A puberdade é um período que faz parte da adolescência e começa em momentos diferentes para cada pessoa. Esse início varia muito porque depende das características individuais de cada um. Normalmente, nas meninas, pode começar por volta dos nove anos e nos meninos, mais ou menos aos dez anos, mas também é comum começar um pouco mais tarde. Isso tudo acontece automaticamente, não é algo que a gente escolhe; é uma resposta natural do nosso corpo.

Muitos pais acham que são eles que decidem o momento certo para conversar sobre sexo com os filhos, mas na verdade não é bem assim. O sinal de quando começar essa conversa vem do próprio desenvolvimento das crianças. Quando entram na puberdade, elas começam a passar por várias mudanças físicas e emocionais. É nessa hora que é importante começar a falar sobre o assunto, mesmo que os pais achem que ainda não é o momento. A ideia é acompanhar o ritmo natural das mudanças que estão acontecendo com os filhos.

É na puberdade que começamos a prestar atenção no nosso corpo e ficamos cheios de perguntas sobre o que está acontecendo, o por quê está acontecendo e em como podemos lidar com tudo isso. Algumas crianças (sim, crianças, é esse a classificação que se dá para quem possui menos de catorze anos), possuem uma família informada, ajustada, que se comunica, a quem não têm medo de fazer perguntas, quaisquer perguntas. Mas isso, infelizmente, é a minoria. A maioria não tem chance de qualquer diálogo com os pais, ainda mais quando o assunto é sexo, orientação sexual, pedofilia, namoro, beijo, gravidez, nascimento, entre outras questões que, se não respondidas, transformam a vida do adolescente em um inferno, pela insegurança da não compreensão, de não saberem se o que sentem, o que pensam, está certo, se faz parte da vida, se é natural.

APARELHO SEXUAL E CIA é um livro ilustrado vindo da França que traz um dos personagens mais queridos do país. Ele não tem todas as respostas, mas aborda as questões mais importantes de forma clara e direta, usando uma linguagem que os jovens entendem e acham fácil de seguir. O livro pode ser lido pelas crianças sozinhas ou junto com os pais. Ler com os pais é ainda melhor porque ajuda a começar conversas sobre dúvidas que podem surgir e que não estão no livro, além de fortalecer os laços familiares. Para que isso funcione bem, é importante que em casa haja um ambiente sem preconceitos e tabus, onde todos se sintam livres para expressar suas opiniões e sentimentos.

O primeiro capítulo trata sobre estar apaixonado: o que isso significa, o que se passa na nossa cabeça, e o que acontece no nosso corpo, incluindo como a gente sente a dor de um amor. Ele fala sobre amor não correspondido, questiona se é possível deixar de amar alguém por vontade própria, e se alguém pode sofrer por amor para sempre. Além disso, aborda as relações amorosas entre primos, explicando as consequências biológicas que um relacionamento desse tipo pode ter.

O capítulo também esclarece o que significa namorar, indicando quando um namoro é considerado sério, por quanto tempo alguém pode namorar e como terminar um relacionamento de maneira respeitosa. Há ainda uma parte dedicada ao primeiro beijo, discutindo o medo de não saber beijar ou de fazer algo errado. O livro tranquiliza, dizendo que não existe uma forma errada de beijar, mas sugere algumas dicas para tornar essa experiência mais agradável.

O próximo capítulo, chamado “A Puberdade”, explica quando essa fase começa e os sinais que mostram que ela chegou. Ele descreve de forma simples e direta as mudanças que acontecem no nosso corpo durante esse período, como o aparecimento de espinhas e o aumento do suor. Também fala sobre o crescimento de pelos em várias partes do corpo, as mudanças na voz nos meninos, e o início da menstruação e o desenvolvimento dos seios nas meninas. Para os meninos, aborda o surgimento dos espermatozoides. Essas informações ajudam a entender melhor o que está acontecendo com o corpo nessa fase tão cheia de mudanças.

