Poucas pessoas nunca ouviram falar de ASTRO BOY, ainda mais depois do filme animado de 2009, que contou com as vozes de grandes astros americanos, como Nicolas Cage, Samuel L. Jackson, Charlize Theron e Donald Sutherland. O enredo girava em torno de um menino robô, que foi criado por um cientista como substituto pelo seu filho falecido em um acidente. Mas o cientista acaba por rejeitar sua criação, quando percebe que ele não seria capaz de preencher seu vazio, e o vende para um circo. Tempos mais tarde, ele é adotado por um professor, que descobre que Atom possuía poderes e habilidades incríveis, além de se comportar e se expressar como um garoto de verdade. Devido a vários incidentes, Atom começa a combater o crime e enfrentar todo o tipo de inimigos.

Mas o personagem vem muito antes dessa produção, e sua fama se deve ao seu formato de origem. ASTRO BOY foi um mangá produzido entre os anos de 1952 e 1968, compilado em 23 volumes, e sua importância é imensa. Ele não só ganhou diversas adaptações ao longo dos anos, como o filme americano do primeiro parágrafo, como foi o primeiro anime exibido no Japão, dando origem à produção desse tipo de animação. Seu criador, Osamu Tezuka, tornou-se um dos mangakás mais respeitados, admirados e influentes de todos os tempos.

Então, em 2003, Naoki Urasawa, outro mangaká, usou e adaptou um dos arcos das histórias de ASTRO BOY para criar PLUTO. Através desta nova interpretação, o personagem principal é um outro robô, o detetive Gesicht, que investiga as mortes em sequência de vários robôs e humanos, todos pelas mãos de alguém, ou algo, que se chama Pluto. Entre os robôs que estão ameaçados, está o próprio Atom.

PLUTO tem uma atmosfera de mistério e suspense crescente, que prende o leitor e causa uma ansiedade pela leitura do volume seguinte. É curiosa a nova interpretação dada por Urasawa ao mundo de ASTRO BOY, aproximando todos os personagens de uma realidade mais familiar à nossa própria. Ele consegue desenvolver no leitor um medo pelo que está por vir, quando primeiro apresenta um determinado robô e cria uma afeição do leitor com ele, para em seguida mostrar a vinda de Pluto e a ameaça de morte do robô a quem criamos afeição.

Em paralelo, acontece toda a investigação de Gesicht, que ganha uma urgência maior à medida que as mortes aumentam e o próprio detetive passa a ser um alvo, não só de Pluto, mas de uma organização que pretende rebaixar a importância dos robôs, ou até mesmo extingui-los.

Você deve ter reparado apenas pelo pouco que escrevi, que existe uma mensagem de tolerância de convivência entre raças diferentes, mesmo que uma das raças seja cibernética. Entre em discussão o que já foi discutido em BLADE RUNNER, por exemplo, que é a capacidade de uma máquina se desenvolver a um nível que passa a ter emoções, sentimentos, basicamente o mesmo que um ser humano. Nesse ponto, passamos para uma análise teológica sobre o que existe dentro de nós.

PLUTO não chega a evoluir nesse ponto, mas levanta questionamentos e faz perguntas sobre o que dá direito de algo viver e o que dá direito de alguém afirmar que esse algo não tem vida. A intolerância seria o medo de sermos excluídos por uma raça superior? Seria um sentimento de inveja de sermos mais imperfeitos, mais frágeis e menos duradouros? E para estar vivo, é necessário possuir uma alma?

São questionamentos que servem para nossa realidade, para refletirmos sobre nossos comportamentos perante a sociedade e sobre aqueles diferentes de nós. Será que são diferentes mesmo, ou nós, em nosso preconceito, consideramos diferentes apenas para nos sentirmos melhores?

PLUTO é uma mangá de extrema qualidade, com temas atuais, discussões importantes, muito suspense, muita ação e, mais importante, que exige uma reflexão do leitor sobre si mesmo e sobre os outros. Não há como pedir mais em uma leitura. Então, passe logo em uma banca e compre seu exemplar 😉


AVALIAÇÃO:


AUTOR: Naoki URASAWA é um mangaká japonês. Iniciou sua carreira em 1983 e continua em atividade. É autor de diversas séries, dentre as quais suas mais famosas são “20th Century Boys” e “Monster”.
TRADUÇÃO: Dirce MIYAMURA
EDITORA: Panini
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 200


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