Lovecraft é um dos maiores nomes da literatura no campo do terror e do horror. Este volume reúne nove histórias do autor, além de muito conteúdo extra.
Os seres criados por Lovecraft são criaturas cósmicas e difíceis de descrever. Com uma escrita rebuscada e cheia de detalhes, o autor cria suas histórias de forma a fazer o leitor sentir uma crescente tensão até alcançar o ápice do terror.
As histórias do autor seguem, em sua maioria, um roteiro bastante parecido: um homem solitário ou dois exploram locais inóspitos, inabitados ou controversos e precisam lidar com as consequências do que encontram ou despertam. A narrativa também segue um padrão: as histórias são sempre contadas em primeira pessoa em um formato de relato, depoimento, na maioria das vezes em tom de alerta e, quase sempre, por narradores enlouquecidos ou, no mínimo, assustados e traumatizados.
De fato, não há uma diversidade muito grande, já que as histórias seguem esse padrão. O autor sabe conduzir o leitor muito bem, permitindo vizualizar os cenários, o clima e sentir o que o personagem sente, seu desespero, medo, apreensão ou arrependimento. E quando o clímax é alcançado, Lovecraft não poupa esforços para nos dizer o quão horripilantes são as descobertas, mas sem abusar de descrições físicas, pois seu objetivo parece ser justamente descrever as sensações e emoções de estar frente a frente com algo que os olhos humanos não são capazes de compreender. Por isso, a loucura, o horror e a ideação suicida são frequentes nos protagonistas.
O conto que abre essa coletânea é Dagon, que narra o surgimento de uma ilha, o que ela trouxe consigo do fundo do mar e os efeitos disso em um homem solitário que se encontra em meio a esse pedaço de terra antes inexistente. Dagon é tenso, rápido e digno de ser o escolhido para abrir a edição. Se tornou um dos meus preferidos.
Posteriormente, temos A Cidade sem Nome, que segue essa mesma fórmula do conto anterior, Herbert West: Reanimator, O Depoimento de Randolph Carter e O Cão de Caça, que é um conto que me lembrou as histórias de Edgar Allan Poe, pois se concentra em um animal real, mas de forma macabra, assim como Poe faz em O Gato Preto.
Em seguida, temos aquele que talvez seja o conto mais famoso do autor, O Chamado de Cthulhu. Aqui, diferentemente dos outros contos, encontramos uma descrição mais precisa das características físicas da criatura, denominada como Cthulhu. Esse conto é bem complexo e cheio de detalhes, tornando sua narrativa muito rica e interessante. Com uma grande carga onírica e cósmica, O Chamado de Cthulhu resume bem o trabalho de Lovecraft e sua dedicação em criar uma mitologia que soasse realista e completa.
Depois temos Nas Montanhas da Loucura e A Sombra Vinda do Tempo, que são as duas maiores histórias presentes no livro e que também relatam expedições por terras inexploradas. A Sombra Vinda do Tempo tem uma maior carga onírica, que lembra o já citado O Chamado de Cthulhu. E, para finalizar, A História do Necronomicon, que trata-se de um ensaio sobre o livro Necronomicon, que é uma obra existente dentro do universo criado por Lovecraft. E mesmo se tratando de um ensaio ficcional, o texto dá à mitologia lovecraftiana um tom ainda mais macabro, pois faz com que seus contos pareçam reais. O autor parecia gostar de causar essa sensação no leitor, pois, em todas as suas histórias, ele não mede esforços quando se trata de citar fatos históricos e hipóteses científicas.
Quando terminamos o livro, estamos tão imersos nesse universo que é difícil não se pegar pensando nas criaturas criadas. Todos os contos possuem uma atmosfera densa e sombria, que faz com que as histórias possuam uma linearidade difícil de encontrar em outras coletâneas de contos.
O que Lovecraft fez foi mais do que escrever contos, ele criou um universo único e complexo, onde cada texto explora um pouco desse mundo. Por isso, é comum encontrarmos referências dentro dos contos e, de certa forma, as histórias estão todas interligadas.
A Darkside publicou o livro em duas edições, ambas com exatamente o mesmo conteúdo, mudando apenas a arte. Uma capa mais sombria e outra mais colorida, ambas as edições estão impecáveis, com ilustrações belíssimas, comentários e muitas notas de rodapé. Certamente, um dos melhores trabalhos da editora.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Howard Phillips LOVECRAFT, filho de Sarah Susan Phillips e Winfield Scott Lovecraft, nasceu na casa de seus avós maternos em 20 de agosto de 1890 em Providence, Rhode Island, Estados Unidos. Lovecraft tinha uma saúde delicada, fato que lhe impedia de freqüentar a escola assiduamente. Porém, foi uma criança precoce. Aos três anos foi alfabetizado, lia e recitava poemas. Aos cinco anos leu As Mil e Uma Noites; e aos seis escreveu O Poema de Ulisses, obra rimada com 88 linhas inspirada na Odisséia. A partir daí, o jovem estuda em casa sem o acompanhamento de tutores. Retorna para a mesma escola em 1902. Neste período, interessa-se por astronomia e redige o “Jornal de Astronomia de Rhode Island” que teve 69 edições.
TRADUÇÃO: Ramon Mapa da SILVA
EDITORA: Darkside
PUBLICAÇÃO: 2017
PÁGINAS: 384
COMPRAR: Amazon
A Darkside sempre arrasa nas capas dos livros. E nas edições também.
Realmente o livro deve deixar uma sensação horripilante, depois que lemos. De ficar achando que viu algo e não sabe o que. De estar sendo vigiado.
E só um grande autor consegue fazer isso de maneira genuína e deixar o gostinho de quero mais.
Olá! Taí um gênero que eu não curto muito, na verdade quando leio a palavra terror, o primeiro extinto é fugir para as colinas (ok, posso ter exagerado um pouquinho aqui), mas definitivamente não é meu tema favorito quando vou escolher uma leitura, contudo não posso deixar de mencionar a edição que está realmente linda, Darkside sempre arrasando nesse quesito.
Nossa, o universo dele é espetacular ♡ por isso sempre que alguém vai ler um conto só, eu recomendo ler mais. Por mais que tenham valor unitário, o padrão seguido ser um tanto repetitivo em questão de personagem narrador, o universo supera isso. É muito bonito. Vejo isso nos livros do Neil Gaiman, mas no caso dele, ele cria um universo enorme em uma história só (é geralmente em livros curtos). Enfim, amo conhecer possibilidades além das nossas, como se pudéssemos viajar e acreditar que outra vida aconteceu ali. Não é como uma simples ficção científica, a gente para e “mas será que…?” mesmo as vezes sendo loucura. Essa imersividade é muito marcante.
Como fã de contos e ainda mais de terror e também fã demais de todo o trabalho impecável da DarkSide, namoro estes livros desde que os vi pela primeira vez.
E oh, as duas edições são belíssimas,apesar que eu ainda prefiro a mais sombria..rs
Não é apenas o terror sentido, é o terror vivido. Sei lá, é uma sensação única, apesar de oh, eu conhecer muito pouco deste universo ainda!
Espero ler e claro, ter a obra na minha estante em breve!
Beijo