Órfão desde bebê, Tom Sawyer vive com sua tia Polly, seu irmão, Sid, e sua prima, Mary, num vilarejo às margens do rio Mississipi, nos Estados Unidos. Menino de bom coração, de bom caráter, Tom é também muito levado e esperto, e vive aprontando, sozinho ou com seu melhor amigo Huckleberry Finn, um garoto que mora nas ruas, dorme em barris vazios e come o que lhe dão. O tempo todo, os dois vivem aventuras emocionantes, na maioria das vezes, imaginárias. Frequentam cavernas, cemitérios, casas mal-assombradas e ilhas desertas. Brincam de pirata, de pele-vermelha, de Robin Hood, caçam tesouros, planejam formar uma gangue de ladrões e ficar ricos. E é numa dessas brincadeiras que suas aventuras se tornam bem reais e assustadoras…
AS AVENTURAS DE TOM SAWYER foi um dos primeiros livros que li na vida. Lia apenas gibis da Marvel, Disney, Asterix e achava livros sem graça, chatos, longos demais, principalmente por não terem figuras. Então, eu fiquei de recuperação em Português e precisei de uma professora de reforço. Ela, logo na primeira aula, me passou a obra de Mark Twain. Eu fiz cara feia, mas ela prometeu que eu iria gostar daquele livro, que ele mudaria minha vida. E ela acertou.
Mark Twain escreveu AS AVENTURAS DE TOM SAWYER em 1876, na Flórida, em uma cidade às margens do rio Mississipi, sul dos Estados Unidos, onde ainda predominava o sistema de escravidão. Ou seja, é uma leitura que precisa ser contextualizada, deve levar em consideração quando o livro foi escrito, uma vez que o texto possui referências racistas, preconceituosas e machistas, mas que são um reflexo da época. Mas isso acaba por ser uma das inúmeras qualidades da obra, uma vez que os relatos são baseados em fatos reais da infância do autor e seus amigos, permitindo um estudo profundo sobre o comportamento da sociedade americana de dois séculos atrás. Enquanto Tom Sawyer é a junção de duas crianças que conviviam com o autor, Huckleberry Finn, o inseparável amigo de Tom, realmente existiu, mas com outro nome.
O que conquista na obra de Twain, são o humor suave, bem colocado, com uma sátira tão delicada, que o leitor se surpreende; situações totalmente abstraídas de qualquer maldade adulta; uma clara conduta de boa moral, independentemente das estripulias cometidas por Tom; uma separação forte entre o mundo infantil e o mundo adulto, muito semelhante ao que foi feito décadas mais tarde no desenho do Snoopy, quando os adultos apareciam apenas da cintura para baixo e suas falas eram incompreensíveis. O que os adultos falam e como se comportam no livro é refletido pelos olhos de uma criança, e é com essa narrativa que Twain conquista o jovem, porque ele se vê refletido na forma como a história é contada, como se fosse um amigo ou colega.
A inocência presente em AS AVENTURAS DE TOM SAWYER é de uma construção que não se encontra mais em qualquer obra adolescente de hoje em dia. As brincadeiras de Tom e seus amigos se resumia a uma realidade pobre, onde não existiam brinquedos, além daqueles que a natureza fornecia, ou que eram encontrados no lixo ou abandonados. Então, para quem nunca brincou nas ruas de um bairro, ou em terrenos abandonados, jogando bola, ou pulando o quintal para roubar frutas, ou mesmo nadou em um rio perto da cidade, vai se espantar em como é necessário muita criatividade e inocência para transformar objetos, acontecimentos, animais e insetos em algo que ocupa a maior parte do dia.
Os brinquedos de Tom, e das outras crianças, eram besouros, bolinhas de gude, cordas, carreteis de linha, carrapatos, frutas, visitas furtivas a lugares proibidos, como cemitérios, ou promessas de amizade. Você se pergunta: como brincar com besouros e carrapatos? Bem, com os carrapatos, eles faziam corridas, para ver para onde eles seguiam; enquanto os besouros, podiam ficar presos em animais, obrigando-os a correrem, o que originou um dos trechos mais engraçados da obra.
Mas o que acontece nos capítulos do livro vai além das brincadeiras. O leitor acompanha como eram as aulas em um colégio religioso da época, onde os castigos de maus comportamentos e notas baixas eram aplicados com palmatórias; onde existiam apresentações de trabalhos, não para os professores, mas para educadores e diretores importantes de toda a região; onde crimes eram resolvidos apenas com testemunhas ou sob a presença de uma arma que apontasse diretamente para quem a usou.
