Robert Kirkman é dono de duas HQs de grande sucesso, tanto comercial, quanto de crítica: THE WALKING DEAD e INVENCÍVEL. Ambas ainda são publicadas nos EUA, sendo que TWD também tem encadernados lançados no Brasil pela Panini Comics, além da série de TV, claro. OBLIVION SONG é sua nova aposta, com lançamento no final de 2018 pela editora Image, e com apenas doze números publicados mensalmente até agora. Esta edição da Intrínseca é um encadernado dos primeiros seis números. Por ser um encadernado, não pode ser avaliado como se fosse um volume com início, meio e fim. A publicação é mensal, como os quadrinhos da Marvel e DC.
Uma década atrás, 300.000 habitantes da Filadélfia, uma cidade dos EUA, foram transportados para uma versão da mesma cidade em uma dimensão paralelo, destruída e infestada de monstros, chamada de Oblivion. Nos primeiros anos, o governo autorizou o exército a realizar viagens para resgatar as pessoas, mas, aos poucos, eles pararam de encontrar sobreviventes, o processo ficou demasiado perigoso, e cessaram as buscas. Menos Nathan, um cientista que faz incursões clandestinas e instáveis a Oblivion para provar que ainda existem muitas pessoas, mas que elas estão escondidas ou saíram da cidade. Ele conta com o apoio de Duncan, que Nathan resgatou de Oblivion, e de Bridget, a esposa de Duncan. Mas o casal acha que o verdadeiro motivo de Nathan viajar até Oblivion, é para encontrar seu irmão, Ed. Todos acreditam que ele já morreu, menos Nathan, e ele quer provar que está certo. Só que existem outros segredos que Nathan mantém para si, inclusive o motivo da transferência de tantas pessoas para outra dimensão.
Existem algumas semelhanças entre OBLIVION SONG e THE WALKING DEAD em termos de conceito: pessoas normais que vivem em um mundo destruído cheio de monstros; e personagens marcados por traumas de algo que fizeram ou que presenciaram. Entretanto, todo o resto é diferente, começando pela narrativa mais ágil, menos dramática, por uma ação maior, por traços mais cartunescos e por um ambiente mais fantasioso e supernatural. Na verdade, tudo é mais comercial, voltado para um público mais jovem, no mesmo estilo das revistas mensais de linha. Obviamente, isso não é negativo, a proposta é apenas diferente.
Nathan é um personagem obcecado, nota-se logo de início. Ele não mede esforços para conseguir trazer todos os que pode de volta para a nossa dimensão. Isso seria louvável, se ele não infringisse regras para atingir esse objetivo. E quando ele faz isso, coloca em risco aqueles que estão ao redor, eles acabam por sofrer as mesmas consequências que Nathan sofre, mesmo que não concordem com a forma como ele faz as coisas.
Teve momentos, durante a leitura, que eu fiquei em dúvida sobre se Nathan realmente não viajava até Oblivion apenas para procurar pelo irmão. Algumas de suas atitudes são estranhas, e ele esconde algumas ações de seus amigos, Duncan e Bridget. Pensei até que seria uma falha de construção do personagem, até que cheguei à última história, e então acontece uma surpresa que explica direitinho o motivo de Nathan agir como age.
Uma coisa que gosto em Kirkman e em sua atenção para os detalhes. Quando Nathan vaga por Oblivion à procura de sobreviventes, se escondendo pelos becos da cidade e no meio de destroços dos monstros, ele resgata qualquer indício que possa identificar uma pessoa, como dentes, pedaços de roupa, etc. Pode parecer uma bobagem, mas é um detalhe que traz um significado maior para o que o personagem realiza, além de exemplificar a tragédia de quem não conseguiu sobreviver.
O mesmo acontece quando Nathan consegue trazer alguém de volta e, depois, vai até um monumento construído em um parque da cidade, onde constam os nomes de todas as pessoas desaparecidas, e ele risca o nome de quem voltou. Um gesto de persistência, de obstinação, de alguém que demonstra claramente que não irá parar até conseguir riscar todos os nomes.
Outra característica de Kirkman é a importância que ele dá aos personagens secundários. Eles não existem apenas para dar suporte, eles têm suas próprias histórias. Bridget, por exemplo, depois de anos do desaparecimento do marido, Duncan, ela seguiu com sua vida e começou um relacionamento amoroso com outro homem. Mas aí, Nathan traz Duncan de volta, traumatizado, e Bridget ainda o ama e abandona o namorado, mas sem coragem de contar a Duncan que existiu outro durante sua ausência. É algo trivial, mas que ajuda a dar contexto, dimensão, aos personagens.
