Enrico e Brasta são dois velhos e viúvos fazendeiros, habitantes da pacata cidadezinha mineira de Caminho da Fé. Os dois possuem uma disputa por um pedaço de terra que fica entre suas propriedades, que já dura várias décadas, e que custou a vida de seus filhos e a vida de suas esposas. Certa noite, cansados, ao redor de uma fogueira, munidos de bebida, os dois decidem encerrar essa briga e declararem, finalmente, quem é o dono desse pedaço de terra amaldiçoado. Mas antes, Enrico conta para Brasta alguns acontecimentos macabros que o perseguiram nos últimos dias, que ele justifica como sendo feitos por uma bruxa. Brasta considera que é apenas uma tentativa do rival para assustá-lo, mas, aos poucos, o que ele acha que é mentira, se transforma em pura realidade.

OS DOIS FAZENDEIROS é uma novela de terror que consegue atingir seu objetivo em pouquíssimas páginas. A narrativa é feita em primeira pessoa e dividida em três partes: a primeira, é uma carta escrita por Enrico e que descreve seu plano para embebedar Brasta, distraí-lo com histórias de bruxas para depois matá-lo; a segunda, é uma carta de Brasta, que conta como pretende enganar Enrico e atraí-lo para sua fazenda para depois matá-lo; e a terceira parte, não posso dizer quem é o narrador, porque estragaria a surpresa da leitura.

Para encurtar tal depoimento, ou ainda tais sinceras lembranças, desejo que fique a conhecimento do leitor que o camarada Brasta é o homem que irei matar.

Os trechos que descrevem como Enrico e Brasta começaram a disputa por um pedaço de terra lamacenta e abandonada no fundo de seus terrenos é tenebrosa. Principalmente os trechos em que os filhos deles desaparecem e a forma como as esposas reagem após esse acontecimento. O mesmo acontece na descrição que Enrico faz sobre as aparições macabras em sua fazenda, dando destaque para quando surge alguém usando determinadas partes de um animal. É realmente assustador, sem ser explícito.

Fosse meu último dia de vida (…) ainda haveria em mim energia o bastante para levar o sujeito Enrico para o outro mundo, antes que chegasse minha vez.

A história merece elogios pela forma como deixa algumas coisas para serem compreendidas apenas pelos leitores nas duas primeiras partes, para então, na terceira, apresentar algo que torna tudo muito pior, e isso sem descrever uma única cena de terror, apenas com a sugestão. Aliás, sugestão é o que mais existe dentro da narrativa, começando pelo nome da fictícia cidadezinha onde os dois vivem, até a forma como eles terminam a história, inclusive a posição como estão. Leia que irá compreender. E devo acrescentar que tudo é muito melhor do que a maioria dos livros de terror que li nos últimos anos.

Tudo lembra muito aquelas histórias que ouvimos quando viajamos para cidades do interior, afastadas das metrópoles, onde os adolescentes se reúnem para dividirem fatos assustadores que juram ser verdadeiros e que causam aquele arrepio na nuca, tiram o sono da madrugada e fazem a gente cobrir a cabeça com o cobertor. É maravilhoso!

OS DOIS FAZENDEIROS surpreende por utilizar um terror simples, mas muito eficiente, para descrever os malefícios da obstinação humana que persiste por décadas, apenas por pura ganância e orgulho. E ainda consegue deixar no leitor uma dúvida tão profunda, que ao fechar o livro, depois da última página, ele terá receio de olhar para trás ou ir sozinho de noite beber água na cozinha.


AVALIAÇAO:


AUTOR: Matheus ZUCATO, nascido em Santa Bárbara D’Oeste (SP), em 1994, mas criado a vida toda em Monte Sião, no sul mineiro. Leitor assíduo de clássicos da literatura, o autor é inspirado principalmente por autores como Kafka, Saramago, Machado de Assis, Choderlos de Laclos, Poe, Hermann Melville e William Golding. Divide atualmente o tempo cursando Engenharia Hídrica pela Universidade Federal de Itajubá – MG, e escrevendo livros, dos quais publica seu primeiro: Os Dois Fazendeiros.
EDITORA: Autografia
PUBLICAÇAO: 2018
PÁGINAS: 70


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