David Ullman é um renomado professor da Universidade de Columbia, especializado na figura literária do Diabo – principalmente na obra-prima de John Milton, Paraíso Perdido. Para David, o Anjo Caído é apenas um ser mitológico. Ao aceitar um convite para testemunhar um suposto fenômeno sobrenatural em Veneza, David começa a ter motivos pessoais para mudar de opinião. O que seria apenas um boa desculpa para tirar férias na Itália com sua filha de 12 anos se transforma em uma jornada assustadora aos recantos mais sombrios da alma. Enquanto corre contra o tempo, David precisa decifrar pistas escondidas no clássico Paraíso Perdido, e usar tudo o que aprendeu para enfrentar O Inominável e salvar sua filha do Inferno.
Para um livro de terror funcionar, ele precisa incutir medo no leitor, sem que ele precise se esforçar muito para imaginar as cenas do que lê. Precisa ser algo familiar, mas, ao mesmo tempo, inesperado. O principal elemento dos filmes de terror, a música e o som em tom alto nos momentos de susto, não existem nos livros. Ou seja, tudo reside no uso das palavras certas e na imaginação. A história é importante, mas não é essencial, porque, mesmo que ela seja boa, complexa, sem o medo, o objetivo fracassa.
Bem, nesse ponto, O DEMONOLOGISTA passa com louvor. Os trechos onde o Inominável – assim chamado, porque, em grande parte do livro, David Ullman, o narrador e personagem principal, não sabe o nome de com qual demônio está lidando –, aparece e exerce sua influência nas pessoas mortas, é assustador. Ou mesmo nos pesadelos de David, quando alguns segredos vão sendo revelados sobre o motivo dele ter sido o escolhido. Mas o mais assustador, na verdade, são as leituras do diário de Tess, a filha desaparecida de David, onde tudo o que está acontecendo com ele, foi revelado ou indicado pela filha muito antes, como se ela já soubesse o que iria acontecer.
As descrições do autor nos momentos de terror são precisas, claras, e surpreendem. Não tanto pelos detalhes, mas pela indução deles. Como exemplo, tem a passagem em que David está conversando com o Inominável em um parque deserto, e o demônio tem a forma de um menino que já morreu. Durante a conversa, ele sente a presença de algo ainda pior no meio das árvores da floresta em frente, mas não consegue olhar de tanto pavor, apenas ouve a respiração pesada e o peso dos passos do que está no meio das árvores. Essa parte é assustadora, e você se surpreende olhando para os lados durante a leitura, confirmando se está realmente sozinho com seu livro.
No início da leitura, fiquei decepcionado por o autor usar a passagem bíblica mais famosa sobre demônios, que é quando Jesus pergunta para um possuído o nome de quem está no comando, e ouve de resposta que é Legião, porque são muitos. Ela é usada à exaustão na maioria dos filmes de mesmo tema, mas, aos poucos, entendi que foi uma escolha acertada. Isso, porque ele mescla toda a história com Paraíso Perdido, a obra mais famosa do escritor inglês, John Milton. A história, dividia em dois arcos narrativos, sendo um de Lúcifer e o outro de Adão e Eva, é contada em versos métricos sem rima, reunidos em 12 livros a partir de 1674. Nela, existem diversos seguidores de Lúcifer, que o auxiliam na revolta contra Deus. David sabe que o Inominável é um desses seguidores, mas não sabe qual. E o demônio quer que David descubra o seu nome, porque se ele o pronunciar, terá poder sobre David. Então realmente existe uma coerência lógica e certa sobre a escolha.
Para resgatar Tess, sua filha, David precisa seguir as pistas deixadas pelo Inominável por meio país. A viagem não tem o objetivo da descoberta, mas da peregrinação, que causa um enorme desgaste físico e mental, deixando David cada vez mais suscetível à influência do demônio. Entretanto, o amor pela filha exerce uma força contrária, que o liberta nos momentos de maior desespero e o revigora para conseguir chegar ao final de sua flagelação.
Junto a David, temos dois personagens secundários de grande importância: Elaine O’Brian, a colega de trabalho por quem é apaixonado, mas com quem não pôde assumir o sentimento, por ser casado. E o Perseguidor, um assassino contratado para impedir David de tornar público a prova de que o demônio realmente existe e que ele quer se revelar ao mundo.
