Nos EUA, ataques a escolas é uma realidade antiga e cada vez mais frequente. Um dos primeiros massacres aconteceu em 1966, quando um estudante da Universidade do Texas matou 18 pessoas antes de ser baleado pela polícia. Ano passado, um ataque matou 17 adolescentes em uma escola de Parkland, na Flórida. Segundo um levantamento feito em 2018, foram registrados 23 casos com 113 mortos e feridos em colégios americanos.
A história de O MENINO QUE SOBREVIVEU começa com Zach, um garoto de 6 anos de idade, escondido dentro de um armário junto com a professora e mais alguns colegas de sala de aula. No escuro, eles apenas ouvem gritos e disparos de armas de fogo. Depois de minutos intermináveis, um policial avisa que tudo acabou, que todos devem sair dos esconderijos. Do lado de fora, cenas de horror, com corpos e sangue, além de familiares em desespero.
Zach tem um irmão um pouco mais velho, de 10 anos de idade, o Andy, que não teve a mesma sorte e foi morto pelo atirador. Nos meses seguintes, a família de Zach começa a ser desfeita, por causa do ódio que a mãe sente dos pais do garoto que atacou a escola, e que procura culpar de todas as formas; e pela inabilidade do pai em lidar com a situação e por manter um relacionamento extraconjugal em segredo. Enquanto isso, Zach se perde em sentimentos de culpa, pela relação que tinha com Andy, por não ter sido ele a morrer, e por não compreender o que acontece com seus pais.
A narrativa de O MENINO QUE SOBREVIVEU é feita por Zach, por isso a autora utiliza uma linguagem simples, com descrições ingênuas e pensamentos confusos sobre o que ele presencia. O primeiro capítulo, quando Zach sai do armário acompanhado pela professora e pelos colegas, a descrição que ele faz de tudo o que vê ao redor é recheada daquela ignorância própria da idade. Ou seja, ele não consegue compreender a real dimensão da tragédia, apenas assimila que algo de ruim aconteceu, sem o drama de um adulto. Isso causa uma mistura de dois sentimentos bem intensos no leitor: o primeiro é tomar conhecimento dos garotos mortos na escola e o desespero dos pais; o segundo é sentir uma profunda compaixão por Zach estar sendo submetido a uma barbárie que o afetará psicologicamente no futuro.
Andy tinha aquele comportamento implicante de irmão mais velho com irmão mais novo. Zach sofria um pouco de bullying, nada incomum entre irmãos, mas o suficiente para ele se sentir mal. Em certa parte, ele confessa ao pai que uma vez, depois de ser maltratado por Andy, desejou que ele morresse. Agora que isso aconteceu, Zach se sente culpado, como se seu desejo tivesse contribuído para a tragédia. Somado a isso, por causa da tristeza dos pais, ele também pensa que eles prefeririam que fosse Zach a morrer ao invés de Andy. Com tudo isso na cabeça, Zach se retrai, tem ataques de ansiedade, começa a fazer xixi na cama, se esconde dentro dos armários. Todo esse acompanhamento da deterioração psicológica de Zach, é feito pela autora de forma muito suave, minuciosa, transmitindo um desespero por não podermos fazer nada para ajudar o menino, apenas continuar a leitura.
E sim, durante a leitura eu senti necessidade de ajudar Zach, isso porque os pais estão completamente alheios ao sofrimento pelo qual o filho passa. O pai está perdido, sem direção, sem saber o que fazer para ajudar a esposa, sem entender o que se passa com Zach e ainda sem qualquer ideia de como ajudar sua amante, a mãe de um outro menino que foi morto no colégio. Ela já era separada do marido e só tinha o filho como companhia. Sozinha, deprimida, desesperada pela dor da perda, ela só tem o pai de Zach como âncora, e é por ele que ela procura, mas ele não quer que a esposa descubra a traição, ele se nega a ajudar.
