Espada e Feitiçaria, ou Espada e Magia, é um subgênero da fantasia que envolve heróis que se utilizam de espadas como armas em aventuras com elementos sobrenaturais ou mágicos, sem ser necessariamente definido um período, ou um universo específico, ou mesmo se está dentro de nossa realidade. ESPADAS E BRUXAS, uma coletânea de histórias desenhas em preto e branco pelo espanhol Esteban Maroto, faz parte desse subgênero.

Maroto começou sua carreira quando ainda tinha treze anos de idade, nos anos de 1960, e ganhou notoriedade com sua série de ficção-científica CINCO POR INFINITO, que eu pretendo resenhar muito em breve aqui no blog. Aí, nos anos de 1970, ele foi convidado a criar um bárbaro baseado em Conan para uma revista de antologias semelhante à antiga Heavy Metal. Foi assim que Maroto entrou nesse mundo de Espadas e Feitiçaria. Aliás, a nível de curiosidade, ele foi o responsável pelo visual de Sonja, ou Sonia, se você quiser pronunciar corretamente o nome da guerreira. Foi ele quem a desenhou de biquíni metálico pela primeira vez, visual que persiste até os dias de hoje.

Em ESPADAS E BRUXAS, alguns desenhos de Maroto são meio que posados. O que quero dizer com isso? Bem, em quadrinhos convencionais, comerciais, a ação dos personagens é uma sequência de movimentos que permitem ao leitor compreender o que acontece, o que ele faz. Como se fossem quadros de um filme, mas apenas em menor quantidade, ou como se alguém tirasse várias fotos, uma atrás da outra. Em ESPADAS E BRUXAS, os personagens parecem estar posando para uma pintura em várias páginas, tipo aquelas poses de super-heróis quando fazem uma entrada dramática.

Mas isso é um ruim? Claro que não! É um estilo. Maroto utiliza as poses quando os personagens aparecem pela primeira vez, ou quando se confrontam, ou quando trocam diálogos, mas ele coloca movimento e sequência quando é necessário, como em fugas, batalhas, perseguições. E essa forma de desenhar casa perfeitamente com o gênero, além de proporcionar páginas lindas, que você fica analisando detalhe por detalhe, de boca aberta.

Aliás, Maroto é espetacular na concepção do corpo humano, tanto o masculino, como o feminino. Ele conhece cada pormenor da anatomia, transmitindo uma sensualidade que não é vulgar, mas de aparência natural em consonância com o ambiente e a época. E olhem que precisa ser um mestre para conseguir isso.

Mas sua competência artística não fica presa a poses ou personagens sensuais. Quando há necessidade de movimento, como nas lutas, ele sabe, como ninguém, a forma de manejo de uma espada, de um machado, de um soco, de um chute, como se ele realmente tivesse assistido e apenas reproduzido seu testemunho. O que de certa forma é verdade. Alguns artistas se baseiam em movimentos de pessoas reais em seus traços, enquanto muitos, a maioria na verdade, utiliza de liberdades criativas e não tem essa preocupação.

Antes de falar das histórias que compõem esta edição, preciso fazer algumas ressalvas. A primeira ressalva é sobre a época em que Maroto produziu as histórias, quando o machismo ainda era “tolerado” na maioria da sociedade; a segunda ressalva é sobre a época em que as histórias acontecem, quando a selvageria reinava, quando as mulheres só possuíam a função de acasalar, reproduzir e alimentar. A terceira ressalva é sobre o objetivo dessas histórias. Elas faziam parte de revistas de antologias voltadas quase que exclusivamente para um público masculino, que, na sua maioria, consumia o gênero mais pelos desenhos do que propriamente pelas narrativas. O que não quer dizer que não existiam histórias de qualidade. O próprio Conan é um bom exemplo de qualidade. A quarta ressalva é sobre a composição dos personagens, Wolff, Dax e Korsar, os três guerreiros de ESPADAS E BRUXAS. Eles são, claramente, propositalmente, cópias levemente modificadas de Conan. Com o sucesso do cimério, era natural outras editoras faturarem em cima. Maroto, devido principalmente à sua arte, era uma escolha óbvia para a função.

Dito isso, preciso confessar que fiquei decepcionado com as histórias. Quando comprei a edição, e com base em outras que já li, inclusive do próprio Conan, porque nem tudo dele é bom, eu não estava com muitas expectativas. Entretanto, a narrativa é muito pior do que eu esperava. Na verdade, só existe uma linha de ação para todas as histórias desta edição: um bárbaro conhece uma mulher, faz sexo com ela, ela é sequestrada por alguém, ele vai atrás para a salvar, ele encontra outra mulher que é a responsável pelo sequestro, ele faz sexo com ela também, a mulher que ele foi salvar morre, ele vai embora. Sim, essa sequência de acontecimentos se repete, e se repete, e se repete. Existe uma ou outra variação, como quando quem sequestra a mulher é um homem ou um monstro. Aí, o bárbaro não faz sexo. E em algumas, a mulher sequestrada consegue escapar com o bárbaro. Mas por pouco tempo, porque ela morre na história seguinte. Somado a isso, os diálogos são muito expositivos, canastrões. Não são naturais, não passam credibilidade. Depois da quarta história, eu passei a ignorar a maioria e me concentrei nos desenhos.

Os três personagens criados por Maroto, embora sejam cópias levemente modificadas de Conan, nem de longe possuem o mesmo carisma ou a mesma presença que o cimério. Não existe uma composição de personagem, apenas alguém que batalha por instinto e por sexo. Essa superficialidade impede que existe uma identificação, e eu passei e sequer me importar com o destino de cada um. Apenas ficava curioso para ver como seria a próxima mulher, o próximo monstro, como seria a morte dos dois.

Apesar de histórias superficiais, sem qualquer construção narrativa, todo o resto compensa, e muito. A edição está muito caprichada, com extras, introduções, biografia, curiosidades. A gramatura do papel é excelente, capa dura, tamanho maior que o convencional. Tudo isso somado a uma arte fantástica, com páginas que poderiam ficar expostas na parede, e com um preço justo, vale muito a pena, mas apenas para quem é colecionador, para aqueles leitores que são fãs do gênero ou que desejam ter na coleção a arte de Maroto.Ou seja, não é indicada para quem está começando agora com quadrinhos, ou para quem deseja ler algo mais bem escrito.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Esteban MAROTO é um ilustrador espanhol de histórias em quadrinhos. Sua carreira começou nos anos de 1960 e ganhou destaque ao ilustrar a série Cinco por Infinitos em 1967.
TRADUÇÃO: Alexandre CALLARI e Daniel LOPES
EDITORA: Pipoca e Nanquim
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 256


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