Victor conheceu Eliot na faculdade, quando viraram colegas de quarto. Victor achou que seria uma convivência forçada, mas reconheceu em Eliot algo que o cativou. Eliot parecia ter duas camadas, mas uma delas ficava sempre oculta, só aparecia de vez em quando, em olhares ou mexidas de boca, que mesmo assim não escapavam de Victor. Isso criou um interesse profundo em Victor, o que impediu que ele odiasse Eliot depois que este roubou os sentimentos de Angie, a garota por quem Victor era apaixonado antes de Eliot aparecer.
Já no último ano do curso, os dois precisam apresentar o trabalho final, e acabam por seguir um caminho sobre a criação dos EOs, ou ExtraOrdinários, pessoas que possuem capacidades sobre-humanas, poderes, mas que não são reconhecidas oficialmente, são lendas urbanas. O que se sabe, ou pensa que se sabe, é que existem dois tipos de EOs: os que nasceram com poderes; e os que ganharam poderes devido a algum tipo de acidente. É sobre esse segundo tipo que Victor e Eliot decidem estudar, e chegam à conclusão de que é possível ganhar poderes com uma experiência de morte. Ou seja, a pessoa precisa ter um trauma tão profundo, tão intenso, um aumento tão grande de adrenalina, que só seria possível quando estivesse para morrer e soubesse disso.
Assim, os dois decidem provocar a própria morte na tentativa de provarem a tese. Victor tem uma primeira experiência, mas fica poucos segundos morto, e quando Eliot o ressuscita com a ajuda de equipamentos, ele volta sem qualquer tipo de poder. Então Eliot também tenta, mas Victor espera vários minutos a mais, antes de o trazer de volta. E desta vez, conseguem. Eliot ganha o poder de se regenerar de qualquer tipo de ferimento. Victor, claro, quer tentar novamente, mas Eliot é contra e pede para que ele espere mais algum tempo, que ele se recupere melhor da primeira tentativa. Só que Victor está obcecado e faz assim mesmo, com a ajuda de Angie. E desta vez obtém o que tanto queria, o poder de controlar a dor, e de infligir dor a quem ele quiser. Só que um acidente acontece nesse processo, que desencadeia uma briga mortal entre Victor e Eliot.
Victor é preso e fica dez anos em uma penitenciária. Lá, ele conhece Mitch, um outro presidiário enorme, gigante, que é um hacker. Pelo tempo que fica preso, Victor planeja sua fuga e uma forma de se vingar de Eliot. Quando consegue, ele tem um encontro inesperado com uma garotinha de doze anos de idade, que também é uma EO, e que está fugindo de sua irmã, Serena, que a tentou matar, junto o namorado, que Victor descobre ser Eliot. Então, ele tem a chance que tanto sonhava de finalmente matar Eliot pelo que ele fez dez anos no passado.
VILÃO possui diversos elementos presentes em centenas de histórias em quadrinhos da Marvel e da DC, sendo o principal deles, a capacidade de pessoas comuns ganharem superpoderes através de acidentes bizarros. E a forma que Victor e Eliot conseguem os poderes deles, realmente é bizarro e meio sem sentido. Afinal, para se ter um aumento de adrenalina, não é necessário um trauma ou morrer, basta uma injeção, que por sinal, dependendo da dose, pode realmente matar. Mas de qualquer forma, não existe uma explicação razoável para o que faz algumas pessoas ganharem esses poderes aleatórios, baseados nos últimos pensamentos de cada uma delas antes de morrer. Mas, mesmo assim, isso não chega a afetar, uma vez que já estamos com a suspensão de descrença ativada.
Existe um outro elemento copiado de outra obra, no caso do filme LINHA MORTAL, de 1990, com Kiefer Sutherland e Julia Roberts, que teve um remake em 2017, chamado de ALÉM DA MORTE, com Ellen Page. No filme, estudantes de medicina realizam experimentos provocando a própria morte para descobrirem se existe algo depois da vida. Quando retornam, eles retornam modificados, com alucinações e paranóias. O mesmo acontece em VILÃO. Victor e Eliot não retornam apenas com poderes, mas com uma perda de sentimentos, um descaso maior com a vida alheia, e com um aumento da paranóia habitual.
Entretanto, existe um problema que realmente incomoda: coincidências. Existem várias, mas duas delas são demasiado forçadas. A primeira é o encontro acidental com Sidney. Victor, depois que foge da prisão, não sabe o paradeiro de Eliot. Ele pode estar em qualquer parte do mundo. Então, do nada, no meio de uma estrada, de noite, debaixo de chuva, Victor passa de carro por Sidney, justo a garotinha que tem o maior dos poderes, que é irmã de Serena, a atual namorada de Eliot, e que sabe onde este está.