O capítulo também aborda outros temas importantes, como gravidez e o funcionamento do útero. Além disso, explica como usar um absorvente. Nessa parte, o livro introduz a questão da atração por pessoas do mesmo sexo, esclarecendo que é algo completamente natural. Explica de maneira simples que não há problema algum em um menino gostar de meninas, ou de meninos, e o mesmo vale para as meninas. O texto é apresentado de forma respeitosa, sem preconceitos, julgamentos ou acusações. Eu vou entrar em mais detalhes sobre isso no final da resenha.

O terceiro tema do livro trata sobre ter relações sexuais. Ele começa explicando como alguém pode saber se já está na idade certa para isso, destacando que não existe uma idade específica que sirva para todos. Depende muito de cada pessoa, dos seus sentimentos pela pessoa com quem está e se sente pronto ou pronta emocionalmente.

O livro também discute a pressão que muitos jovens sentem sobre ter sua primeira vez e questiona se existe uma obrigação de transar. Além disso, o texto explica o que é masturbação, oferecendo informações separadas para meninos e meninas.

Fala ainda sobre o orgasmo, explicando o que é e como pode ser experienciado por diferentes gêneros. O capítulo se aprofunda nos receios que as pessoas têm de falar sobre sexo e amor. Ensina como é possível compartilhar confidências e com quem, além de dar dicas de como abordar esses assuntos de maneira saudável e segura.

Depois, o livro aborda o tema de ter filhos. Explica em que idade é possível ter um filho, como um bebê é concebido e por que algumas pessoas enfrentam dificuldades para engravidar. Além disso, discute outras formas de ter filhos, como a adoção e métodos alternativos de concepção.

A seção continua com detalhes sobre o que acontece durante a gravidez, como o feto cresce e se desenvolve em um bebê, e como acontece o parto. Explica os diferentes tipos de parto e por que alguns nascimentos resultam em gêmeos.

Também fala sobre o que ocorre após o nascimento, incluindo as primeiras consultas médicas com o pediatra, e por que alguns bebês podem nascer com deficiências. Para dar uma perspectiva mais ampla, o livro até compara o nascimento humano com o de outros animais, mostrando como esse processo pode variar entre diferentes espécies.

No próximo capítulo, o livro foca em como se proteger. Ele explica o que é contracepção e descreve os diferentes métodos, como o funcionamento das pílulas anticoncepcionais e a importância e uso correto do preservativo (camisinha).

Além disso, enfatiza a necessidade de consultas médicas regulares para manter a saúde sexual. O livro também introduz o conceito de doenças sexualmente transmissíveis, explicando o que são e como podem ser prevenidas.

Há uma seção específica sobre a AIDS, detalhando como o vírus é transmitido e os cuidados necessários para evitar a contaminação. Por fim, o livro esclarece o papel dos médicos especializados nessa área, como o ginecologista, que cuida da saúde reprodutiva feminina, e o urologista, focado no sistema urinário e reprodutivo masculino.

O próximo capítulo aborda um tema delicado chamado “Fique Esperto”. Nesta parte, o livro trata de pedofilia, explicando o que é e como podemos diferenciar gestos normais de gestos com segundas intenções. É fundamental entender essas diferenças para proteger a si mesmo e aos outros.

O livro orienta sobre o que fazer se uma criança ficar em dúvida ou se sentir desconfortável com a situação. Ensina a quem ela pode recorrer para buscar ajuda, seja um adulto de confiança, um professor ou um familiar.

Além disso, há instruções claras sobre como pedir ajuda em situações de emergência, incluindo como usar o número 100, que é o disque-denúncia para direitos humanos, acessar a Ouvidoria online do Ministério dos Direitos Humanos, ou contatar o conselho tutelar. Esses recursos são essenciais para garantir a segurança das crianças e adolescentes.

O livro que mencionei é muito mais do que um simples manual; ele é um recurso vital e educativo para crianças que estão passando pela puberdade. Embora o conteúdo do livro seja extenso e cubra uma variedade de tópicos, ele tem sido alvo de críticas infundadas que alimentam preconceitos e homofobia. Por exemplo, a seção sobre homossexualidade ocupa apenas uma página, o que pessoalmente achei insuficiente.

