Se há alguma certeza na vida de Rose Napolitano, é a de que ela não deseja ser mãe. E essa certeza não é resultado de algum trauma na infância ou mesmo do relacionamento com a mãe. Pelo contrário, ela ama a mãe e reconhece toda a dedicação e carinho que recebeu. A certeza vem do seu desejo de ser livre da responsabilidade de criar uma nova vida e de todas as consequências provenientes.
Rose é casada com Luke, um fotógrafo que conheceu na juventude. Desde o início do relacionamento, ele ficou ciente da negação de Rose em ter um filho. E concordou com essa decisão. Mas agora, anos após o casamento, e pressionado por seus pais, Luke mudou de ideia e insiste para que Rose seja mãe. Ela se mantém firme na sua decisão, só que esse posicionamento, aos poucos, vai deteriorando a relação, até que chegam a um impasse que pode terminar com o casamento.
Mas e se Rose mudasse de ideia e resolvesse dar uma chance à maternidade? E se Rose virasse mãe, como seria sua cria? E se algo acontecesse durante a gravidez? E se ela abandonasse Luke e procurasse outro amor? E se Luke se mostrasse alguém que não merece essa preocupação dela com o que ele sente? E se…?
AS NOVE VIDAS DE ROSE NAPOLITANO tenta responder essas questões. Através de nove possíveis vidas, acompanhamos as diferentes decisões de Rose em cada uma delas e suas consequências. Em uma, lemos sobre o término do casamento e como as vidas de Rose e Luke prosseguiram separadamente. Em outra, Rose virou mãe. Ainda em outra, problemas durante a gravidez colocaram em risco o feto. E assim por diante, em cada uma das vidas, acompanhamos as alegrias e tristezas de diferentes decisões.
As vidas são numeradas de 1 a 9 em cada capítulo, mas elas não são narradas de forma sequencial. Em um capítulo acompanhamos a vida 2, em outro as vidas 3 e 6, em outro as vidas 7,8 e 9, e assim por diante. Acontecimentos de vidas diferentes reunidos por semelhanças, mas todas com finais diferentes. Além da constância dos personagens e seus posicionamentos, porque eles são as mesmas pessoas em todas as vidas, apenas com rumos diferentes, temos a maternidade e a falta da liberdade das mulheres em uma sociedade majoritariamente machista e opressora, que cobra, exige, sem ter o direito para tal.
Rose deseja apenas ser dona de suas decisões, dona de seu corpo, com o direito de decidir sobre ser ou não ser mãe. E quem cobra dela a “obrigação” de gerar uma nova vida, são o marido, que trabalha a maior parte do dia e já deixa claro que Rose deverá passar a dedicar a vida em torno da cria, e os pais dele, que pensam que um casamento sem filhos não tem sentido, ou mesmo que uma relação sem filhos não tem como se manter.
Nas nove vidas, lemos como Rose se mantém firme nas suas convicções, nos seus desejos, de como encontra suporte no pai e na mãe, de como descobre que pode ser feliz com outra pessoa, ou mesmo sozinha, e de como, caso deseje, pode criar amor por uma filha. Mas, infelizmente, algumas vidas demonstram como podemos ser destruídos quando cedemos às exigências de outras pessoas, de como ao seguirmos aquilo que não queremos, podemos nos tornar pessoas frustradas ou mesmo caminhar para uma vida sem propósito e sem alegria.
É particularmente triste ler como Rose apenas queria ser feliz com o marido e com sua profissão, mas não consegue na maioria das vidas, porque ele se julga mais importante, ele se comporta como se sua opinião e sua vontade fosse mais importante do que a de quem vai gerar seu filho. É aquele comportamento de posse, do homem que vê a mulher como um objeto de suas vontades, de submissão, de uma mulher que precisa abrir mão de sua individualidade para que o homem seja feliz. E desperta muita raiva como esse comportamento é incentivado e protegido pelos pais de Luke, que não gostam de Rose, exatamente porque ela é independente e não aceita as vontades deles e nem do filho deles.
AS NOVE VIDAS DE ROSE NAPOLITANO entrega nove histórias sobre maternidade, liberdade, lealdade, traição, felicidade, tristeza, vida e morte. Demonstra como através de simples decisões, nossas vidas podem mudar totalmente de direção. Como a pessoa que pensamos amar, pode ser possessiva e egoísta. Mas, acima de tudo, deixa claro como é importante amarmos a nós mesmos primeiro, confiar mais naquilo que desejamos, porque ir contra isso, não trará nenhum resultado feliz. Uma história forte, poderosa, sobre liberdade de escolhas, liberdade de ser mulher e poder escolher seu destino sem se basear nas escolhas machistas e opressoras dos outros.
AUTORA: Donna FREITAS
TRADUÇÃO: Lígia AZEVEDO
EDITORA: Paralela
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 344
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