A segunda coincidência é quando Victor encontra um outro EO, Dominic, que possui o poder de ir de um local a outro sem ser notado, pelas sombras, que é exatamente o poder que Victor precisa para conseguir chegar até Eliot de surpresa. Conveniente demais, não? E como essas, existem outras menores, que criam uma sensação de que a autora estava com um pouco de preguiça de criar algo mais elaborado.
Apesar desses problemas, os personagens, Victor, Eliot, Angie, Serena, Mitch, Sidney, são todos muito bem construídos, diferentes entre si, com profundidade, críveis o suficiente para que o leitor se importe com eles, não apenas pela torcida para que alguns sobrevivam, como também pela torcida que alguns sofram as consequências de seus atos.
Eliot é arrogante, parece possuir um grau de bipolaridade, e ganha uma certa demência quando consegue seus poderes. Como não pode morrer, nem envelhecer, ele age como alguém acima dos outros, como um juiz do que é certo e errado, e começa a pensar que os outros EOs não são dignos de estarem vivos, que são aberrações da natureza. Durante os dez anos em que Victor esteve preso, Eliot tomou uma decisão que o distanciou completamente de qualquer chance de ser um herói.
Victor tem um problema de identificação que fica evidente antes mesmo dele conseguir os poderes. Ele é invejoso, inseguro, retraído. Quando retorna, ele só pensa em vingança, tem um temperamento explosivo, mas consegue se controlar para não cometer nenhum ato impensado. Ele também não pode ser considerado um herói, uma vez que cometeu uma atrocidade para conseguir os poderes. Mas, ao contrário de Eliot, Victor ainda consegue ter alguma compaixão pelas pessoas, especialmente por Mitch e por Sidney.
Mitch é o cara que ajudou Victor quando este chegou ao presídio. Pequeno, fraco, seria presa fácil para os criminosos lá dentro. Mas Mitch logo descobre que quem corre risco são os presidiários. Victor é tudo, menos indefeso, e é a pessoa mais perigosa daquele lugar. Os dois formam uma amizade baseada na lealdade e que se mantém após a fuga. É muito legal ver como eles atuam em conjunto e a confiança que um deposita no outro.
Sidney é irmã de Serena, e as duas ganharam os poderes ao mesmo tempo, em um acidente no gelo. Mas Serena, quando retorna, foge e abandona a irmã mais nova. Mesmo assim, Sidney não desiste e vai atrás da irmã. Acaba conhecendo Eliot, quando ele já é namorado de Serena. Só que Eliot considera o poder de Sidney abominável, uma afronta à natureza, e se nega a deixá-la viva.
VILÃO, apesar dos problemas que citei, é escrito de uma forma que prende a atenção, com muita agilidade e ação. A narrativa navega entre vários pontos do passado e do presente, com explicações e acontecimentos que se completam e se explicam, com atitudes surpreendentes de cada personagem, e tudo convergindo para um confronto entre os seis que se sabe que não irá terminar sem a morte de alguns. Essa capacidade de entreter, consegue ofuscar as coincidências, os elementos copiados de outras obras, as conveniências, e a sensação que fica após a leitura, é de querer ler mais sobre os personagens.
AVALIAÇAO:
AUTORA: V.E. SCHWAB, também conhecida como Victoria Schwab, é autora best-seller de livros como A Guardiã de Histórias, A Guardiã dos Vazios, Um Tom Mais Escuro de Magia e Um Encontro de Sombras. Vilão foi vencedor dos prêmios Publishers Weekly Best Book of 2013, Amazon Best Book of the Year e Amazon Best Book of the Month. Quando não está passeando pelas colinas da Escócia ou pelas ruas de Paris, é possível encontrá-la num café em Nashville, sonhando com monstros.
TRADUÇAO: Flávia de LAVOR
EDITORA: Record
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 369
COMPRAR: Amazon
Essa desconstrução ou essa alternância entre Vilão e Herói- papéis geralmente bem definidos em livros- pode, em um primeiro momento, causar certa estranheza, mas só a genialidade de VE Schwab é capaz de criar personagens tão instigantes quanto Victor e Eli,cheios de nuances,complexos, coisas boas e más, que acreditam estar fazendo o que é certo.