Os desenhos de OBLIVION SONG são coloridos, mas com predominância de cores específicas e com tonalidades pastéis, com exceção de algumas páginas. Os traços são arredondados e deformados, não apenas nos monstros, mas na composição de alguns personagens, o que reforça a sensação de estranheza do ambiente e dos personagens, principalmente em Oblivion. Pouco detalhados, eles seguem a linha mensal e não chegam a trazer nada de muito diferente. Como é uma arte, não tem como dizer se é bom ou ruim, depende muito do gosto de cada leitor.
OBLIVION SONG é uma HQ que traz algumas reviravoltas interessantes na premissa de homem contra monstro em uma dimensão diferente. Principalmente por causa dos personagens principais, todos ambíguos, que podem surpreender o leitor a qualquer momento, e realmente surpreendem, ainda mais quando chegamos ao fim da história e alguns papéis se invertem. Se você gosta do gênero, é uma HQ que você não pode deixar de ler.
AVALIAÇAO:
AUTOR: Robert KIRKMAN é um escritor de história em quadrinhos americano, conhecido por seus trabalhos para os quadrinhos The Walking Dead e Invencível, ambos para a Skybound e a Image Comics, da qual é um dos cinco sócios, sendo o único entre eles que não é co-fundador da empresa. Ele também colaborou com o co-fundador da Image Comics Todd McFarlane na série Haunt. Ele é criador e produtor executivo da série The Walking Dead, também sendo responsável pela criação de Fear the Walking Dead, ambas da emissora AMC, cujas histórias se passam em um surto apocalíptico
ILUSTRADOR: Lorenzo De FELICI e Annalisa LEONI
TRADUÇAO: Fernando SCHEIBE
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇAO: 2019
PÁGINAS: 144
COMPRAR: Amazon
Nathan tem uma missão e tanto não é? Vai enfrentar muitos perigos, viver muitas aventuras, se arriscar, salvar vidas, conhecer verdadeiramente quem é bom e quem não é.
Gostei muito da escolha da paleta de cores dos desenhos de Oblivion, apesar de bem coloridos, os tons pastéis dão uma uniformidade a eles.
Mesmo que Hq’s não seja algo que eu domine, admiro demais o gênero,mas em contrapartida, sou fã demais de Twd e já andei folhando as Hq’s algumas vezes(um sobrinho as tem)
Por isso quando vi sobre este lançamento, me interessei e muito por todo este universo, além de ter muita semelhança sim com o universo de Twd, traz pontos diferentes, como a busca principal do personagem, que fica até meio confusa..rs mas está ali.
Acho que isso de colocar todos os personagens também sem uma definição exata seja um ponto positivo. Afinal, todos podem heróis ou não.
Se tiver oportunidade, quero sim, conferir.
Gostei demais das ilustrações.
Beijo
Confira, é bem legal!
Não é algo que eu leria, mas fiquei curiosa com o objetivo de Nathan e a precedência de tudo isso.
Achei os desenhos bonitos e as cores combinaram com a história e o cenário.
Apesar de não gostar muito da história, parece ser uma HQ impecável em todos os sentidos.
Tem que passar a ser algo que leia 😉
Olá! Gostei da proposta da HQ, essa ar mais fantasioso me atrai bastante, ainda mais por distinguir de The Waking Dead, que eu particularmente não curto. Acho que trazer personagens que mostram ser dúbio é bem legal e torna a leitura ainda mais interessante, afinal só com resenha já fiquei aqui curiosa para descobrir quais são as verdadeiras intenções do nosso protagonista em querer resgatar os sobreviventes.
Então leia para descobrir 😉
Oi, Carl
Quando criança li muitos quadrinhos, agora quase não leio.
Gostei muito dessa edição da Intrínseca de trazer 6 capítulos em um só livro. Essa capa é mais linda que a gringa.
Li algumas resenhas e fiquei bem curiosa para saber o que Nathan procura em Oblivion e agora com sua resenha descobri que um desses motivos é seu irmão. Mas a pulga ainda esta na minha orelha quero muito descobrir quais outras qual é o motivo que ele ainda não desistiu.
Beijos
O motivo é bem surpreendente, e você descobre nessa edição!