A Matéria Escura não é uma ficção. Ela é comprovada pelos cientistas, porque ela exerce uma força gravitacional que pode ser medida, mas não emite nenhum tipo de luz. Como todas as observações dos corpos celestes são a partir da luz que eles emitem, ou refletem, ou qualquer outro tipo de radiação eletromagnética, e como a Matéria Escura não faz isso, torna-se difícil de ser estudada.

Hoje em dia, estima-se que a Matéria Escura compõe quase 95% de toda a matéria do Universo, mas não se sabe exatamente o que ela forma. Com base nisso, Crouch cria uma teoria de que ela representa universos paralelos, um multiverso, criado com base nas diferentes escolhas que cada um de nós faz durante a vida.

Jason, o personagem principal, e narrador, teve um momento de bifurcação na sua vida. Em determinado ponto, ele precisou decidir entre casar com a mulher que amava, ou se dedicar à sua carreira como físico. Ele optou pela primeira. Teve um filho, virou professor de uma faculdade, e seguiu dentro da rotina de cada um de nós. Em outro universo, ele não se casou, virou um renomado cientista, não teve um filho e criou uma máquina capaz de fazer uma pessoa navegar entre cada um desses universos.

Esse outro Jason, ao entrar no universo do Jason narrador, toma consciência de que a felicidade mora na relação entre as pessoas, que mesmo ele sendo famoso e rico, nunca foi feliz. O que ele faz, então? Sequestra o Jason narrador e o manda para o universo paralelo, enquanto ele assume o lugar com a esposa e filho do Jason narrador.

Nosso Jason, totalmente desnorteado, descobre que seu filho não existe, que sua esposa não é sua esposa, e que seu mundo, não é seu mundo. Aos poucos, ele vai compreendendo o que aconteceu, procurando uma forma de votar ao seu universo, enquanto tem que lidar com vários outros problemas, alguns mortais.

MATÉRIA ESCURA, apesar de ser uma ficção-científica de primeira qualidade, é, acima de tudo, uma história sobre pessoas e suas escolhas, sobre o que cada um de nós abre mão, ou abraça, em vários momentos de nossas vidas. É sobre a constatação de que a felicidade, muitas vezes, já faz parte de nós, mas não conseguimos ver isso, porque caímos na rotina, nos acomodamos. Que precisamos, sempre, valorizar aquilo que conquistamos, mesmo que uma parte de nós sonhe com escolhas diferentes daquelas que fizemos.

Uma coisa bastante interessante na construção dos personagens dos universos paralelos de MATÉRIA ESCURA, é que eles, mesmo sendo cópias uns dos outros, possuem personalidades e caracteres distintos, ou seja, almas diferentes. Embora a matéria seja a mesma, a nível atômico, o que existe dentro de cada um de nós, não pode ser duplicado. Somos seres únicos, exclusivos de cada um de nossos próprios universos.

A leitura da obra de Crouch é quase sem pausa, porque o leitor não consegue vislumbrar o que vem a seguir, fica ansioso pelo que será desvendado no capítulo seguinte. É dessa receita que uma boa ficção é feita. Inclusive, em certo ponto da história, quando ela converge para sua conclusão, nós não fazemos ideia de como resolver o problema criado por Jason para que possa retornar a seu universo. Devo confessar que a sua solução é lógica, absoluta, embora deixe um problema enorme para ser resolvido por alguma outra pessoa. E tem um certo grau de tristeza e de fé.

Obviamente, uma história desse nível, com as coisas que acontecem da metade para o fim, não ficaria longe das telonas. Os direitos já foram vendidos, e logo o livro será adaptado para os cinemas. Curioso para ver como ficarão as passagens pelos diferentes universos, e, principalmente, o final!


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Blake CROUCH é roteirista e autor de diversos best-sellers. Seus livros já foram traduzidos para mais de trinta idiomas e venderam mais de um milhão de exemplares. Mora com a família no estado americano do Colorado.
TRADUÇÃO: Alexandre RAPOSO
EDITORA: Intrínseca
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 352


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