Tenho ranço de hypes, mas acredito que esse vá me cativar. Não sabia que a história ia tão fundo, pensava ser algum policial clichê que todos andavam endeusando por causa do peso do nome da autora. Adorei a resenha! Parabéns <3
As resenhas do Gramatura sempre são mais profundas e entregam mais informações 😉
Acredito que este tenha sido um dos livros mais citados,resenhados e sim, elogiados nos ultimos tempos. Tanto que sim, está na minha lista de mais desejados desde que li a primeira resenha.
Isso de brincar com o bem e o mal desta forma,de trazer a vingança, a profundidade dos personagens ( todos fundamentais para o desenrolar da história) tem também isso dos super poderes.
Pelo que me lembro, é a primeira resenha que cita estas coincidências que sim,irritam quando usadas meio sem medidas, por isso desde já, agradeço!!! Assim saberei a real quando o ler!!!!
Beijo
Ele é bom, divertido, bons personagens, mas não é assim tãaaaaaaaaaaaaao bom quanto dizem por aí.
Ouve grande comoção após o lançamento desse livro porem não estava ligando muito para isso. Vejo agora que é uma história envolvente, com vingança e elementos sobrenaturais. É bem bizzaro pensar na maneira como eles adquiriram poder rs. Acredito que poderiam ter construído algo melhor no encontro de Sidney e Victor, pois foi uma baita coincidência ein!
Com certeza, poderiam. Mas né…
Carl!
Típico exemplo de que tudo se recria, pela perspectiva da autora.
Gosto muio de ficção e logo que comecei a ler sua resenha, lembrei do filme Linha Mortal que deve ter sido uma grande referência para autora.
Em relação as coincidências, é ficção, né? Ela usou e abusou para que tudo se encaixasse de forma fácil, porque poderia ter encontrado uma forma que os encontros acontecessem sem ser tão óbvia.
Ainda assim, gostaria de ler.
cheirinhos
Rudy
Na primeira vez que vi este livro em uma livraria, achei a capa linda, porém achei que fosse uma história de terror, então nem cogitei a ideia de lê-lo. Agora lendo esta resenha, que me prendeu a atenção e me despertou o interesse, fiquei tensa querendo saber o que acontece na história. Me lembrou um pouco a série Titans.
Eu gosto muito de histórias que não tem um vilão ou um herói definido, personagens que agem como pessoas “normais”. Gosto muito quando fogem os clichês e inovam.
Lembra Titãs mesmo!
Eu não li esse livro ainda, mas toda resenha que leio sobre ele fico tentando descobrir quem é o vilão e quem é o mocinho nessa estória. Parece até que o Elliot e o Victor são um pouco de cada.
Às vezes esses pequenos probleminhas de colocar pessoas ou coisas bem convenientes pelo caminho do personagem realmente irritam. Mas, ainda bem que nesse caso não foi nada que atrapalhasse a leitura.
Quero muito poder ler.
Acho que não tem nenhum herói…
Olá!
Eu já li varias resenha em relação a essa obra da outra e vejo comentários positivos. Tenho um interesse muito grande em ler essa obra, a trama é interessante e me deixa bastante curiosa por ele. Já tinha visto outras obras dela e também são incríveis. Espero muito ter a oportunidade ler!
Meu blog:
Tempos Literários
Oi Carl, tudo bem?
Eu comecei a ler esse livro e li apenas alguns capítulos, mas fiquei bem intrigada com o pouco que pude ler. Gostei de ver seus apontamentos, até agora eu só ví resenhas super positivas mas nenhuma tão sincera.
Olá! Ainda não tive a oportunidade de ler nenhum livro da autora, mas só li, até agora, coisas positivas sobre sua escrita e principalmente sobre esse livro, gosto muito da proposta dele, essa mistura de fantasia com suspense, além claro dessa capa linda, e o fato de ambos os protagonistas não serem perfeitos, os dois terem defeitos é bem diferente do que estou acostumada a ler.
Oi!
Eu achei que a história estava indo muito bem até aparecer a tal garota de doze anos. É uma coincidência muito forçada uma das pessoas tentando a matar ser o Elliot.
Olá, Carl
Li muitas resenhas que me deixaram bem curiosa a respeito do livro, que claro está entre meus desejados.
Obrigada por contar mais detalhes, agora descobri a forma de como eles ganham poderes e em alguns casos é bem cruel causar a morte de outra pessoa só para ter poder.
Se encaixa bem ninguém é mocinho aí, são vilões bem cruéis.
Beijos