O’Brian está com câncer e acompanha David na busca por Tess, porque não tem nada a perder. Ela é a voz da razão, da lucidez, que o impele a descobrir os motivos e o nome do Inominável. Ela, de certa forma, é o próprio leitor, que faz as perguntas certas para o entendimento do que está acontecendo. O relacionamento entre os dois é cheio de nuances sobre o que podem ou não fazer, sobre o que podem ou não sentir.
O Perseguidor, embora apareça bem menos do que O’Brian, causa sempre uma tensão enorme, porque ele nunca se esconde, ele sempre revela sua presença e dá todas as chances que lhe são permitidas para que David entregue o documento visual da existência do demônio. As frases que ele solta tem sempre duplo sentido, sempre carregam uma mensagem ameaçadora e uma intimidação. E quando ele ataca, ele o faz sem misericórdia, sem chance de indulgência.
Entretanto, nem tudo é perfeito. Uma coisa me incomodou um pouco. Os diálogos, embora muito bem elaborados, parecem ser pronunciados sempre pelo mesmo personagem. Eles parecem refletir sempre a mesma acidez. As respostas de todos são sempre atrevidas, desprovidas da personalidade que identifica quem a pronuncia. Não existe uma diferença entre a qualidade das palavras, como se todos os personagens fossem o mesmo, e o que dizem só muda de acordo com a situação. Isso, por um lado, torna as conversas inteligentes, mas ignora que cada um tem uma altura diferente de conhecimento e de capacidade de resposta.
E, ao contrário da maioria dos filmes de terror, onde o final sempre peca pela cena a mais, ou pela falta dessa cena, o fim de O DEMONOLOGISTA deixará você soltar um suspiro de tranquilidade, apesar de todo o horror que testemunhou.
AUTOR: Andrew PYPER
TRADUÇÃO: Cláudia GUIMARÃES
EDITORA: DarkSide
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 320
COMPRAR: Amazon
É impossível chegar numa resenha de um dos livros desse seguimento da DarkSdide e sair da mesma forma que chegou. Impossível!!!
Sou apaixonada pelo trabalho da Editora(eu e todo mundo),mas também sou fã demais do gênero escrito. E sim, adorei você citar que em filmes, o cenário, a música, precisam estar presentes, pra gente dar uns pulos na poltrona.
Já nos livros, a escrita precisa exercer esse papel e o autor conseguiu isso com maestria.
Claro que o livro já está na lista de desejados e espero ter e ler a obra o quanto antes!
Beijo
Poucos autores conseguem escrever Terror com T maiúsculo. É um gênero difícil tanto na literatura quanto no cinema.
Precisa ter os elementos certos na dose certa.
Andrew conseguiu esse feito
Carl!
Confesso que achei que o lvro seria uma narrativa de fato realmente acontecido e não uma ficção, o que não tira o mérito do autor e do livro, foi apenas uma impressão que tinha.
Achei impactante todo enredo, as personagens e até as observações que fez, porque ainda quero poder fazer essa leitura, é algo que gosto de apreciar, o tema.
cheirinhos
Rudy
Li opiniões muito positivas sobre esse livro,mas você arrebatou minha curiosidade com essa resenha.
Eu não costumo ler histórias de terror, acho que nunca li. Mas gostei tanto da sinopse e do assunto que vou encarar esse livro, muito lindo por sinal, mais uma edição caprichosa da Darkside.
Essa parte que você citou em que o personagem sente a presença do mal, nossa é de arrepiar,muito assustador.
Valeu saber mais do livro, logo vou conhecer esse Demonologista.
Carl,
Concordo com você em quase todos os pontos, e olha que não leio terror, mas a Dark Side arrasa com essas edições divas, então quando ganhei esse livro claro que li né?! kkkkk. Mesmo morrendo de medo não conseguia largar, o autor mantém a narrativa atrativa. Diferentemente de você, amei a acidez dos diálogos hahaha.
Beijos.
Olá! Não querendo ser repetitiva, mas já sendo, o gênero não faz o meu estilo de leitura e não me sinto nada confortável encarado uma história assim, mesmo sabendo que esse é justamente o objetivo do autor!
Olá!
Não conhecia o livro e meio que fiquei um tanto receosa pela trama. Parece ser bem interessante e acho que seria mais o menos o estilo de Dan Brown, se não me equivoco.
Meu blog:
Tempos Literários
Oi, Carl
Não é o tipo de livro que costumo ler, confesso que preciso sair um pouco da zona de conforto e ler livros de terror.
O enredo envolve o leitor com um mistério intrigante que o personagem faz de tudo para salvar a filha.
Mesmo com medo se tiver chance lerei, beijos.