Um ano depois de Lydia, uma de suas filhas gêmeas idênticas, morrer em um acidente, Angus e Sarah Moorcroft se mudam para a pequena ilha escocesa que Angus herdou da avó, na esperança de conseguirem juntar os pedaços de suas vidas destroçadas. Mas quando sua filha sobrevivente, Kirstie, afirma que eles estão confundindo a sua identidade — que ela é, na verdade, Lydia — o mundo deles desaba mais uma vez. Quando uma violenta tempestade deixa Sarah e Kirstie (ou será Lydia?) confinadas naquela ilha, a mãe é torturada pelo passado — o que realmente aconteceu naquele dia fatídico, em que uma de suas filhas morreu?’

Eu não estava preparado para o que iria acompanhar nas 365 páginas desse livro. A história não trata apenas de uma possível troca. Lydia é a gêmea que todos acham que morreu, uma vez que a irmã, Kirstie, estava gritando seu nome quando encontram as duas. Mas Kirstie se comporta como Lydia. O cachorro da família age com ela da mesma forma que agia com Lydia. A própria Kirstie, depois de um tempo, afirma que é Lydia. E que, de vez em quando, Kirstie a visita para brincarem. A menina estaria tendo um surto psicológico devido à falta da irmã?

Essa não é a única questão. Por que Angus, o pai, age de uma maneira na frente de Sarah, a mãe, e de outra maneira quando está longe dela? Por que Sarah não se lembra de todos os detalhes do dia do acidente? Por que Angus gostava mais de Kirstie do que de Lydia? O que ele esconde em uma das gavetas de seu escritório? Por que a amiga mais próxima de Lydia é tão íntima de Angus? Por que dizem que Sarah precisava de remédios devido a algo que ela fez antes do acidente? Por que Sarah estava sozinha com as duas meninas no dia do acidente? Por que as meninas estavam brincando em um lugar que elas sabiam que não podiam brincar? Por que todas as crianças têm medo de brincar com Kirstie? Ou seria Lydia?

Por que o reflexo de Kirstie no espelho é diferente de quando se olha para ela?

Por que quando Kirstie se deita na cama de Sarah ela parece tão fria?

Como Kirstie parece estar em vários lugares ao mesmo tempo?

Sarah e Angus estão sozinhos com Kirstie naquela ilha? Ou há mais alguém com eles? Lydia?

Sim, são questões demais que prendem a leitura de AS GÊMEAS DO GELO até o seu desfecho. Eu não consegui parar antes de virar a última página. Li o livro em um dia. A escrita do autor é instigante, cheia de reviravoltas, descritiva o suficiente para deixar você arrepiado. O leitor não tem certeza se está lendo um suspense, um policial, um mistério ou um livro de terror. Na verdade, depois que terminei, descobri que estava lendo todos esses gêneros misturados de uma forma muito bem feita, muito bem distribuída.

Mas não são só os acontecimentos que estão muito bem escritos. Os personagens seguem o mesmo cuidado. Angus deixa você o tempo todo sem saber o que pensar dele. Em momentos você sente pena. Em outros, raiva. E em outros, você quer ele morto. Até que descobre que ele na verdade…

Já de Sarah, você sente compaixão o tempo todo. É notável o quanto ela sofre pela perda de Lydia e do desespero ao descobrir que pode ter se enganado sobre quem sobreviveu. E quando ela suspeita que a filha morta pode ser um fantasma, você compartilha seu medo, mas também de sua esperança de poder abraçá-la novamente.

Além de tudo isso, existem mais três pontos de destaque na obra de Tremayne: o primeiro, é que o próprio leitor nunca tem certeza se está acompanhando Kirstie ou Lydia; o segundo, é que o autor não deixa a certeza se existe um fantasma ou se é paranoia de Sarah, até o desfecho; e o terceiro, é que a narrativa é feita em primeira pessoa por Sarah, menos nos capítulos onde Angus é o foco principal, passando para terceira pessoa, deixando o leitor na dúvida se o que Sarah descreve é realmente o que acontece, ou se é Angus quem se comporta de forma diferente.

E o final? Só posso dizer que é lógico, justo, triste, assustador. É um final obrigatório, que deixa a sensação de que você acabou de ler um bom, muito bom, livro.

O único ponto negativo da edição, para mim, são as fotos que ilustram algumas páginas do livro. Elas tentam dar algum acréscimo ao ambiente, mas não conseguem, uma vez que a maioria não reflete exatamente o que acontece naquele momento. Nem sequer as que mostram a ilha e o farol tem o efeito desejado, uma vez que parecem de lugares diferentes. Para piorar, a qualidade delas é sofrível. Acredito que teria sido mais benéfico, em termos de qualidade, se não tivessem sido inseridas na obra.

Quanto à história? Recomendo demais! Compre agora! Leia!


AVALIAÇÃO:


AUTOR: S. K. Tremayne
TRADUÇÃO: Verônica Radulescu
EDITORA: Bertrand
PUBLICAÇÃO: 2016
PÁGINAS: 365