A mãe de Zach está cega para qualquer outro assunto que não seja encontrar uma forma de fazer Charlie, o pai do garoto que matou os colegas, pagar pelo que o filho fez. Ela está convicta de que a culpa é de Charlie, por não perceber que o filho tinha transtornos psicológicos, que era um perigo, por não descobrir o que ele pretendia fazer. E para concretizar o que ela deseja, ele busca os jornais, a televisão, procura advogados, ela quer uma forma de mandar Charlie para a cadeia. Mas todo esse ódio começa a sair dos limites, começa a se virar contra ela, e pior, afeta Zach, uma vez que Zach vê algo que ela não consegue: o profundo pesar que Charlie sente, a dor dupla de perde um filho e de ver o que o filho fez, no que ele se transformou.
Rhiannon Navin é muito competente em sua obra, e ela consegue demonstrar como Zach, uma criança no meio de adultos destrutivos, cheios de culpa, ódio e dor, consegue passar por essa tempestade e encontrar uma forma de se salvar e salvar a todos de uma destruição pessoal. A parte final de O MENINO QUE SOBREVIVEU tem um dos capítulos mais tristes e bonitos que li nos últimos anos, quando Zach se encontra com Charlie e os dois têm um conversa franca sobre o que cada um deles sente. E Charlie solta um diálogo, uma pequena frase, que consegue quebrar qualquer coração. E é essa frase que muda o pai de Zach, que amolece o coração da mãe de Zach e que permite que Zach volte a ter uma família unida, mesmo sem a presença de Andy.
O MENINO QUE SOBREVIVEU é uma história muito forte, triste pelas perdas e pela falta de empatia no próximo devido à dor que se sente, mas que demonstra como é possível perdoar, como é possível continuar a viver, mesmo perdendo um filho, e como é ter consciência de que a dor nunca irá embora, mas que é preciso aprender a conviver com ela, para conseguir dar amor a quem ainda vive e precisa de você. Zach é um personagem lindo, forte, um garotinho que você desejará abraçar e balançar em seu colo. Não deixe de ler.
Quer conhecer o Zach? Quer se emocionar? Quer chorar e rir um pouco, ou muito? Então você pode ter a chance de levar um exemplar de O MENINO QUE SOBREVIVEU, basta participar da promoção, seguindo as regras abaixo.
REGRAS
UM: Preencher o formulário de participação, sendo que existem entradas obrigatórias, que valem um ponto cada uma, entradas opcionais, que valem cinco pontos cada uma, e uma entrada diária opcional, que vale cinco pontos a cada dia que você fizer. Quantos mais pontos você somar, mais chances tem de ser sorteado;
DOIS: Deixar um comentário neste post;
TRÊS: O ganhador precisa ter endereço no Brasil para receber o prêmio;
QUATRO: Após 04/10/2019, será feito o sorteio pelo formulário de participação;
CINCO: O premio será enviado em até 30 dias úteis, após divulgado o resultado. O blog não se responsabiliza por extravios, danos ou roubos do premio enviado;
SEIS: O ganhador(a) terá 48 horas para responder ao e-mail de solicitação do endereço. Caso não responda nesse prazo, será desclassificado(a) e um novo nome será sorteado;
SETE: O blog GRAMATURA ALTA se reserva o direito de dirimir questões não previstas nestas regras.
RESULTADO
Nil Macedo (@nil.macedo)
AVALIAÇÃO:
AUTORA: Rhiannon NAVIN
TRADUÇÃO: Izabel ALEIXO
EDITORA: Leya
PUBLICAÇÃO: 2019
PÁGINAS: 352
COMPRAR: Amazon
Esse foi um livro que eu vi assim que lançou em uma livraria, em promoção por 20 reais, e peguei sem pensar duas vezes. Amo esse tipo de temática. Ainda não li, mas quero muito. Toda hora quero pegar ele na estante, mas tenho que seguir uma prioridade… Triste ;-; espero que possa ser meu próximo. Não tinha visto nenhuma resenha, fiquei muito feliz em ver essa ^–^
Um assunto pesado de ser tratado, mas necessário, ainda mais num contexto em que cada vez mais atiradores fazem disparos contra inocentes nos Estados Unidos. Aqui no Brasil, isso já começa a acontecer, e tende a piorar com políticas que ampliam o porte de armas e com o colapso das políticas públicas de saúde mental. Se nós tivéssemos um psicólogo para cada cidadão ao invés da proposta do governo de mais armas para o cidadão, evitariamos muitos desses desastres.
