No ano de 2257, Kira é uma xenobióloga que seguiu seu sonho e foi atrás de descobrir novos mundos, tornando-se uma exploradora de planetas não colonizados. Durante uma missão de pesquisa de rotina, Kira encontra uma relíquia alienígena. A princípio, ela fica maravilhada com a descoberta, mas logo esse sentimento se transforma em terror. Depois de cair em uma câmara no meio de um planeta desconhecido, a poeira ao seu redor começa a se mexer. Em poucos segundos, a poeira cobre todo o seu corpo, com exceção do rosto, e revela ser na verdade um ser alienígena simbiótico, com a capacidade de tomar a forma que precisar para se defender e atacar.

O custo para essa descoberta acidental é alto. Além da tripulação da nave de Kira morrer, inicia-se uma guerra espacial entre os humanos e duas outras raças desconhecidas, que, aparentemente, desejam a posse do ser ligado ao corpo de Kira.

Conforme o ser se adapta ao corpo de Kira, é formado um elo mental que permite que se comuniquem. O nome mais próximo ao nome original do simbionte é Lâmina Macia, o que condiz com sua capacidade de criar espetos mortais, além de lâminas compridas que podem cortar uma pessoa ao meio. Ele protege Kira de qualquer ataque, além de acelerar a cura de qualquer ferimento que Kira venha a sofrer.

Algo assim, desejado por diferentes espécies a ponto de se iniciar uma guerra, precisa ser compreendido. Mais do que isso, é necessário descobrir quem criou Lâmina Macia e com qual objetivo. É atrás dessas e outras respostas, que Kira começa uma jornada pelo universo ao mesmo tempo em que tenta se manter a salvo da guerra que eclodiu.

DORMIR EM UM MAR DE ESTRELAS é uma ficção-científica pura, raiz, que se preocupa em explicar cientificamente, dentro dos limites do nosso conhecimento, como tudo o que acontece na história poderia ser possível. Todos os seres alienígenas, todas as naves, todos os planetas, até mesmo a força de navegação, que permite viagens entre sistemas solares, possui uma explicação. Nada é apenas por ser, e essa é a principal diferença entre uma ficção-científica e uma fantasia.

Quem conhece a escrita de Christopher Paolini, da série de livros de fantasia de ERAGON, irá reconhecer todo o estilo do autor para os detalhes, para os diálogos sem pressa, para as descrições tão próximas da realidade, que convencem o leitor de que todos os lugares pelos quais os personagens passam, podem existir. Paolini não se preocupa com quantidade de páginas, é nítida a intenção dele em construir algo crível, algo que seja quase palpável.

Eu não sei se poderia dizer que Paolini é prolixo em DORMIR EM UM MAR DE ESTRELAS. São mais de 800 páginas, então, sim, seria fácil cortar várias coisas para tornar o livro mais rápido de ser lido. Entretanto, a experiência não seria a mesma, não seria tão completa e imersiva. Eu senti que Paolini não conta apenas uma história, ele se diverte contando uma história. E isso é perceptível nos vários trechos mais parados entre os trechos com mais ação, como se fossem as fases de um jogo, que começa mais lento até atingir a ação, e depois volta a ficar lento, à espera do próximo chefão. É nessas partes mais lentas que Kira interage com diversos personagens, de diferentes culturas, diferentes mundos, e os diálogos são todos tão elaborados, tão cheios de informação, que são deliciosos de acompanhar.

Não para por aí: Paolini apresenta mapas galácticos, glossários, diagramas que demonstram como seria possível viajar entre mundos. Claro que, hoje, isso ainda é impossível, mas durante a leitura, eu realmente acreditei na possibilidade, e isso é algo que eleva a experiência da leitura desse livro a um patamar mais alto.

Kira não é apenas a personagem principal, ela e Lâmina Macia são o centro de todo o conceito de DORMIR EM UM MAR DE ESTRELAS. Os dois evoluem, criam confiança, crescem como personagens, e sentimos todo o pesar daquilo que perdem pelo caminho, não apenas materialmente, mas todos as relações emotivas destruídas pela guerra e pela fuga para se manterem vivos.

DORMIR EM UM MAR DE ESTRELAS é um evento que contém o melhor do gênero ficção-científica. É uma leitura para ser feita com calma, sem pressa, para possibilitar a apreciação da complexidade dos detalhes e da vida que o autor cria no seu universo. Quando for ler, não pule nada, navegue pelos adendos, observe todos os mapas, se perca no meio de uma galáxia infinita de vida e de aventuras.


AUTOR: Christopher PAOLINI
TRADUÇÃO: Ryta VINAGRE
EDITORA: Rocco
PUBLICAÇÃO: 2021
PÁGINAS: 832


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