Jonas não sabe muito bem o que fazer da vida. Entre suas leituras e ideias para livros anotadas em um caderninho de bolso, ele precisa dar conta de seus turnos no Rocket Café e ainda lidar com o conservadorismo de seus pais, sua mãe alimenta a esperança de que ele volte a frequentar a igreja, e seu pai não faz muito por ele além de trazer problemas.

Mas é quando ele conhece Arthur, um belo garoto de barba ruiva, que Jonas passa a questionar por quanto tempo conseguirá viver sob as expectativas de seus pais, fingindo ser uma pessoa diferente de quem é de verdade. Buscando conforto em seus amigos (e na sua história sobre dois piratas bonitões que se parecem muito com ele e Arthur), Jonas entenderá o verdadeiro significado de família e amizade, e descobrirá o poder de uma boa história.

UM MILHÃO DE FINAIS FELIZES tem uma narrativa dosada que leva o leitor a passar por emoções diferentes a cada capítulo. Partes engraçadas se misturam com trechos sérios, reais, que se misturam com outros dramáticos e tristes. Mas tudo com um equilíbrio competente, resultado das experiências que o personagem principal e os secundários, vivenciam, numa caminhada de conflito, amadurecimento e aceitação.

O foco da história é em Jonas e na sua paixão por Arthur, o tal rapaz de barba ruiva. Mas como seguir com esse romance, se seu pai é a pura representação do machismo e intolerância, enquanto sua mãe é uma religiosa fervorosa? Mãe e pai só conhecem um Jonas que gosta de meninas e que vai à igreja. O verdadeiro Jonas, o real Jonas, só aparece quando está fora de casa, no trabalho, na roda de amigos. Destaque para as conversas entre Jonas e sua mãe, sobre religião, e para o desfecho desse impasse.

Alguns personagens secundários possuem histórias paralelas igualmente bem estruturadas, como Daniel, um rapaz negro que foi adotado por um casal branco. Obviamente sofre racismo da sociedade, que acha estranho dois brancos terem um filho negro, e da própria família dos pais adotivos. E Karina, a melhor amiga de Jonas, uma atriz talentosa, mas que perde chances e mais chances devido ao fato de a considerarem acima do peso. Tudo narrado com grande sensibilidade e responsabilidade.

UM MILHÃO DE FINAIS FELIZES descreve situações reais, coisas que um olhar atento consegue captar no dia-a-dia das ruas, nos shoppings, no trabalho, em qualquer lugar. O cenário é a cidade de São Paulo, e o livro é recheado de descrições de locais que devem ser de fácil identificação para quem mora lá. Infelizmente, para todos os outros, não traz qualquer interesse de reconhecimento. Entretanto, agrega um imenso valor pelo fato de ser um local que existe, e isso acrescenta aquela sensação de verdade necessária para o tema.

A mensagem final é construída com maturidade. A maioria das pessoas que enfrentam algum tipo de preconceito, não vivem ou convivem em ambientes seguros, onde elas podem ser quem realmente são. Elas precisam fingir, precisam representar papéis que retribuam o espero por uma sociedade machista, racista, homofóbica, com padrões de beleza e comportamento irracionais e cruéis. Para não fingir, muitas vezes precisamos abrir mão. Abrir mão de parte da família, abrir mão de amigos, abrir mão de oportunidades profissionais. Precisamos lutar mais do que o padrão, até encontrar o nosso local. Mas esse local existe, ninguém está sozinho. O desafio é conseguir forças até encontrar.


AUTOR: Vitor MARTINS
EDITORA: Alt
PUBLICAÇÃO: 2018
PÁGINAS: 352


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