Em diversos momentos, a forma como a história de NO CENTRO DA TERCEIRA FILEIRA é conduzida, lembra bastante um outro livro: AFTER (resenha do filme aqui e do livro aqui). Quando falo que os dois livros são parecidos, não me refiro ao que acontece, ou aos personagens, mas especificamente à repetição exaustiva de uma mesma ação, à falta de amor próprio dos personagens e à falta de uma história em si.

Rob é um garoto que se fechou em um mundo onde enxerga apenas os estudos, mesmo ele tendo um porte atlético, andar de bike, se bronzear e ser bonito. Isso até Bel, uma colega da sala, entrar em sua zona de conforto, tentando pegar a cadeira do centro onde se senta desde o início do ano. Isso faz com que Rob preste atenção nela, e nas três amigas: Gisa, Rê e Val. Ao mesmo tempo, Rob cria uma amizade com Zero Um, um outro colega da sala. A partir daí, acompanhamos as paqueras que ocorrem entre esses personagens, capítulo atrás de capítulo, tudo dentro da sala, com repetição de situações, conversas, pensamentos, etc.

No início, eu pensei que Rob se tornaria uma pessoa mais interessante, sairia de seu pequeno mundo egocêntrico, mas o que aconteceu, foi ele se tornar totalmente dependente de Gisa, uma espécie de garota manipuladora, que adora humilhar e brincar com os sentimentos dos homens. Não que os homens deste livro não mereçam. Rob e Zero Um são homofóbicos, racistas, machistas e egoístas. As conversas entre os dois são carregadas de desprezo pelo sexo oposto, a não ser quando elogiam a bunda ou os seios de alguma garota.

Rob é totalmente volúvel, o retrato da maioria dos homens. Ao mesmo tempo que ele jura amores por Gisa, ele analisa a bunda da Bel, sonha em transar com Rê e volta para Gisa. Mas as garotas tem um comportamento igual. Dependendo da página do livro, Gisa e Bel dão indícios de gostarem de Rob, para na página seguinte, dizerem o contrário. Isso até começar o capítulo seguinte, onde tudo se repete.

Rob é tão sem amor próprio, que mesmo quando ele tem provas concretas de qual é a verdadeira índole da garota que ele diz amar, ele joga tudo para cima e continua atrás dela. Já Bel faz o mesmo. Sabendo que o namorado a trai constantemente, ela permanece com ele, chorando suas mágoas, mas não toma nenhuma atitude para mudar isso.

A falta de caráter dos personagens vai mais além. Bel sabe a história de Gisa. E mesmo quando diz ser amiga de Rob, e não concordando com as atitudes de Gisa, ela mantém o segredo, e esconde de Rob, por todo o livro, o comportamento da outra.

NO CENTRO DA TERCEIRA FILEIRA não é apenas uma obra bastante rasa, mas, também, permeada de conversas racistas, homofóbicas, machistas, conforme citei acima, e que, infelizmente, condizem fielmente com nossa realidade. Na idade dos personagens, tudo isso é rotineiro em qualquer colégio e pré-vestibular. Entretanto, o que torna a obra pouco atrativa, é o fato de não existir uma moral, um direcionamento para o que é certo e o que é errado. A forma como a narrativa é conduzida, passa a mensagem de que tudo o que existe de condenável nos personagens, em termos de comportamento e caráter, não é errado, é assim mesmo, é aceitável. Mas é exatamente o contrário. Não é aceitável.

NO CENTRO DA TERCEIRA FILEIRA sofre do mesmo mal de AFTER: uma história recheada de futilidades, realçada pelas repetições de uma mesma situação, apenas para criar interesse em um leitor ávido por sentimentos depreciativos.


AVALIAÇÃO:


AUTOR: G. C. Neves
EDITORA: Chiado
PUBLICAÇÃO: 2015
PÁGINAS: 278