tenho aprendido a fugir dos gatilhos e com isso, evitando entrar em crises por simplesmente as vezes, ver uma imagem ruim na net.
Mas ler me salva, ver meus filmes e séries, me salva de mim mesma.
Por isso, ver e ler tudo isso acima, já mexeu comigo,mas de forma positiva. A dor da perda, ainda mais assim, de uma criança tão pequena, tão viva. O trazer de volta o passado, as alegrias e ter que ver o cinza se apossando de tudo.
Quero muito ter a oportunidade sim, de ter e ler esta obra,mesmo sabendo que vou chorar horrores..rs
Beijo e mais uma vez, obrigada!!!!
Puxa, muito obrigado! Acho importante esse tipo de aviso. Eu mesmo que não passo por nada depressivo, fiquei bem triste após a leitura.
Conheço pessoas que perderam seus filhos ainda pequenos e o sofrimento vai para o resto da vida, saber desse HQ tão triste é uma forma de entender algumas coisas, acho que temos que ler toda forma de leitura mesmo que nós deixem mal.
Acredito que seja mesmo, não tenho ideia da intensidade de algo assim.
Terminei de ler sua resenha com um nó na garganta. Perder alguém na família é difícil, imagino que perder um filho deva ser como perder parte de você mesmo. Eu não tenho filhos mas imagino a dor desses pais.
Sei que a leitura deve ser angustiante mas preciso conhecer a história da Rosalie e saber como Tom e Leela conseguiram passar pelo pior momento da vida deles.
Olá!
Posso não ter perdido alguém ou está com problemas de depressão mas ao ler a resenha senti aquele aperto no coração. Os pais perder uma filha e basicamente sair do ciclo da vida, porque são os filhos que passa pela perda dos pais e não ao contrario. Fiquei um tanto curiosa pela historia, como diz não sou muito de ler HQ mas alguns que leio fico encantada e bastante interessada pela leitura. Com certeza vou querer ler esse, apesar de que há gatilhos nele.
Meu blog:
Tempos Literários
Carl!
Mainha faleceu há 3 meses e ainda passo por meu luto, mas fico imaginando que para os pais, deve ser mais doloroso a morte de um filho e tão criança como a da história e ainda de algo que ninguém sabe porque acontece até hoje.
Deve mesmo trazer um desgaste emocional, mas ainda assim, gostaria de acompanhar a narrativa e o sentimento desses pais, ainda mais em HQ, as ilustrações devem trazer grande emoção.
Participo e sairá divulgação no blog.
Rudynalva Correia Soares
rudynalva@yahoo.com.br
cheirinhos
Rudy
BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Sinto muito, Rudy 🙁
Bom, pelo que li aqui, o livro traz uma história forte! Mas, a realidade também é isso, perdas e ganhos, cheia de momentos altos e baixos! A gente nunca quer deixar partir quem amamos!! É muito triste!!
Olá Carl, tudo bem?
Eu nunca tinha ouvido falar desse livro, mas deve ser realmente uma história muito tocante e angustiante. Eu adorei a resenha, mas não sei se me sentiria a vontade com a leitura, então não participarei do sorteio.
Abraços
É triste a forma como a simplicidade e a beleza da capa contrastam com o peso da história… Nem consigo imaginar como foi doloroso pro autor ter que reviver todos esses sentimentos pra eternizá-los em um livro.
Olá! Acredito que toda perda é extremamente dolorosa, mas em se tratando de um filho torna essa dor ainda mais sofrida, eu não passei por algo parecido, mas só de ver algumas noticias na televisão (de casos parecidos, de crianças assassinadas e que tiveram a vida interrompida de maneira abruta), já fico com o coração apertado, definitivamente é uma dor que não passa, pelo contrário acaba fazendo parte da gente durante o restante dos nossos dias.
Devastador, os pais terem que lidar com a dor da perda de um filho, não imagino como deve ser. Ainda mais por ele escrever esse livro falando tudo o que sentiu e os momentos com a filha.
Sim, é muito forte e muito triste.
Oi, estou participando do sorteio.
Essa foi a resenha mais pesada que eu já li até hoje.
Eu só tenho vontade de abraçar os pais da criança. Não tenho ideia do tamanho dessa dor. Não quero nunca tê-la que senti-la.
Olá, Carl
Obrigada por avisar dos gatilhos, por isso que amo vir ao blog pelo conteúdo, amizade, sinceridade.
Minha mãe faleceu há 2 anos e no começo foi difícil, você fica sem chão, o peito despedaçado, mas conforme o tempo passa vai amenizando.
Não tenho filho e nem tem como imaginar o quão devastador deve ser a perda de um filho para os pais, ainda mais no caso de Rosalie que foi uma morte sem explicação.
Apesar de ser triste quero conhecer a história dessa família, beijos.
Quando perdemos alguem que amamos. perdemos um pedaço de nós mesmos.
Perder um filho é algo que julgo extremamente doloroso. O pouco de consegui ver
dos quadrinhos me deu a impressão de que os traços são por demais carregados.,
talvez tentando passar para o papel toda a dor que o autor está sentido.
Oiii ❤ Nossa, que barra deve ser perder uma filha, ainda mais sendo apenas uma criança. Realmente, uma dor dessas é insuperável, a única coisa que dá para fazer é aprender aos poucos como lidar com ela. Os próprios quadrinhos por estarem sempre cercados da cor preta já dá para saber o quão forte o livro é.