Sim, crimes. AS AVENTURAS DE TOM SAWYER tem sua dose de perigo e mistério, quando Tom e Huck, por acidente, acabam presenciando um homicídio. Ao mesmo tempo em que o leitor fica apreensivo por tentar descobrir a forma como eles podem escapar de serem mortos por homens sem qualquer temor pela lei, quase inexistente naquela época, sentimos vontade de rir pela forma como as duas crianças vão resolvendo as coisas e preparando armadilhas que ajudem as autoridades a capturarem os culpados, sem que possam se envolver diretamente. As conversas deles, regadas por medo infantil e ideias totalmente desprovidas de conhecimento do perigo, são hilárias.
Bem como também são hilárias as peças que Tom prega na tia, como quando Huck e ele fogem, todos pensam que eles morreram, e eles resolvem voltar no dia do enterro deles, com uma entrada triunfal na igreja, que é seguida por choros, abraços e, depois, um bem merecido castigo. Ou as tentativas de Tom em conquistar a menina por quem é apaixonado, as juras de amor e fidelidade para um sempre que eles não conhecem, as brigas originadas por desencontros, as fugas para encontros proibidos, entre outras situações tão singelas, que é impossível não se derreter e amar os personagens.
Por todas essas coisas, e muitas outras que você só poderá descobrir lendo a obra, que eu fui conquistado pela leitura. Tom Sawyer foi o primeiro personagem que conversou comigo de igual para igual, mostrando sentimentos, ações e uma realidade que eu conseguia aceitar e desejar. Ele abriu as portas para um mundo de palavras que permite uma pessoa viajar para qualquer lugar pelo tempo que a leitura durar. Tom foi tão real para mim, que ele parece um amigo que tive na minha época de infância, que me ensinou a brincar com aquilo que eu dispunha, a procurar amigos que são dignos de confiança e a lutar por um futuro que torne realidade aquilo que eu sonho.
Mark Twain, logo após AS AVENTURAS DE TOM SAWYER, escreveu AS AVENTURAS DE HUCKLEBERRY FINN, considerada a maior obra juvenil americana, que faz parte do currículo escolar e é obrigatória em todas as escolas, onde o leitor acompanha a viagem de Huck, e de um negro escravo fugitivo pelo rio Mississipi, quando eles vivem diversas situações, algumas engraçadas, outras dramáticas e perigosas. Nessa viagem, Twain faz uma análise de toda a sociedade da época, abrangendo a escravidão, o preconceito e as relações entre as pessoas. É uma leitura intensa, mais adulta do que a de Tom Sawyer.
Esta edição da Zahar é de luxo, capa dura, com vários extras, ilustrações, uma introdução extensa com a contextualização da história, época, apresentação dos principais personagens, história cronológica do autor, ou seja, imperdível!
AVALIAÇÃO:
AUTOR: Mark Twain TRADUÇÃO: José Roberto O’Shea EDITORA: Zahar PUBLICAÇÃO: 2023 PÁGINAS: 280 |
Agora quero MUITO ler esse livro!!!
A capa é muito bonita e eu gostei muito da resenha. Fiquei muito curiosa para ler esse livro!
Já li “As Aventuras de Huckleberry Finn”. Quero dar continuidade, conhecendo seu mentor.
Achei um máximo essa capa, a resenha e sobre ser conquistado pela a obra e por ter sentindo os personagens.
Essa resenha ficou incrívelmente informativa, e agora estou com vontade incontrolável de lê esse precioso livro
é lindo e parece mágico
parece que a história prende o leitor, to com vontade de ler agora
Resenha muito bem escrita!
Nunca li algo dessa magnitude, fiquei bem interessada na história do Tom e o que se passa com as pessoas em sua volta! Só de ler a resenha fiquei imaginando o cenário. Parece um livro que não vou querer largar enquanto não terminar ele!
Sempre quis ler mas sempre acabo deixando pra depois, sua resenha me animou! Parece muito mágico!
Sempre quis ler esse livro. E agora mais ainda!
Confesso que há um tempo não leio livros tão antigos, mas sua resenha e a história em si me deixaram bastante envolvida e com a sensação de que é uma leitura prazerosa.
Eu me lembro de Tom! Na versão antiga, mas com as mesmas conversas e esse jeito único de induzir a gente na época, a desejar aventuras assim!
Aliás, a magia é essa: aventuras vividas na imaginação!
Deu vontade reler e essa edição da Zahar deve ser maravilhosa!
Abs
amei a resenha! parece ser muito interessante