Exato, penso da mesma forma.
Ai, e tá esperando o quê para ler? kkkkk
Um livro sobre uma tragédia recorrente nos EUA, contado do ponto de vista de uma criança inocente que não pode fazer nada a não ser sofrer e assistir ao seu mundo ruir? Quero
Pensei o mesmo quando li a sinopse kkkkk
Carl!
Deve mesmo ser um livro tenso, intenso e triste, mesmo com a linguagem feita através de uma criança, que traz a inocência, ainda assim, temos de estar preparado para toda a narrativa.
E achei bem bacana a autora ter dado oportunidade a quem preticou o crime, também mostrar seus sentimentos em relação ao que fez.
Gosto de toda abordagem psicológica dada ao livro.
Participo e sairá divulgação no blog.
Rudynalva Correia Soares
rudynalva@yahoo.com.br
cheirinhos
Rudy
BLOG ALEGRIA DE VIVER E AMAR O QUE É BOM!
Charlie é o pai da criança que cometeu o crime, ele não é o criminoso 😉
A cada tiroteio que ocorre nos EUA, penso naqueles que sobreviveram e terão que viver com o medo, trauma, dor e saudades dos que se foram.
Isso que Zach sente do “por que não eu” é algo que pode corroer uma pessoa, imagine uma criança.
A família dele não soube lidar com a tragédia e vai se desintegrando, porque escolheu a culpa e a dor para abraçar ao invés do perdão.
Nossa!!! Sem palavras para descrever o que senti ao ler este texto. É um assunto extremamente sério, que lá fora é uma realidade muito presente e aqui está a ponto de se tornar também, se as políticas públicas continuarem tão mal administradas em relação a posse e porte de arma, em um país onde a segurança e a justiça sofrem descaso.
Ver a história do ponto de vista de uma criança traumatizada e anulada pelos seus, nos mostram o quanto devemos prestar mais atenção nas nossas crianças, pois um evento na infância marca por uma vida inteira.
Isso é uma coisa que poucos pais fazem: prestar atenção nos filhos!
Infelizmente estes “incidentes” não são coisas que acontecem somente lá fora. Cada vez mais isso vem chegando perto de nós e estes dias na igreja que vou, pensava sobre isso. Parece que cada ambiente onde tenham muitas pessoas reunidas, já é um perigo para que uma mente perturbada faça algo deste tipo.
As escolas sempre foram alvos fáceis, pela falta de segurança, pelo jeito tão normal de qualquer um entrar que assusta a gente só de imaginar algo assim.
Fiquei lendo a resenha acima e refletindo sobre isso. Ainda querem armar o cidadão de “bem”?? Oh, deixa quieto.
Zack precisa de ajuda. Sua família precisa de ajuda. Charlie precisa de ajuda. A pobre da amante que também perdeu seu porto seguro, precisa de ajuda. E como ajudar? Como culpar um pai pelo que seu filho faz assim, sem mais nem menos? Como ajudar alguém que sofre perdas desta forma??
Vingar-se trará a criança de volta?
Já vai para a lista dos mais desejados neste instante!
Beijo
Leia mesmo, e o pequeno Zach consegue responder a maioria dessas perguntas…
Adorei o texto parabéns.
Olá Carl, tudo bem? Eu amo histórias que emocionam e já sinto que irei amar esta leitura, confesso que não conhecia a obra mas fiquei bem curiosa com as suas considerações.
Um beijo.
