A Dobra das Sombras, ou o Não Mar, é uma faixa gigantesca de terra envolta em escuridão e povoada por monstros, que divide o país chamado Ravka. Quem está a leste, precisa atravessar o Não Mar para conseguir chegar aos portos, de onde vem a maioria do comércio. Mas a travessia é perigosa e custa muitas vidas. Além disso, existem adversários que se aproveitam da situação para disseminar planos de controle e dominação.

Nesse mundo, algumas pessoas possuem poderes incríveis, como controlar o vento, a água, as sombras, a forma das coisas, até mesmo a aparência física, e recebem o nome de Grishas. O mais forte deles, que controla as sombras, é o Darkling, um homem de aparência jovem, mas muito mais velho que qualquer outro. Ele também é o braço direito do rei. Mas o poder mais raro e o mais valioso de todos, é controlar a luz. Porque só a luz é capaz de fazer frente à Dobra, afastar os monstros e abrir um caminho entre os dois lados do país. Mas ninguém detém o poder da luz. Ou assim todos achavam.

Alina e Maly são dois órfãos que cresceram juntos. Ambos foram testados e não apresentaram nenhum indício de possuírem qualquer poder, de serem Grishas. Alina se tornou uma cartógrafa e Maly um rastreador, ambos do exército de Ravka. Alina tem fortes sentimentos por Maly, mas não possui coragem de se declarar. Em uma incursão dentro de Dobra, eles são atacados pelos monstros, mas quando estão prestes a serem mortos, Alina desbloqueia um poder que não conhecia, e onde antes só havia escuridão, aparece a luz, uma luz tão forte quanto o sol, e essa luz vem de Alina.

Ela é levada pelos soldados à presença do Darkling, que vê em Alina a chance de finalmente conseguir destruir a dobra e tornar Ravka livre dessa divisão e dos monstros. Ela é separada de Maly e levada para a capital do país, passa a viver sob escolta, por causa do perigo de ser morta pelos reinos inimigos, e começa um treinamento para se tornar a arma que é necessária. Mas nessa jornada, vários planos e segredos são revelados, e a vida de Alina, como também a de Maly, passam a correr risco. Para se salvarem, Alina e Maly terão que enfrentar todo o exército de Ravka, os monstros da Dobra e todos os que os perseguem.

SOMBRA E OSSOS divide opiniões. Muitas pessoas amam a série, enquanto muitas outras a acham fraca e até mesmo ruim. A trilogia, composta por mais os livros SOL E TORMENTA e RUÍNA E ASCENSÃO, foi publicada a partir de 2014 pela editora Gutenberg, selo do grupo Autêntica. Mas parece que a editora perdeu os direitos, uma vez que a versão que li, foi publicada este ano pela editora Planeta, que muito sabiamente, aproveita a brecha feita pela Netflix, que produziu uma série baseada na trilogia e que tem estreia para o fim do mês de abril. A série também pega parte de uma trilogia passada no mesmo universo, SIX OF CROWS e CROOKED KINGDOM, misturando os eventos de ambas.

Após a leitura de SOMBRA E OSSOS, posso dizer que faço parte da turma que está no meio, que gostou de algumas coisas, e não gostou de outras. O resultado é positivo, é uma história de fantasia, de pessoas com poderes mágicos, batalhas, traições e de um quase triângulo amoroso, que felizmente não se concretiza e fica apenas numa breve insinuação. Alina é a personagem principal e ela é consideravelmente bem construída. Ela segue aquele clichê de garota que começa se achando feia, desajeitada, sem qualquer atributo positivo, mas que chama a atenção de todos por onde passa e detém o maior poder, que ela se recusa a acreditar ou aceitar. É a personagem feita para causar empatia na maioria das leitoras, mas que já cansa de tão usada e sem um real propósito. De qualquer forma, aos poucos, a autora consegue encontrar um caminho para Alina e ela se torna como deveria, alguém com personalidade, com camadas críveis, forte nas decisões e nas ações, mesmo sem abandonar sua fragilidade. Essa evolução é muito bem-vinda.

Maly é o personagem masculino padrão, bonzinho, amigo, que está ao lado de Alina em todas as situações. Ele não chega a ser desenvolvido, aparece apenas no início da história e na conclusão. Não sei como será nos livros seguintes, mas espero que ele ganhe mais camadas, que se torne um personagem que tenha objetivos, além de ficar ao lado de Alina. Ele tem um passado nebuloso e que merece ser desvendado.

O vilão da história, Darkling, mantém o mesmo clichê. É o típico bad boy, lindo, por quem todas as personagens femininas sentem desejo e medo. Não há surpresa alguma com relação às suas motivações e nem às suas ações. Não consegui perceber nada no personagem que o colocasse em alguma zona cinza. Ele é mau por ser mau e não foi dada nenhuma pista de qualquer motivação que justificasse as barbaridades que perpetua. Inclusive seu plano de conquista é o mesmo de quase todos os vilões exagerados, dominação global. A história, pela qualidade, merecia um vilão bem construído.

Enfim, SOMBRA E OSSOS é um livro pequeno, de rápida leitura, divertido, com uma personagem que começa desapontando, mas que conquista o leitor com o virar das páginas. O universo dos Grishas é suficientemente interessante para justificar a leitura e convencer a fazer o mesmo com o segundo livro. Eu já li SIX OF CROWS, história que acontece anos depois do fim da trilogia inicial, com outros personagens, e me agradou mais. Acho que a autora ganhou maturidade com o tempo e melhorou bastante sua escrita e suas personagens. Pretendo ler o restante dos livros e fechar a trilogia. Recomendo que faça o mesmo. Vale a pena.


AUTORA: Leigh BARDUGO
TRADUÇÃO: Eric NOVELLO
EDITORA: Planeta
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 288


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