
Uma professora universitária mostra à turma um desenho que parece ter sido feito por uma criança comum. Ao esmiuçar os traços, vai aos poucos revelando aspectos da artista e de sua personalidade: a criança em questão, na verdade, matou a própria mãe.
É com essa abertura singular que o autor começa a compor um quebra-cabeças de mistérios a partir de ilustrações que, à primeira vista, são inocentes e não têm relação entre si: um homem e uma criança caminhando de mãos dadas, uma mulher com cabelos ao vento e um edifício que parece estar em chamas são algumas das imagens que, juntas, vão criando uma atmosfera inescapável em que a única possibilidade que resta ao leitor é juntar as peças e tentar desvendar o mistério que as conecta.
Longe da posição de espectador passivo, o leitor assume o papel de investigador e, encorajado a suspeitar de tudo e não perde nenhum detalhe, mergulha em uma trama engenhosa e inovadora na qual se verá profundamente envolvido mesmo depois de terminada a leitura.
Uketsu é um criador mascarado que ficou conhecido no YouTube por vídeos surreais. Ele usa um macacão preto, máscara branca e distorce a voz. Poucas pessoas sabem quem ele é de verdade. Em 2024, três de seus livros ficaram, ao mesmo tempo, entre os dez mais vendidos no Japão.
“Imagens Estranhas” convida o leitor a descobrir sozinho as mensagens escondidas em cada ilustração e a ligação entre quem as fez. Cada capítulo funciona como um conto, uma história isolada. Conforme a leitura avança, percebemos que essas histórias se unem, se completam e os personagens aparecem em várias tramas.
Depois dos dois primeiros capítulos — que são longos e lembram contos — entendemos como tudo se encaixa. A narrativa, que parece separada, é uma única história que acontece em momentos diferentes: ora no passado, ora no presente. Alguns personagens voltam com nomes diferentes, não para enganar o leitor, mas porque, em fases da vida, podemos usar nomes distintos. Contar mais do que isso seria estragar a surpresa.
Gosto desse tipo de livro, mas não para ler sempre. Normalmente, o autor se dedica mais aos mistérios e deixa de lado a construção dos personagens. Isso acontece em “Imagens Estranhas” e, por causa disso, achei difícil me envolver com as pessoas da história. Meu interesse ficou na solução dos enigmas; os personagens viraram pistas que iam perdendo importância a cada resposta encontrada.
Mesmo assim, isso não tirou o prazer da leitura, nem quer dizer que “Imagens Estranhas” seja um livro ruim. A proposta dele é diferente, e, entendendo isso, ele cumpre bem o que promete, mesmo que eu prefira histórias focadas nos personagens. Seria possível unir as duas abordagens em um só livro? Acho que sim, mas essa é a minha expectativa, não a ideia apresentada aqui, então aceito como é.
Se você gosta de mistério com elementos visuais — algo entre um quebra-cabeça lógico e terror psicológico —, “Imagens Estranhas” oferece uma experiência especial. O texto é curto, mas cada desenho faz o leitor “investigar” detalhes antes de seguir adiante. Quem curte jogos de escape room, mangás de horror ou thrillers japoneses pode achar a leitura bem envolvente.
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Uketsu TRADUÇÃO: Maria Luísa Vanik EDITORA: Suma PUBLICAÇÃO: 2025 PÁGINAS: 184 COMPRE: Amazon |