Durante a adolescência, qualquer criança pode se sentir perdida e confusa com todas as mudanças que está experienciando. Imagine então uma criança que descobre que se sente atraída por alguém do mesmo sexo. O turbilhão de sentimentos e dúvidas, a incerteza sobre se isso é natural, o medo de rejeição por parte dos pais, de ser forçada a reprimir seus verdadeiros sentimentos, de enfrentar bullying ou até agressões na escola, são desafios enormes. Além disso, a criança pode temer ser considerada doente ou sofrer ameaças físicas por sua orientação sexual.

A falta de suporte e informações pode ser devastadora, levando a situações extremas de depressão ou até mesmo suicídio. Um livro como APARELHO SEXUAL E CIA não resolve todos os problemas, mas oferece um ponto de partida para entender que o que a criança está vivendo é natural. Ele mostra que é possível buscar ajuda e entender que não há nada de errado com ela. Na verdade, o problema está na sociedade que ainda carrega preconceitos.

Este livro pode ser uma referência importante, uma luz para jovens que precisam de apoio e compreensão para navegar pelos desafios da adolescência, ajudando-os a entender que não estão sozinhos e que têm o direito de buscar ajuda.

Sobre as informações equivocadas que circularam sobre o livro, é importante esclarecer que ele nunca fez parte de um suposto “kit gay”, até porque tal kit nunca existiu. Também não é possível ensinar alguém a gostar de pessoas do mesmo sexo. A orientação sexual de uma pessoa é algo com que ela já nasce, seja como heterossexual, homossexual ou outra identidade sexual.

Além disso, surgiram boatos de que o livro foi distribuído nas escolas, o que não é verdade. O Ministério da Educação já esclareceu mais de uma vez, desde o lançamento do livro, que isso não aconteceu. O livro é vendido em livrarias e está disponível em algumas bibliotecas, assim como qualquer outra obra.

Pessoalmente, eu acredito que o livro deveria ser distribuído nas escolas, pois pode ser uma ferramenta educativa valiosa. No entanto, para que isso aconteça, seria essencial superar a resistência de muitos pais, que ainda mantêm visões preconceituosas sobre esses temas.

Não tenha medo de conversar com uma criança sobre temas importantes. Mostre a ela como o corpo funciona, fale sobre as emoções que ela pode sentir durante a adolescência, explique como ela foi gerada e como nasceu. Ensine também sobre o respeito por pessoas de diferentes gêneros e orientações sexuais. Faça-se presente na vida dela, crie um ambiente onde ela sinta confiança para falar com você, para fazer perguntas e pedir ajuda quando precisar. Estar disponível e aberto para essas conversas mostra que você a ama e se importa. Assim, ela vai crescer se sentindo segura e respeitada, sabendo que pode contar com você em qualquer situação.

APARELHO SEXUAL E CIA é um livro simples, mas com uma mensagem muito importante. Ele ajuda os jovens a passarem pela adolescência de uma forma mais tranquila. O livro incentiva uma boa educação, ensina sobre amor e respeito pelo próximo. Esses são valores essenciais que, infelizmente, estão faltando em muitas pessoas hoje em dia. Este livro é um ótimo recurso para quem quer entender melhor essas questões e crescer de maneira saudável e respeitosa.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: ZEP nasceu na Suíça, em 1967, e se formou na Escola de Artes Aplicadas de Genève. Em 1992, ele criou a série de Titeuf por acaso, desenhando lembranças de infância num caderno de croquis. A primeira tira foi publicada em um fanzine, mas logo recebeu uma proposta para que fosse lançada pela editora francesa Glènat. Esse é o começo da história de sucesso de Titeuf, que se tornou um fenômeno mundial, com mais de 20 milhões de livros vendidos. Com Hèléne Bruller, além de Aparelho sexual e cia., Zep lançou Les minijusticiers.
TRADUÇÃO: Eduardo BRANDÃO
EDITORA: Seguinte
PUBLICAÇÃO: 2007
PÁGINAS: 96


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