Uau! Estou me sentindo sufocada. Fico pensando em como um garotinho de apenas 6 anos consegue passar por algo tão trágico e se manter forte a ponto de conseguir unir a família novamente. Claro que ele sente falta do irmão, mas ele foi o único que conseguiu ter empatia com o próximo apesar de toda a dor que ele sentia. Criança é assim, eles não são egoístas.
Quero muito poder ler esse livro e me emocionar com a estória desse garotinho por quem eu já me apaixonei.
Ele é muito emocionante e é impossível não se apaixonar por Zach!
A resenha foi suficiente p/ perceber que é uma leitura muito difícil.
Fiquei curiosa pela conversa final com o Charlie.
Olá!
Quando leio algum livro que são narrados por crianças que sofrem ou sofreu de algum trauma, parte totalmente o meu coração, é como se eu quisesse entra no livro e pega ele no colo e poder cuida e dizer que irá ficar tudo bem. Com certeza irá acontece isso comigo se eu for ler esse livro. A historia é impactante porque o que acontece no livro e um retrato da sociedade e o que passa no estados unidos. Espero que eu consiga ler esse livro.!
Meu blog:
Tempos Literários
Nossa! Que assunto delicado, pesado e instigante. Será que é esse o livro que vai me fazer chorar? To louca atrás de um desses… Hahaha
Participsndo.
Oi Carl, tudo bem?
Esse livro tem uma história muito linda, mas de quebrar qualquer coração. Lendo sua resenha eu consegui sentir um pouco do que vc sentiu, e fiquei bem curiosa para conhecer esse livro.
Olá! O mais assustador é saber que esses casos estão cada vez mais frequentes por aqui também (ainda mais porque trabalho em uma escola). Já amei saber mais sobre o livro e essa história que sem dúvida vai me arrancar algumas (milhares) de lágrimas. Acho tão válido essa oportunidade de nos aventurar nessa história tão pesada pelos olhos de um protagonista tão jovem e que por muitas vezes não entende, nem percebe a gravidade e intensidade de tudo que o cerca.
Sim, no Brasil já aconteceu mais vezes do que poderíamos um diz imaginar.
É triste pensar no quão perturbadas as crianças ficam após cada tiroteios desses acontecerem. E que estão cada vez mais frenquente.
Fico com pena pelo o que o Zach teve que passar, e por ter se culpado pela morte do irmão, ainda aquele turbilhão de coisas acontecendo a sua volta. Parece ser um livro tocante e emocionante que com certeza eu irei procurar ler.
Forte, mas real. E estamos vendo isso por aqui também. Já havia me questionado como
seria a vida dos pais que perdem seus filhos dessa forma tão trágica, mas nunca havia
pensado nos sobreviventes, apesar de saber que o acompanhamento psicológico sempre
é dado nas escolas. O drama de Zach é também o dos demais sobreviventes.
Oiii ❤ É tão triste que esse tipo de coisa seja uma realidade, que massacres aconteçam tanto nos EUA, que já sejam considerados “comuns”.
Não consigo nem imaginar como uma criança absorve uma cena dessas. É tão triste que uma criança tão pequena tenha que lidar com um trauma tão grande e ainda se sentir culpado por não ter sido ele a morrer, ao invés do irmão.
Oi!
Esses massacres estão sendo cada vez mais frequentes, não só no EUA, como já podemos perceber alguns deles acontecendo aqui no Brasil com inspirações que vêm de fora.
Fico pensando na dificuldade da autora em escrever esse livro na narrativa de uma criança.
Sem dúvida, quero ler, e estou participando do sorteio!
Olá, Carl
Infelizmente não é só no EUA que está acontecendo essas tragédias, aqui no Brasil também.
Hoje temos que saber como falar com primos, parente, filhos e o modo como tratamos para que nossos filhos não sofram esses ataques nas escolas.
Um assunto tão delicado narrado por uma criança inocente que está sofrendo pelo irmão morto, por ver sua família se desfazendo e pelo choque que ele passou.
Quero ler, torcendo para ganhar.
Beijos
O livro parece conter um história muito triste!! Zach é um daqueles personagens que a gente fica com vontade de dá um abraço!!